quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quero Photoshop em spray, já!

Depois de post anterior em que falei sobre pensar demais, continuei pensando: caramba, é mesmo, a gente pensa, pensa, pensa muito e bem além da conta... E é por isso que, de repente, acaba complicando tanto o que deveria ser simples. Mas também pensei que, às vezes, no fundo, viver matutando tem como objetivo exatamente o contrário, ou seja, facilitar o que a vida cruel trata de tornar tão difícil. Pensando bem, tem um montão de coisas que, se existissem de verdade, seriam muito úteis e facilitariam tremendamente nossas vidas.
Nas minhas divagações já imaginei, por exemplo, como seria sensacional se alguém inventasse o Photoshop em spray. Raciocine comigo no tempão que se ganharia com isso. E avalie que resultado espetacular! A mulher pularia da cama e não precisaria nem pentear os cabelos. Bastaria uma vaporizada generosa e pronto. De mocréia (sim, a atriz Rosanna Arquette, sem aquele trato todo, é bem trubufuzinha, viu homens?) num segundo se transformaria numa fofa. Adeus cremes anticelulite, antisinais, antibaranguice! Olho azul num dia, verdinho no outro... Ruiva de manhã, morena depois do almoço... As mais prejudicadas poderiam aposentar de vez aquela cinta que esconde a barriga e transforma os intestinos em panqueca. De carona iria pro lixo também a calcinha - bizarra - com bunda de espuma. Se eu gostaria de me consertar inteirinha com esse spray? Ô, ma nem! E haja tubos... Genericamente falando, a coisa anda meio brava por aqui, sabe? Já cheguei a pensar também que toda pessoa que se aproxima da gente podia muito bem vir acompanhada de trilha sonora incidental. Assim, logo daria pra saber se é gente boa, se está com humor legalzinho... O elemento vindo na sua direção e, antes que abrisse a boca, a trilha já iria revelando quem ele é ou como está naquele momento. Sendo chave de cadeia ou tendo acordado com o ovo atravessado, logo emitiria um som típico (e você, nada besta, conseguiria vazar rapidinho antes da criatura nefasta chegar perto, claro).
Já minha irmã andou pensando sobre algo que facilitasse seu trabalho no pet shop. Gostaria que inventassem um spray que deixasse o cachorro paralisado temporariamente, só até que o serviço de embelezamento fosse terminado. Assim tornaria desnecessária a colaboração espontânea do bicho, coisa praticamente impossível sem o uso desse produto revolucionário.
Minha dentista, por sua vez, me disse que pensou em como seria maravilhoso poder tirar a boca inteira do paciente pra fazer o tratamento. Paciente lá fora, esperando, e ela dando aquele trato nas panelas, sem precisar fazer malabarismos, nem ouvir conversa mole nos momentos em que o dono da boca fica liberado pra falar. Hum... Não sei não... Agora é que eu fiquei pensativa pra valer. Será que foi uma indireta... PRA MIM??? Ai, ai, ai, ai-ai!... Mas que safada!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vale a pena pensar tanto?

Acho que tem umas horas em que pensar demais atrapalha. Porque nos impede de assumir riscos que podem ser determinantes para evoluir, fazendo desaparecer oportunidades que exigem decisões rápidas, para as quais o tempo não voltará jamais. É claro que pensar bem, muitas vezes, nos livra de belas "furadas". Hoje, por exemplo, achei engraçada a atitude de um repórter do telejornal Fala Brasil da Record, que fez uma matéria sobre o Cazaquistão e foi convidado a degustar uma deliciosa (!?!) carne de cavalo. O cara mandou um pedaço goela abaixo e demonstrou que não era ruim. Disse que é uma carne bem parecida com a bovina, portanto até normal. Mas finalizou a matéria dizendo: "A carne é boa, mas não vou repetir não. Sabe por que? É que não consigo parar de pensar no cavalo!". Bom, normal. O cavalo é tão simpaticão! Acho que é dessa mesma forma que pensam os indianos quando ficam sabendo que a gente come carne de boi, né? Mortificados. Aliás, por mim, prefiro sempre imaginar que o bife é um material sintético e que não saiu de um bicho que precisou morrer pra minha barriga ficar cheia. Sou daquelas pessoas que não comem se a cabeça do bicho em questão estiver à mostra, por exemplo. Leitãozinho à Pururuca? Só cobrindo a cabeça do porquinho. Peixe assado? Aquele olho de peixe morto (literalmente) arrasa comigo. Começo a divagar, como se tivesse a maior intimidade com a criaturinha... Puxa, o porquinho não poderia continuar todo serelepe no chiqueirinho dele? E o peixe, nadando livre e leve nas profundezas do mar sem fim? E bucolicamente vou pensando, pensando... Isso me fez lembrar também de um episódio que quase me bota pra fora de um restaurante a pontapé, junto com minha irmã. Comida por quilo, lá estamos nós na filinha pra pegar as coisas. Ela estava na minha frente e eu, só observando o que ela pegava (oras, preciso olhar, né? Vai que ela pega uma coisa que eu não peguei e me dá vontade depois?). De repente ela cata uma carne com aspecto apetitoso, aí logo pensei: "Ah, vou pegar também!". Mas, ao ler a plaquinha (sim, eu ainda enxergava naquela época), desisti. Fomos pra mesa e ela começou a comer com gosto. - E aí, tá gostosa essa carne? - Tá uma delícia! Você não pegou? - EU NÃO! - Ué, por que? Tá tão boa! - Você viu que carne é essa? Leu a plaquinha antes de pegar? - Não, ué... Por que, hein? É carne de quê? - De cordeiro. - Hum!... Que que tem? Tá boa! (vejo que o mesmo pedaço começa a dançar na boca da madame... mastiga, mastiga, mastiga... e nada de engolir) - Ai, socorro! NUNTOGUENTANDOMAIS!!! (e tira o pedaço de carne da boca, já branco de tanta lavada). - Ué, não tava tãããão gostosa? - Ai, não dá!... Na minha cabeça só fica CORDEIRO, CORDEIRO, CORDEIRO! Bom, a partir daí explodimos de rir e não havia meio de parar. O japa, dono do restaurante, já estava olhando torto pra nós. Por pouco não nos escurraça de lá. Por essas e outras é que vejo o poder imensurável que tem um pensamento. O mais curioso é que a gente permite que ele seja poderoso quase sempre quando se trata de algo negativo, né? Pode ver, através do pensamento fixo e pra baixo, sequer provamos comidas com as quais não estamos acostumados, podemos agravar (e até adquirir) uma doença, ficamos deprimidos, estagnamos para o mundo. Pensamentos de preocupação, raiva, medo e repulsa são forças destrutivas para nós mesmos, até mesmo para os outros, que na minha opinião podem receber essa energia ruim, estejam onde estiverem. Isso acaba com a harmonia, a vitalidade e a habilidade de agir de qualquer um. De tanto pensar morreu um burro! Encucar demais faz com que a gente confunda a realidade com o imaginário. A partir daí passamos a considerar um simples olhar, uma palavra, enfim, alguns poucos segundos de qualquer coisa, como justificativa para o nosso fracasso ou por nossa forma intransigente de ser. Cria-se ao redor desse dado inconsistente uma sequência de pensamentos que nos transformam em vítimas de situações que muitas vezes nem são reais. E remediar isso depois nem sempre é possível, porque enquanto perdemos tempo com pensamentos que distorcem a realidade, podemos estar afastando eternamente das nossas vidas pessoas e possibilidades insubstituíveis. Também tem o lado inverso, quando a partir de pensamentos criamos uma vida paralela, muito mais emocionante e dinâmica que a vida real. Porque a imaginação não tem fronteiras e nos permite viver e ser o que a gente quiser. Criamos historinhas deliciosas e vivemos ansiosos pelo próximo capítulo, chegando a nos aborrecer quando alguém nos interrompe nesses devaneios. É chato ser importunado pelo que é concreto. Mas depois pode ser ainda pior ter que dar conta do que abandonamos em função do prazer fictício, caso a gente perca totalmente o senso da realidade. A vida vem me ensinando que não dá pra ser radical nem mesmo com nossos pensamentos, tudo exige equilíbrio. É claro que refletir sobre as coisas é elementar, não se deve negligenciar consequências, nem deixar de planejar as ações, porque a vida, dessa forma, se torna o caos. Mas acho que em algumas circunstâncias o melhor é viver o momento e pronto, sem muita encanação. Ser feliz ou não, sempre é uma simples questão de escolha.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Coragem é coisa de homem?

Hoje minha dentista caprichou nas cutucadas. Logo que cheguei a sádica foi logo avisando: "Vou precisar fazer um afastamento de gengiva e é possível que tenha que aplicar anestesia, tá?". Ok, fazer o quê? Já me acostumei com as atrocidades que a réproba (ela mereceu essa!) comete com a minha pobre pessoa. E lá vai ela, com aquele ganchinho de torturadora da inquisição e olho brilhando de satisfação pra arregaçar minha gengiva até o cérebro. E quer saber da melhor? Sem anestesia, tá legal? Porque comigo é assim, sem mais mais. Aliás, segundo a dentista, geralmente as mulheres suportam melhor do que os homens qualquer tratamento, eles quase sempre dão uma trabalheira danada. Novidade!... Coragem é coisa pra quem tem "m" maiusculão. É isso aí, "m" de MULHER. Porque homem pode até ser valentão na hora de matar uma barata com o pé (que nojo!), pegar um sapo com a mão (argh!) e até sair no braço se preciso for. Mas cadê que aguenta dor? Aliás isso foi muitíssimo bem representado no filme "Se Eu Fosse Você - 1", na cena hilária em que Tony Ramos, no corpo da mulher, se acaba com cólicas menstruais. Ah, homens... Tsc, tsc, tsc! O ponto crucial, no entanto, acho que tem a ver com os relacionamentos. Você conhece algum homem bem objetivo quando se trata de terminar uma relação? Aquela frase bem simples - Olha, não dá mais, está tudo acabado entre nós - em geral é coisa que só mulher diz objetivamente, ainda que não seja com prazer. Porque se depender do bonitão, haja clarividência pra sacar exatamente o que se passa pela cabeça do infeliz. E dá-lhe desculpa esfarrapada, tipo essas: "O PROBLEMA NÃO É VOCÊ, SOU EU." Essa é sen-sa-cio-nal! Em geral é complementada por "Você é maravilhosa" (!!!) ou "Você merece alguém melhor do que eu" (ô se merece!) "NÃO SEI O QUE SINTO POR VOCÊ" Tá legal, dúvida pode acontecer com todo mundo e em qualquer situação, mas é com conversa mole que se esclarece isso? E a chave de ouro pra elucidação desse mistério precisa ser o indefectível pé na bunda? Fala sério! Pra não ser radical e classificar esse tipo de comportamento como covardia brava, pegarei leve, dizendo que não passa de falta de coragem. Homens têm horror a enfrentar dramalhões e choradeira, então, antes dos sumiços fatais, preferem "contornar" a situação na base da ilusão. O que eles não percebem é que, com isso, apenas empurram o problema com a barriga, além de serem extremamente cruéis. Deixam eternamente em aberto diversas possibilidades, entre as quais se não valeria a pena continuar tentando pra ver se ainda pode dar certo ou a maldita sensação de culpa por parte de quem levou o pé, numas de "Puxa, ele é tão bacana... Onde foi que EU errei?". Ora, não é muito mais fácil ter culhão e dizer com todas as letras e pingos "estou terminando porque percebi que NÃO GOSTO MAIS DE VOCÊ"? A príncipio isso parece duro demais, só que é a única maneira de resolver a situação definitivamente. Porque elimina qualquer esperança e abre caminhos pra ambas as partes seguirem em frente de uma vez. Se a pessoa que levou o pé vai entender dessa forma ou não, é problema dela. Se prefere continuar iludida e perder tempo com algo evidentemente sem volta, será também uma escolha dela. É óbvio, no entanto, que isso deve ser feito objetivamente, mas com a delicadeza e respeito que a outra pessoa e os momentos que partilharam juntos merecem. Sem estupidez, mas com firmeza e convicção, o ponto final acontece sem maiores dramas, pode acreditar. E é só assim que o tal "mas não quero perder sua amizade" se concretiza de verdade um dia, porque pode até demorar, mas o sofrimento pela separação será certamente superado. Só que deslealdade por covardia não se supera jamais. É por essas e outras que prefiro encarar um cafajeste assumido, com selinho holográfico e carimbo do INMETRO, do que queimar a mufa desvendando os mistérios de um pseudo-bonzinho-bananão. Caramba, cutuquei mais que a dentista, lá vem pedrada! Hum, que venha... Coragem pra encarar não me falta não. Ah, só um lembrete: esta postagem é só um ponto de vista MEU - despretensioso e sem o menor embasamento psicológico - e não tem nada a ver com ninguém especificamentre, tá? É bom avisar, senão, gueeeeenta!

sábado, 15 de agosto de 2009

Um humor do cão!

Já há um tempinho anda me dando uma síndrome de bebê e troco o dia pela noite. Bom, se pensar bem, com velhinhas também acontece isso... Seja lá pela razão que for, não está nada fácil acordar cedo e o resultado, no final do dia, é um humor do cão. Ontem, especialmente, a mistura foi bombástica: TPM + sono = nitroglicerina. E sai de perto! Oras, custa o mundo adivinhar meu estado de espírito e colaborar pro meu dia ser menos cruel? Ah, lógico que é pedir demais!... Aí lá fui eu, me preparar pra batalha logo cedinho. Respirei uma, duas, mil vezes... Entoei mantras indianos mentalmente. Pulei da cama com o pé direito, fiz o sinal da cruz, bati na madeira. Fui pro banho levando um pote de sal grosso, nessas horas toda mandinga é bem-vinda. Um frio de lascar, haja coragem pra entrar no chuveiro. Ufa, água quentinha e gostosa, presságio de que o dia certamente não seria tão ruim. De repente, a campainha toca. Bééé... Bééééé... Béééééééééééé! Caramba, quem será a essa hora? E com um maldito dedo duro, que não desgruda do botão? Interrompo o banho e corro pra me enxugar. Arre, esqueci a toalha no quarto! Saio pingando e tremelicando de frio. Béééé... Béééééé... Bééééééé... Pô, a pessoa não desiste, deve ser algo gravíssimo. Me visto correndo e saio esbaforida, com a blusa do avesso. Abro e porta e dou de cara com o... VENDEDOR DE VASSOURAS! Às 8 da matina! Injúria! Blasfêmia! Apocalipse final!!!! - Oi dona! Vai vassoura hoje? - Não, obrigada. (Com o dente rangendo de ódio, por ser quem era numa hora dessas e por me chamar de dona, miserável!) - Mas tá baratinho, uma por 25 real. Se levar duas, faço por 40 real. - NÃO, o-bri-ga-da. - Tem espanador de pruma de avestruz também. Esse é bão, grande... Só 15 real! - NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO!!!!!!! (Cabeça já explodindo com o estardalhaço que minhas cachorras faziam por causa do homem e suas vassouras) Respira, respira Tânia... Ânimo, nada poderá ser pior que isso. Tá, fui em frente, o dia só estava começando. Cumpri meus compromissos mais importantes sem contratempos. Legal, me deu ânimo até pra fazer umas comprinhas e me mandei pro supermercado. Fila no açougue. Ai, fico ou não fico?... Detesto fila! Fico, vai. Na minha frente, uma senhorinha com cara de cilada. O atendente avisa: "Próximo!" e a tal senhorinha nada... "Próximo!" - a mulher é surda, imagino. Cutuco a dona (ah, eu é que não ia levar um "dona" sozinha não!) e mostro que chegou sua vez. - Bom dia senhora! O que vai levar? - Huuummm... Deixa ver... Me vê aí uns bifes de alcatra. Bem fininhos, viu? Um quilo. - Tá bom assim, senhora? - Huuummm... Mais grossinho um pouco. - E assim, tá bom? - Huuummm... Ah, vai assim mesmo. Passa na máquina. - O que mais, senhora? - Ahhh, acho que mais nada... Pera!... Deixa ver a cara do coxão duro. (Putz, coxão duro tem cara?!?) - Pronto. - Huuuummm... Mas a peça tá no começo, não vou levar não. - Certo, é só? - Só. Ai... Acho que... Pera, me vê aí um quilo de moída de primeira também, vai. Mas deixa ver a carne primeiro. Huuuummmm... Tem um pouquinho de gordura, né?... Huuummmm... Ah, dá essa mesmo, vai, pode moer. Mas passa duas vezes na máquina, viu? (Socorro!!!) - Mais alguma coisa, senhora? - Não, é só. Pera!... Me vê aí uns seis gominhos daquela linguiça ali... Não, essa não, pera... Aquela outra é muito apimentada?... Não tô podendo com pimenta... Poblema na visicla. Ah, dá daquela outra mesmo, vai. (Cheeeeeeeeega! Quase pulo o balcão, cato o cutelo do açougueiro e opero a visicla da malinha ali mesmo!) Prestes a sofrer um ataque cardíaco, terminei as compras e me dirigi ao caixa... Mais fila, claro... Mais dona indecisa, lógico... E mole. Mole de dar sono. Carrinho lotado e vai um produtinho de cada vez pra cima do caixa. Mercadorias registradas e um montanha de coisas entupindo o outro lado, nada foi colocado nas sacolinhas. Produto sem preço, coisa que ficou faltando e ela foi buscar, papo com a atendente sobre um shampoo novo e sensacional, cartão de crédito com problemas... Ah, não!... Isso já virou brincadeira de mau gosto! Ufa! Mas nada como um dia depois do outro. Sabadão de sol, final de semana só começando, promessa de muita alegria, sossego e... Sossego??? PAGODÃO o dia todinho, isso sim. Onde? No clube que fica nos fundos da minha casa. Em zinzilhões de decibéis. Alternado por um karaokê infernal, com interpretações pra lá de duvidosas, em repertórios que não ouço nem com os cantores originais. Como é que pode, my God?! Taquelavida, uns e outros por aí têm razão... Tô ficando velha mesmo!

sábado, 8 de agosto de 2009

Sou mais velha que meu pai. Pode?!

Fim dos estoques de camisas, camisetas, gravatas, meias e cintos... Amanhã é Dia dos Pais. Deixando de lado o apelo comercial da data, a ocasião é bem especial. Por ser mulher e mãe, algumas vezes me pego considerando a paternidade como algo secundário. É que nós, mulheres, sempre temos a impressão de que gerar o filho dentro do nosso próprio corpo nos torna mais importantes, estabelece um vínculo que os homens jamais terão com suas "crias". É claro que há pais ausentes e outros, que mesmo presentes, negligenciam a relação com seus filhos. Mas há aqueles que são especialíssimos e imprimem marcas eternas na vida de todas as gerações que surgem a partir deles.
"O que as grandes e puras afeições têm de bom é que depois da felicidade de as ter sentido, resta ainda a felicidade de recordá-las."
(Alexandre Dumas)
Nesta foto de 1964 estamos eu (à esquerda; uma prova de que minha cara de Zeca Pagodinho sempre existiu), meu pai, minha irmã Elaine e meu irmão Eduardo. Acho que esta é a foto mais representativa que tenho do meu pai, porque resume tudo o que ele foi pra nós.
Dentro da sua simplicidade, meu pai foi a pessoa mais intensa que já conheci na vida. Tudo com ele se transformava em muito... Ria e todo mundo ria junto. Chorava e todos choravam também. Não havia cansaço que o impedisse de estar inteiro em tudo o que fazia. Um dia exaustivo de trabalho, incluindo as fundamentais horas extras, não o impediam de dar e receber com prazer o carinho de cinco filhos, aos quais sempre tratava sem distinção e com atenção total. Como se não fosse suficiente estar sempre atento à prole numerosa, ainda arranjava tempo pra se divertir, inclusive de maneiras bastante curiosas. Se enfiava em aldeias indígenas, saboreava carne de macaco, tatu, cobra e outros bichos inimagináveis... Não sabia nadar, mas quem segurava o homem? Piscou e lá estava ele, pescando em alto mar... Jogava xadrez e baralho, me ensinando, inclusive, truques importantíssimos pra dar uma roubadinha iludida básica nos adversários... Era doador habitual de sangue, participava com regularidade de tribunais compondo o juri, fazia peças maravilhosas de metal com seu talento de exímio ferramenteiro/torneiro mecânico. Tocava bongô!... Era, acima de tudo, solidário ao extremo. Chorava (mesmo) com a miséria alheia e dava o que tivesse de si pra melhorar a situação de quem o procurasse. Era humano, enfim.
Como pessoa especial, sua despedida também não poderia ter sido comum, é claro. Numa manhã de sábado, aos 38 anos, ele saiu pra pescar com amigos e não voltou mais. Encontrou o fim da linha na estrada. Por ter sido tão peculiar, me deixou com uma lembrança que a cada dia se torna mais engraçada: meu pai será pra sempre um cara mais novo que eu. Nem que eu me esforce consigo imaginá-lo com cabelos brancos e rugas. Meu pai não. Ele foi, é e sempre será um sujeito dinâmico, cheio de vida e eternamente jovem.
Amanhã eu não poderei lhe dar um presente. Mas tenho certeza de que pra ele não haveria presente melhor do que saber que sua passagem pela minha vida fez toda a diferença. Que por causa dele jamais me esqueci de princípios fundamentais como lealdade, amizade e solidariedade. Que com ele aprendi que quem curte a vida com a intensidade que ela merece, vive de verdade, não existe simplesmente. E que, justamente por ele ter sido uma pessoa tão especial, não houve um dia sequer (nenhunzinho, de verdade) durante os últimos 36 anos que eu não me lembrasse dele com admiração, orgulho, amor e muita saudade. Quantas são as pessoas que depois da morte continuam tão vivas? Não estou dizendo que o homem era do balacobaco? O que me conforta é a certeza de que um dia a gente vai se ver de novo.
Um grande beijo pra todos os pais!