quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Melhor idade é o escambau!

Odeio a maldita expressão "melhor idade", geralmente dita por quem ainda tem muita lenha para queimar. Taqueopariu, mas desde quando é uma delícia ficar velho?

Tá legal, virão correndo os politicamente corretos e exageradamente otimistas com a (também) velha ladainha de que a vida começa aos 50, 60, 70 (!!!), que o que importa verdadeiramente é a idade do seu espírito, que há um montão de gente novinha que parece velha e vice-versa... Uhhh! Cata o violino!

O que eu sei, MESMO, é que envelhecer é uma bosta. Lógico que tem a vantagem de ficar mais experiente  - pelo menos ISSO, né?! - e que nos tornamos, finalmente, donos dos próprios narizes (que, por sinal, vão ficando mais largos e maiores com o tempo), aprendendo a não levar desaforo pra casa. Que mais tem de bom? Hum... deixa ver... Ah! Chega o tempo em que dá para pegar senha especial para atendimento em banco, utilíssima, já que se tiver que esperar, morre na fila. Tem também vaga exclusiva nos estacionamentos, sempre pertinho das entradas dos lugares... E se não tiver carro, anda de graça no busão! Tudo muito digno e merecido, sem dúvida.

Aliás, por falar em transporte público, depois de um tempão andei de metrô outro dia. O vagão estava quase vazio e eu, desatenta, sentei no primeiro lugar que encontrei. Era uma vaga para idosos. Imediatamente apareceu uma funcionária do metrô na janela e me pediu para trocar de lugar. Olha isso, ela logo viu que aquele não era lugar para mim! Mocinha do metrô, AILOVIUPAXUXU!!!

Ando meio encanada com a ação do tempo no meu ser. Uma prima apareceu por aqui com um montão de roupas lindíssimas que está vendendo agora. Primeiro mostrou uma blusinha maravilhosa, com um babado rendado na lateral. Tá doida? A essa altura do campeonato preciso de algo que disfarce a tala larga, não que a faça berrar por aí.

- Ah, mas dá uma olhada nesse vestido. É a sua cara! Um tomara-que-caia chiquérrimo!

- Ai, ai, ai!... Não tem tomara-que-suba aí não? A torcida aqui já é outra há séculos, minha filha!

Engraçado que, quanto mais o tempo passa, mais recatadinha a gente vai se obrigando a ficar. Houve uma época - há trocentos anos atrás -  em que eu usava até minissaia, embora não gostasse muito. É que sempre tive pernas grossas, o que fatalmente me deixava boazuda além da conta. Aí os anos foram passando e o comprimento da saia, proporcionalmente, aumentando... Tudo bem, o que é um parzinho de pernas para quem tem "saboneteiras", costas e ombros maravilhosos para exibir? A gente mostra o que tá bacana, não é não? Bom... Meu guarda-roupa já começou a ficar entulhado de golas olímpicas. Ah, mas vamos combinar que minha cara ainda até que tá... Baraio! Será que vou precisar me converter ao islamismo? Não demora nadinha e só me resta a burca. Aff!
 
Tem gente que consegue deixar o tempo passar tranquilamente, porque, na verdade, é atemporal. Pessoas que não inspiram tratamentos cerimoniosos  - pelo menos não de quem as conhece -  por serem muito desencanadas e maluquetes por natureza. Um bom exemplo é a Rita Lee. Podem até a chamar de "vovó do Rock", mas duvido que alguém consiga dizer "Dona Rita Lee" para ela. Outro que é assim é o Tom Zé. Vê lá se "Seu Tom Zé" combina com ele. Na vida real conheço uma doida assim. É a Rose, minha amiga há zinzilhões de anos, para quem certos tratamentos também não cairiam bem. É insólito imaginar alguém a chamando de "Tia Rose", por exemplo. Até porque, a madame é dona de uma "delicadeza" bastante peculiar, que faz o povinho mais jovem se divertir e se identificar bastante com ela. Já comigo!... É senhora daqui, dona de lá... É o preço de ser ranzinza. Gente fiadaputa! 

Enfim, fora a parte ruim (99,99%), é claro que também há uma certa poesia nas marcas que o tempo vai deixando. Segundo Platão, se o ser humano for prudente, a velhice não constitui nenhum peso e traz um sentimento de paz e de libertação. Ainda assim, prefiro a constatação mais realista do escritor irlandês Jonathan Swift: "Todos desejam viver por muito tempo, mas ninguém quer ser velho".

Filosofando ou não, vou contar um negocinho: a idade começando a pesar no cangote é dose. E, a julgar pela longevidade da minha avó, uma autêntica highlander, que atualmente tem 97 anos e já se tornou tataravó até, vou ter que me acostumar com a ideia e encontrar beleza nisso de qualquer maneira. Ô complicação da gota!

Mas que a tal da "melhor idade" me deixa furiosa, deixa. Equivale a dizer que uma pessoa que esticou as canelas foi para um lugar melhor. Se é tão melhor, o hipócrita que segure o rojão, oras bolas! Passo a minha vez, numa boa.

Ah, e antes que alguém me alerte que só gente jurássica diz "é o escambau", aviso logo que não dá pra ser muito moderninha no quesito. Afinal, uma mocinha -MOCINHA, ok?-  de fino trato como eu jamais escreveria "é o cacete". Isso é feio pra caral... ops!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Refém de um manipulador


Bem interessante um dos comentários que recebi na postagem anterior: "Estou começando a achar que as canoas furadas vem embutidas com algemas e mecanismos de lavagem cerebral também...", uivou com muita propriedade meu querido e sábio leitor Lobo Cinzento.

Isso me fez lembrar que por trás de quase toda burralda sempre há um jumento descompensado dominando o pasto. Chegou a hora de falar também sobre o outro lado da história, onde atitudes manipuladoras e cruéis ditam o ritmo de um relacionamento destrutivo.

Num determinado momento a ficha cai e você percebe que está vivendo uma relação absolutamente unilateral. Dar sem receber, falar sem ser ouvida, amar sem ser amada... É doloroso viver a tal "solidão a dois". Nem tanto por saber que o outro jamais a completará, mas principalmente pela indiferença e total desprezo em relação às suas expectativas. É ser ignorada e totalmente abandonada à própria sorte na presença de alguém.

Quando isso acontece, parece muito fácil perceber que as coisas não irão melhorar, muito pelo contrário, é previsível que ficarão cada vez piores. Mas para quem tem a infelicidade de topar com um maluco, nem sempre é tão simples assim. Primeiro porque, como falei na postagem anterior, sempre prevalece a ilusão de que com a gente, tudo será diferente. Mas acho que o maior problema, mesmo, está nas tais "algemas" que, sem perceber, a gente acaba permitindo que o outro coloque. É bem a junção da fome com a vontade de comer: de um lado uma pessoa carente pelas mais diversas razões e, de outro, um manipulador terrível, que não sossega enquanto não provocar um belo estrago.



Paixão vapt

De repente a desavisada começa a se relacionar com um elemento que é craque em manter aparências. A primeira providência dele é se mostrar absolutamente confiável e, para tanto, lança mão de várias informações reais a seu respeito. Logo diz onde mora, onde trabalha, que tipo de vida leva, enfim, supostamente se mostra como é, começando a construir, assim, a ilusão da completa sinceridade. Sua grande habilidade está em enganar com uma falsa percepção a respeito de si mesmo.

"Você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir..." (Caetano Veloso)

Quem o olha de fora não diz, mas ele sabe ser extremamente sedutor. Como quem não quer nada, o sujeito usa e abusa do grande instinto de observação que tem, captando rapidamente suas preferências e necessidades, iniciando aí o terrível jogo da manipulação.
Primeiro encanta com gestos pra lá de sensíveis. Você gosta de salada de caruru bravo? Ele adora! Curte um pagodinho na laje? É o que ele faz todo fim de semana. Seja lá qual for seu gosto, mesmo beeeem duvidoso, ele fará questão de mostrar que compartilha de tudo e mais um pouco. Surpresa com tamanha afinidade, você passa a acreditar que, finalmente, encontrou a tampa da sua panela. E assim ele vence a primeira etapa do planejamento: rapidinho te deixa babando e se torna marcante.

Uma estratégia que o manipulador aprecia é a do sumiço. Já no princípio, embora se mostre muito disposto, se colocará apenas parcialmente disponível. A grande jogada é fazer com que sua ausência seja sentida. À medida em que o relacionamento avança, estrategicamente vai diminuindo o tempo que dispensa a você. Precisa mostrar como os esforços que faz são especiais e exigem valorização. Ontem ele nem assistiu a sessão da tarde só pra te ligar, tá? Resmunguenta! É aí que, mesmo liso como um sabão, ele passa a exigir cada vez mais compreensão, com atitudes progressivamente desafiadoras.
Com manobras cuidadosamente estabelecidas, o elemento começa a ser percebido por você como alguém em condições de dominar a situação, porque se mostra superior de diversas maneiras  (emocional, intelectual ou financeiramente). É que seu imaginário senso de superioridade depende disso, não se sente completo sem adoradores submissos e disponíveis. Se alimenta da admiração alheia, que só o satisfaz se for incondicional e irrestrita. Tenta criar dependência porque, na verdade, ele é o dependente


Decepção Vupt

Ser lembrado pela ausência, exercer o poder sem parecer autoritário, brilhar com o próprio ofuscamento, despertar curiosidade sem marcas visíveis de feitos pessoais, essas são as táticas do manipulador barato que, de certa forma, te aprisionou.

E é assim, aos trancos e barrancos, que você vai levando a relação infeliz. Se submetendo a coisas que jurava jamais tolerar de ninguém, se transformando numa pessoa pior do que era antes, mais triste, cada vez mais vazia, improdutiva, absurdamente solitária. Vendo sua autoestima se reduzir a quase nada e seus recursos internos para se defender disso totalmente minados. Se afastando das coisas e pessoas que gostava, tudo em nome de uma paixão surreal, que nasceu sem que você percebesse e que, mesmo já consciente de que não lhe faz nada bem, você não consegue matar.

Pois é... Ele é um manipulador terrível, não dá para conviver com alguém assim. Afinal, esse tipo de pessoa não se relaciona com outra, a não ser consigo mesma. Mas como se livrar dessa história, se sua carência, que já era grande, com a participação desse miserável agora ficou enorme? Só há uma maneira: na marra. Fugindo dele como o vampiro foge de uma boa réstia de alho. Respirando fundo e, como qualquer drogado, se desintoxicando, limpando o corpo e a alma.

Nem pense em tentar modificá-lo, porque será perda de mais tempo. Ao invés disso, que tal mudar a si própria? Comece despejando a vítima que mora dentro de você. Pense bem: o manipulador só existe para quem se permite manipular. E, surpreendentemente, ambos têm algo importantíssimo em comum. São dois parasitas que se alimentam do mesmo tumor afetivo: a cegueira do outro. O manipulador não vê ninguém mais além dele próprio e o carente só consegue ver no outro aquilo que não é capaz de enxergar em si mesmo.
É de um amor inventado que você precisa? De pessoas que te decepcionam? De sentimentos que enfraquecem? De algo que adoece sua alma? Certamente não.

O jeito é parar de ruminar essa desgraça de uma vez e nem pensar em engolir. Se é para continuar pastando, que seja onde tem capim novo, que é bem mais gostosinho.

______________________________________________________________


Ganhei um selinho!

Recebi esta fofura de uma leitora igualmente fofa, a Graci, do Mundo dos Escritos. Ao aceitar, tenho que atender a algumas regrinhas. Então, vamos lá: 

1° - Comentar sobre o blog de quem te presenteou com o selinho: 
Mundo dos Escritos é um dos primeiros blogs que passei a acompanhar. A delicadeza das postagens é o que mais me chama a atenção, talvez justamente pelo contraste com o meu jeitinho ignorante de ser. Não dizem que os opostos se atraem? Então, é isso. 

2° - Dizer 3 coisas que me levam ao delírio:
Bom... A essa altura da vida, poucas coisas realmente me levam ao delírio... Mas eu poderia citar uma boa farra com amigas, ver filmes legais e viajar, viajar, viajar!

3° - Repassar para mais 5 blogs: 
Mil perdões, mas vou desobedecer esta regra... Não seria justo indicar apenas cinco, tem um montão que eu curto, de verdade mesmo.

Valeu Graci! Você é uma querida!