domingo, 24 de julho de 2011

O que não mata (infelizmente) engorda


Tem gente nesse mundo que sei lá... Fui a um aniversário de criança e fiquei boaquiaberta com a paranóia da mãe do aniversariante. Juro que nunca tinha visto nada parecido. 

Festa infantil até que é bem legal, colorida, animada... Cheia de guloseimas, de diversão e de CRIANÇAS (puxa, mas sempre tem alguma coisa pra estragar!) rindo, cantando, dançando, correndo, BERRANDO, enfim, se esbaldando irrestritamente. 

As restrições, no entanto, ficavam todas para o pobrezinho do aniversariante. Comecei a reparar que a coisa ali não estava muito normal quando o pimpolho foi brincar SOZINHO na piscina de bolinhas, apesar de já haver muitas outras crianças querendo participar da farra. Qual o motivo do isolamento? Simples: a mãe exigiu que todas as bolinhas fossem esterelizadas e que seu filho fosse o primeiro a brincar ali, liberando o espaço para os demais só depois da saída do menino.

Estranho, mas até aí, vá lá, talvez o moleque estivesse com algum problema de imunidade, vai saber. Aí fui acompanhando o movimento... A cada pessoa que encostava no pirralho, a mãe borrifava um líquido nele - álcool, provavelmente - logo que o autor do carinho virasse as costas. Foi pega no flagra pelo fotógrafo da festa, que depois de dar um beijinho na cabeça do menino, viu a mãe encharcar a cabeça do pequeno infeliz com o líquido. Diante desses gestos amalucados, assuntei daqui e dali pra saber se o limpinho tinha algum problema de saúde e a conclusão foi a que eu imaginava: doente, mesmo, é a mãe do rapazinho, que tem horror a bactérias. 

Sei muito bem quem é o culpado por disseminar essa neura no povo: o Doutor Bactéria, aquele maluco que aparece na TV, botando terror. Caramba, se você for seguir à risca todas as recomendações do homem não sai da bolha nunca mais! Segundo ele, por exemplo, soprar a velinha do bolo de aniversário é um péssimo hábito, que contamina o doce com as bactérias da saliva, causadoras de uma intoxicação com 24 horas de vômitos, diarréia e toda sorte de nojeirices que um ser humano pode produzir. Juro que até hoje nunca vi ninguém passar mal por causa disso. E olha que já fui a centenas e centenas de aniversários ao longo da minha (longa também) vida. 

Conheço uma pessoa  - médico!... que não é o japa -  que não come em restaurante por quilo de jeito nenhum, por causa da manipulação direta das pessoas nos alimentos expostos. Como se a comida à la carte não chegasse à mesa com uns bafinhos básicos  - quiçá até pentelhinhos -  do cozinheiro e dos garçons... Fala sério!

Acho que há um grande exagero hoje em dia em relação a essas coisas, sabe? Sou do tempo em que a gente brincava descalço, tomava água direto da mangueira e muito raramente ficava doente. Tá certo que higiene é fundamental, mas é preciso entender que até mesmo as bactérias nos são úteis. Afinal, é por causa dessas danadas que o nosso sistema imunológico se desenvolve, né? 

Enfim, sigo o bom e velho dito popular de que "o que não mata, engorda" (até demais, saco!). Isso tudo, pra mim, não passa de FRESCURA. Prontofalei.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Coisas que a Internet estraga

É indiscutível o enorme benefício que a Internet trouxe para a humanidade. Há um montão de coisas que nem me imagino fazendo agora sem o auxílio da rede, como procurar um telefone, por exemplo; tenho a impressão de que as listas telefônicas foram extintas. Não saio de casa antes de conferir um endereço no Google Maps, inclusive acessando o Street View para saber se há estacionamento por perto, ver as características da rua, enfim, me achar por completo. Cotações de preços, contatos, trabalhos, pesquisas... Tudo é objetivo, prático, rápido mesmo.

Talvez sejam exatamente essas características vantajosas que me levam a pensar num outro tanto de coisas que a Internet, de certa forma, estraga. Através dos sites de relacionamentos reencontrei pessoas com as quais não tinha contato já há muitos anos. Caramba, quando você acha (ou é achado) por alguém que foi importante na sua história é uma delícia! O problema é que a virtualidade nem de longe sacia a saudade. Não tem abraço, beijo, nenhum calor humano. Palavras escritas limitadamente e rapidinho mascaram intenções, escondem o entusiasmo e acabam transformando relacionamentos que um dia foram tão intensos em algo trivial, sem grande importância. Perde-se aquela sintonia legal que um dia houve entre as pessoas.

Se por um lado a Internet promove encontros e reencontros virtuais, também contribui bastante para que as pessoas jamais se vejam novamente de fato. Com a facilidade de se comunicar a qualquer instante, além da correria do dia a dia, não há grande empenho para se promover encontros reais. Ligamos e desligamos pessoas das nossas vidas com um simples clique.

A materialidade de certas coisas é bem importante para mim. Nada me tira o prazer de manusear um livro, jornal ou revista. Acho uma delícia ter nas minhas mãos fotografias antigas, lembranças concretas das coisas que já ouvi ou vivi. Fico preocupada com esse negócio de câmera fotográfica digital, sabe? Vejo tanta gente fotografando de tudo por aí e descartando as imagens depois por pura preguiça de imprimir ou armazená-las em algum lugar. São muitos momentos que se perdem definitivamente. Isso sem contar com recursos que permitem todo tipo de mudança nas cenas, o que leva à inevitável dúvida sobre a autenticidade do que se vê. Sei lá, não gosto disso.

Sempre pensei desse modo, mas ontem tive a certeza absoluta de que, para mim, há coisas que a virtualidade jamais vai substituir. Dos bens deixados por minha avó, eu quis apenas um, que sabia existir, mas ainda não tinha visto: uma cartinha do meu avô para ela, quando ambos ainda eram namorados, escrita em 1930, numa ocasião em que o relacionamento ficou abalado com uma viagem dela. Ok, me utilizo da Internet para registrar, mas não há absolutamente nada nesse mundo que tire de mim o prazer de ter em mãos essa preciosidade:


Transcrição da cartinha:

"Pensamento longe de ti:

À bondosa Conceição,

Longe de ti sofro imensamente, se soubesse como era feliz quando ao teu lado, ouvindo os teus delicados lábios murmurarem confortáveis e amorosas palavras, e sorrir-me meigamente, parecia-me ler nos teus lindos e sedutores olhos a sinceridade do teu coração. Sinto-me estar longe, bem longe; vejo-me no país das fadas, no reino do cupido e de meu quarto a chorar de saudades.

Só tenho medo que seja breve a minha felicidade e de que, ao mesmo tempo, desapareça um dia. Porque este mundo é efêmero e tudo tem um fim, assim como as flores, a mocidade, tudo se desfaz em poeira e me resta apenas esta saudade.

Embora não me ame, recorda-te deste que tanto te ama.

Victório Meneghelli
14/05/1930"

Agora, pense francamente: um e-mail poderia substituir a doçura dessas palavras, escritas de próprio punho, com tamanha dedicação e eternizadas nesse pedaço de papel?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um pintinho (muito) sem noção

Ando numa correria danada nos últimos dias, mas não tinha como deixar passar batido um papo que ouvi hoje no cabeleireiro.


Uma cliente levou o povo à gargalhada quando narrou a marcante  - e bota marcante nisso! - noite de amor que teve ontem:


"Levei o maior tempão pra decidir se saía ou não com o cara, porque achava ele meio esquisito. Mas o neguinho vivia me cercando e no começo da semana até me mandou flores. Puxa, homem gentil não dá em árvore, né? Resolvi topar. 


A gente jantou num restaurante legal e até que o papo dele me agradou. Só achei que ele era um pouco atrapalhado, porque tropeçou logo na entrada e deixou a faca cair no chão, mas tudo bem, acontece... 


Depois do jantar ele me convidou pra dar uma esticada. Pra dizer a verdade, nem estava muito animada, não rolou aqueeeeela química, sabe? Mas na secura em que me encontro ultimamente, acabei aceitando. Fomos pra um motel bacanão, tava tudo legal, até o homem tirar a roupa. Quando olhei pro "negócio", vi que tinha um selinho grudado! Criei um clima só pra poder ver mais de perto: 'P'! Putaquipariu, a cueca do cara era nova e ele nem tirou o selo!!!"


Indignada, ela se virou JUSTO pra mim e perguntou:


- Me fala, o que é que você faria numa situação dessas?


EU??? Bem, eu... Mmmmm... Bilau com selinho de cueca nova?... "P", ainda por cima, pra aumentar o desânimo?... Bom... Olha... Pera, que vou ali e já volto, tá?



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Coisas de japas e brazucas

Não entendo quase nada de futebol (seria porque odeio?... Ou talvez odeie porque não entendo?...), mas acredito piamente que os japoneses ainda dominarão esse esporte. Japas são disciplinadíssimos, quando resolvem fazer uma coisa, vão à exaustão para que saia tudo perfeito. A seleção feminina de futebol do Japão não me surpreendeu nada ao eliminar a Suécia ontem e se classificar pra final da Copa (disputarão o título com os EUA). E pensar que as brasileiras, com nossa Marta espetacular, ficaram fora dessa!

Quem convive com orientais sabe do que estou falando. Eles fazem tudo tão certinho que dá até raiva, ver um japa errar em alguma coisa é raríssimo. Todas as vezes em que me ofereço pra ajudar em algo, passo vergonha. Na hora de fatiar um bolo de aniversário, por exemplo, daqueles bem melecados, cheios de camadas e coberturas, não hesito em tascar a espátula, pra tudo desmoronar num segundo: é bolo de um lado, recheio do outro, cobertura esparramada... Logo sou acudida por uma boa e habilidosa alminha nipônica, que vai lá e tchuk, tchuk, tchuk... Corta tudo rapidinho, em fatias milimetricamente iguais, sólidas, perfeitinhas. Arre!

O pote de manteiga da minha casa denuncia essa diferença entre as aptidões ocidentais e orientais de forma gritante. É fácil perceber que quem passou a manteiga no pão primeiro foi o japa, porque o pote fica impecável, manteiga lisinha, lisinha, como se tivesse acabado de sair da embalagem. Mas quando chega a minha vez... Hum... A manteiga fica lunar, tamanha a quantidade de crateras. Sou duramente criticada por isso, sabe? O soldadinho de chumbo não perdoa.

E assim é que as coisas sempre acontecem. Do lado oriental, tudo certinho, bonitinho, perfeitinho, retinho, medidinho, exatinho... Do lado tupiniquim, avacalhação geral. Mas também, fafavô, hein?! Gastar momentos tão preciosos da vida, especialmente com coisas comestíveis, que no fim produzem o mesmo resultado (sim, porque até onde eu sei, cocô é tudo igual... Bom, na verdade nunca conferi pra saber se cocô de japonês sai bonitão também, era só o que faltava!) não vale a pena.

Reconheço que há inúmeras vantagens em ser disciplinado e saber manter as coisas sob controle (aprendo muito com minha turma de japinhas), só que, cá entre nós, há momentos em que o bom e velho borogodó brazuca é que dá jeito, não é não? Taí, tudo junto e misturado é muito melhor.

Ilustração: Maurício de Souza



quarta-feira, 13 de julho de 2011

Odeio vizinhos!

Quem me conhece sabe que não sou antissocial, mas se tem uma coisa que odeio é mimimi de vizinho. Minha privacidade é algo inegociável, tenho verdadeira fobia de ser observada, de saber que tem alguém controlando minha rotina. Por isso, há duas coisas absolutamente inviáveis para mim: morar em apartamento e participar de qualquer espécie de reality show.

Enquanto minha casa nova não fica pronta (está por um triz agora, ufa!), moro num lugar que já está me dando nos nervos. As casas são coladas e há diversos locais que são alvos da xeretice alheia, sem contar com um outro probleminha.

Me aterroriza a ideia de que até minhas calcinhas podem ser vistas no varal, uma invasão de intimidade inaceitável. Outra coisa que é um saco é ter que se policiar o tempo todo para não incomodar a vizinhança. Caramba, você está na sua casa e não pode lavar o cabelo de madrugada, por exemplo, porque o barulho do secador poderá ser ouvido. Televisão, som ou qualquer porrinha que emita um mínimo decibel deve ser usada com moderação e obedecendo a lei do silêncio: depois das 22 horas, só com fone de ouvido. Tá, concordo que tem gente que não se toca e exagera na dose (tipo criatura sem noção, que coloca o som do carro num volume que trepida até os vidros da casa e, bem pior, te obriga a ouvir lixos equivocadamente classificados como música), mas definitivamente não é o meu caso.

A intolerância de vizinhas "amélias", então, é algo profundamente irritante. Qualquer coisa é motivo para observações dispensáveis. Sem objetivos concretos... ah, quer saber?... sem porra nenhuma pra fazer o dia inteiro, a melhor diversão que encontram é fuçar e reclamar. Varrem suas calçadas milhões de vezes por dia e acham que você tem que fazer o mesmo; dormem com as galinhas, acordam com o galo, aporrinham suas pobres diaristas, batem papinhos na sua janela (com dicas ácidas especialmente direcionadas à sua pessoa)... Haja!

Felizmente na nova casa não terei esse problema, tudo foi projetado para nos preservar o máximo possível. Não vejo a hora de evaporar daqui. E faço questão de repetir o célebre gesto de Carlota Joaquina, quando vazou do Brasil de volta à Portugal: sacudo meus sapatos, porque desta terra não quero levar nem o pó.