Fim dos estoques de camisas, camisetas, gravatas, meias e cintos... Amanhã é Dia dos Pais. Deixando de lado o apelo comercial da data, a ocasião é bem especial.
Por ser mulher e mãe, algumas vezes me pego considerando a paternidade como algo secundário. É que nós, mulheres, sempre temos a impressão de que gerar o filho dentro do nosso próprio corpo nos torna mais importantes, estabelece um vínculo que os homens jamais terão com suas "crias". É claro que há pais ausentes e outros, que mesmo presentes, negligenciam a relação com seus filhos. Mas há aqueles que são especialíssimos e imprimem marcas eternas na vida de todas as gerações que surgem a partir deles.
"O que as grandes e puras afeições têm de bom é que depois da felicidade de as ter sentido, resta ainda a felicidade de recordá-las."
(Alexandre Dumas)
Nesta foto de 1964 estamos eu (à esquerda; uma prova de que minha cara de Zeca Pagodinho sempre existiu), meu pai, minha irmã Elaine e meu irmão Eduardo. Acho que esta é a foto mais representativa que tenho do meu pai, porque resume tudo o que ele foi pra nós.
Dentro da sua simplicidade, meu pai foi a pessoa mais intensa que já conheci na vida. Tudo com ele se transformava em muito... Ria e todo mundo ria junto. Chorava e todos choravam também. Não havia cansaço que o impedisse de estar inteiro em tudo o que fazia. Um dia exaustivo de trabalho, incluindo as fundamentais horas extras, não o impediam de dar e receber com prazer o carinho de cinco filhos, aos quais sempre tratava sem distinção e com atenção total. Como se não fosse suficiente estar sempre atento à prole numerosa, ainda arranjava tempo pra se divertir, inclusive de maneiras bastante curiosas. Se enfiava em aldeias indígenas, saboreava carne de macaco, tatu, cobra e outros bichos inimagináveis... Não sabia nadar, mas quem segurava o homem? Piscou e lá estava ele, pescando em alto mar... Jogava xadrez e baralho, me ensinando, inclusive, truques importantíssimos pra dar uma roubadinha iludida básica nos adversários... Era doador habitual de sangue, participava com regularidade de tribunais compondo o juri, fazia peças maravilhosas de metal com seu talento de exímio ferramenteiro/torneiro mecânico. Tocava bongô!... Era, acima de tudo, solidário ao extremo. Chorava (mesmo) com a miséria alheia e dava o que tivesse de si pra melhorar a situação de quem o procurasse. Era humano, enfim.
Como pessoa especial, sua despedida também não poderia ter sido comum, é claro. Numa manhã de sábado, aos 38 anos, ele saiu pra pescar com amigos e não voltou mais. Encontrou o fim da linha na estrada. Por ter sido tão peculiar, me deixou com uma lembrança que a cada dia se torna mais engraçada: meu pai será pra sempre um cara mais novo que eu. Nem que eu me esforce consigo imaginá-lo com cabelos brancos e rugas. Meu pai não. Ele foi, é e sempre será um sujeito dinâmico, cheio de vida e eternamente jovem.
Amanhã eu não poderei lhe dar um presente. Mas tenho certeza de que pra ele não haveria presente melhor do que saber que sua passagem pela minha vida fez toda a diferença. Que por causa dele jamais me esqueci de princípios fundamentais como lealdade, amizade e solidariedade. Que com ele aprendi que quem curte a vida com a intensidade que ela merece, vive de verdade, não existe simplesmente. E que, justamente por ele ter sido uma pessoa tão especial, não houve um dia sequer (nenhunzinho, de verdade) durante os últimos 36 anos que eu não me lembrasse dele com admiração, orgulho, amor e muita saudade. Quantas são as pessoas que depois da morte continuam tão vivas? Não estou dizendo que o homem era do balacobaco? O que me conforta é a certeza de que um dia a gente vai se ver de novo.
Um grande beijo pra todos os pais!