sexta-feira, 23 de julho de 2010

A ditadura da tecnologia me irrita!


Hoje pela manhã, quando ia tirar o carro da garagem, avistei o homi (veja mais sobre outros homis aqui) do carrinho, daqueles que recolhem caixas de papelão, latas, essas coisas, sacumé? Resolvi me atrasar um bocadinho e tratei logo de chamá-lo, queria me livrar da tonelada de jornal que em pouquíssimo tempo juntou por aqui  - quem é assinante da Folha de São Paulo sabe bem do que estou falando.

O rapaz se aproximou e fez sinal pra eu esperar, estava no celular. Tá certo, vai. Embora surpreendente, não é porque ele é o homi do carrinho que não pode ter e atender ao próprio telefone, né? E o bicho falava, falava, falava... Só depois de um bom tempinho desligou e me deu atenção.

- Bom dia! Tem coisa aí pra levar embora?

- Oi, bom dia! É, eu quer...

Vou catucá
Eu vou catucaaaaaá
Vem minha gostosa
Que hoje vou te barulhar
Jogue o tambor pro alto
Que eu quero bater
Eu vou fuca na futchuca com voceeeeê

- Desculpa, peraí mais um pouquinho... Alô! Fala véi!...

:-(

Pois é, o celular do moço tocou. De novo. E precisei esperar. Mais uma vez. E o toque do celular era essa coisa horrenda aí de cima, fui até pesquisar pra saber de que diacho se tratava. O pior é que a porreta da... música?... não sai mais da minha cabeça. Se você curte (credo!) funk, aproveite:


Sou meio chata em relação ao abuso da tecnologia, sabe? Claro que a utilidade de um celular é indiscutível, mas viver em função dele considero um tremendo absurdo. Basta olhar pra qualquer lado e constatar que a engenhoca está por todo canto. Sem brincadeira, enquanto eu esperava pra falar com o cara do carrinho, vi três pessoas que passavam falando no telefone. Antes das 8 da matina, haja assunto!

Quando a encrenca toca em lugar lotado, então, é um deus-nos-acuda. Gente correndo pra revirar bolsos e bolsas freneticamente, interrompendo conversas e deixando acompanhantes falando sozinhos, sem o menor pudor. Conheço um montão de gente que faz isso o tempo todo, inclusive atendendo a dois celulares simultaneamente (!!!), só pra bater papinho furado, na maior cara dura, pode?! Ah, não tenho saco pra isso não!

Compartilho da opinião do escritor italiano Umberto Eco, um anticelular convicto, que diz que pouquíssimas categorias de pessoas realmente necessitam de um telefone móvel: doentes, médicos, bombeiros e adúlteros. Tá, tá, não sejamos tão radicais... Todo mundo tem direito e pode precisar de um celular, mas o uso irrestrito, sem nenhum bom senso, é o que me incomoda. Além do péssimo gosto na escolha do ringtone, é lógico. Pode reparar, quanto mais sem noção for a pessoa, mais horroroso e alto é o toque do seu celular. Sem esquecer da completa falta de respeito pela privacidade alheia, claro. É foto e filminho de qualquer coisa, a qualquer hora. Não dá, é sério.

Outra coisa que me irrita profundamente é gente que não consegue viver sem computador. Comportamento muito comum de se ver, hoje em dia, é fulano carregando laptop pra cima e pra baixo, como se fosse uma extensão do seu próprio corpo. Caramba, tenho visto gente no meio de festinhas e até em reuniões familiares com a cara enfiada na telinha em tempo integral! Sociabilização zero. Oras, então pra quê vai? Se a virtualidade é mais importante que o contato com pessoas reais, então que fique enfurnado em casa. 

Como no caso do celular, a Internet chegou, sem sombra de dúvida, pra facilitar tremendamente a vida das pessoas. Mas é inegável que, em alguns casos, com ela também se acentuou a solidão. Sem contar com o que vem de quebra: egocentrismo, oportunismo, falta de respeito e por aí vai.

Acho que sou uma pessoa que ainda não aprendeu a lidar bem com essas coisas, sabe? Teimo em acreditar nos princípios básicos da comunicação autêntica e da convivência saudável, seja conversando pessoalmente com alguém ou através de engenhocas, tipo celular e computador. Pra mim, no final, tudo é a mesmíssima coisa, o que muda é só a forma, mas nunca a essência. Então, costumo colocar em prática o que a boa educação determina, não interrompendo conversas pra ficar de papo furado no telefone, respondendo a todos e-mails que me são enviados (quando pertinentes e dentro da minha disponibilidade de tempo, é óbvio), sabendo me desconectar da vida virtual quando a ocasião assim exige, enfim, respeitando os outros como gosto de ser respeitada. E quando agem de forma oposta comigo, fico encanada (bastante!). Mas certamente um dia vou aprender a abstrair coisas sem importância e deixar de levar a vida tão a sério. Até lá, como velha gagá e demodê que sou, continuarei reclamando. Tá aí, sou uma bela bokomoko, pronto, reconheço.

Ih... Lá vem... Ô-dona-Tânia-que-que-é-bokomoko-hein?... Vai lá que nosso amiguinho Google te conta, tá? Ok, eu me rendo... Tem hora em que a tecnologia se torna mesmo indispensável.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ser ou não ser dona de casa? Eis a questão!



Ontem fiquei surpresa com um convite que recebi, pra participar de uma comunidade destinada às donas de casa. Nesse espaço elas trocam dicas de culinária e beleza, jogam, batem papo, enfim, se divertem com suas próprias experiências. Até aí, tudo muito normal. O que me chama a atenção, no entanto, são duas constatações: sou péssima dona de casa e o texto do convite traz, sem querer, uma depreciação tremenda.

Como dona de casa me considero mesmo uma tristeza. Não gosto de trabalhos domésticos. ODEIO cozinhar. Penso, inclusive, que os eletromésticos deixam muito a desejar, por mais tecnológicos que sejam. Minha máquina de lavar, por exemplo, é cheia de frufru. Tem sensor pra identificar volume de roupas a serem lavadas e tipos de tecidos, e automaticamente se ajusta às necessidades da lavagem, colocando um montão de programações diferentes pra funcionar sozinha, bastando apertar um botãozinho. Mas vai buscar a roupa suja que está no cesto? Não. E cadê que pendura a roupa depois de lavada? Tsc. Fica de olho nas condições climáticas pra saber se tem que sair correndo tirar as roupas do varal antes que chova? Claro que não. Vagabunda!

Às vezes até tento fazer bonito. Minha mais recente tentativa nesse sentido aconteceu na última segunda. Ao retornar de uma pequena viagem que fiz com meu filho (bendita Revolução Paulista!), imediatamente providenciei minha especilidade gastronômica: catei o telefone e pedi a comida. Quando saboreava os quitutes que chegaram, o telefone tocou. Era meu japa, que estava de plantão e estranhou minha demora em atender. Resolvi florear a situação e exibir minha dedicação:

- Ah, demorei porque estava lá preparando almoço... Chegamos com uma fome danada!

- É?... Tô ligando pra te avisar que o gás acabou.

- Oi?

Então, como é amplamente notório, minha participação na comunidade das donas de casa será um desastre.

Mas o que realmente me deixa bastante perplexa é a maneira como as próprias mulheres encaram essa condição, ainda que inconscientemente. No meio das palavras simpáticas e bem escritas do convite encontrei isso:

"Ah, e se você trabalha, tenho certeza que mesmo assim tem seus momentos de dona de casa!"

Tá legal, sei perfeitamente que por "trabalhar" deve-se entender ter um emprego fora de casa. Mas quando é que se dará a devida importância ao trabalho doméstico? Caramba, dona de casa também TRABALHA! Um trabalho indispensável, cansativo e muito ingrato, porque geralmente não é reconhecido, não é remunerado e jamais tem fim.

Embora não combine comigo, não sou nada contrária à opção que muitas mulheres fazem ao se dedicarem inteiramente às suas famílias. Enfim, as dores e delícias de ser dona de casa rendem diversas outras postagens, o assunto é bem extenso (e intenso também).

Por enquanto deixo a dica de um filme que adoro e que retrata com perfeição os anseios de uma mulher de meia-idade, dona de casa dedicada, que de repente resolve dar uma virada radical na sua existência rotineira. Shirley Valentine traz uma história genial, vale a pena conhecer.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

No meu peito (sem siliconão) também bate um coração


Depois de receber alguns comentários em off sobre a postagem anterior, achei importante reforçar alguns pontos.

Como toda mulher - acho que até mesmo como qualquer pessoa - também já alimentei muitas ilusões no decorrer da vida. Aliás, surpreendentemente, reparei que a maturidade não me trouxe toda aquela esperteza que eu gostaria de ter. Pelo contrário, vejo que hoje as decepções me doem muito mais do que antes. E não falo apenas de envolvimento romântico. Isso engloba todos aqueles que me cercam: familiares, amigos e, até mesmo, pessoas com as quais me relaciono apenas virtualmente.

Não interessa da parte de quem, quando e como vem a decepção, é lógico que ela magoa profundamente. Então, é evidente que não sou insensível a isso, inclusive pelas razões que exponho acima.

Compreendo que ninguém é doido de entrar num relacionamento com a intenção de sofrer. Até porque, em muitos casos, a pessoa nem estava procurando por coisa alguma, mas, de repente, se encanta diante de uma situação inusitada. Do nada surge alguém que supre carências que ela nem imaginava ter e a faz se sentir radiante. Oras, quem não gosta de voltar a sentir aquele friozinho na barriga? A paixão renova a alma, sem dúvida.

Por isso, também entendo que o sofrimento por uma ausência, pela indiferença ou pela manipulação que se sofre quando as coisas não caminham de acordo com o esperado é bem real e, por vezes, insuportável. Só quem passa por isso sabe como é. Aquilo que inicialmente era um relacionamento divertido, com as dificuldades que vão surgindo facilmente se transforma numa obsessão. A coisa fica patológica mesmo. A pessoa que está sofrendo não se reconhece mais, porque se depara com os piores instintos que guardava bem lá no fundinho da alma. Passa a sentir ciúme, raiva, inveja, tristeza, tudo misturado, descontrolado e muito inconveniente. Deixa de produzir e de se cuidar. É movida apenas por uma sensação louca e extremamente negativa, que a impede de pensar em qualquer outra coisa e, assim, prosseguir normalmente.

Puxa, claro que consigo dimensionar tudo isso!... Mas entender está bem longe de aceitar. Considero fundamental que as pessoas aprendam a se cuidar direito. Quando você vai mexer com fogo não se previne? Quando atravessa a rua não olha para os dois lados, como a mamãe ensinou? Quando usa produtos químicos não coloca luvas? Quando fica doente não toma remédio? Então por que esse descaso com o próprio coração? É claro que ele também necessita de proteção e de tratamento quando se machuca. Portanto, aprenda a decifrar os sinais de que está no meio de uma roubada e defenda-se, cacete!

Disse e repito: quando a outra pessoa te maltrata pela primeira vez, a culpa é dela. Mas se continuar te maltratando, A CULPA É SUA. Simplesmente porque você aceita e não reage. Porque não cuida de si mesma. Porque não permite que a ficha caia de uma vez. Porque insiste em alimentar o monstro que a aterroriza, ao invés de acabar com ele.

Sei que não é fácil. Sei que dói bastante. Quem conhece bem minha história sabe que falo sobre isso com muita propriedade. Já estive no fundo do poço também. E só consegui sair dele quando me dei conta de que olhares poéticos acerca da dor funcionam bem nos romances, mas na prática não resolvem absolutamente nada.

Enquanto você chora, com ou sem razão, o mundo continua a girar. O tempo passa do mesmo jeito e a única coisa que você ganha com isso são cabelos brancos e rugas. Então, se sacuda, caramba! Diga não às drogas! Porque amor não correspondido, que faz sua vida parar, é exatamente como outro vício qualquer e deve ser encarado como tal. Só se livra disso quem realmente quer e está disposto a se submeter a um tratamento radical.

Entenda de uma vez por todas que amor não precisa rimar com dor coisa nenhuma. Que uma companhia boa pra valer é aquela que te faz crescer, te bota pra frente. Perceba que quem se importa de verdade com você pode até ter variações de humor, mas nunca de caráter. Jamais será indiferente ao vê-la se transformar num farrapo humano.

A gente sempre tem exatamente aquilo que merece e ninguém me convence do contrário. Há pessoas que sabem ser glamurosas sob qualquer circunstância e aproveitam o melhor que a vida pode lhes oferecer (por glamour entenda-se tudo o que é positivo, especialmente presença de espírito). E há outras que nasceram pra arrastar chinelinhos, recolhendo migalhas e chorando pelos cantos. Azar o delas. Pronto, falei.

"Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser."
(Martha Medeiros)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Quando desistir significa avançar


Já faz um bom tempinho que não dou pitaco nos relacionamentos alheios, né? Então, pra quebrar o jejum e também pra atender a uma solicitação que recebi, vamos lá.

Se tem uma coisa que curto bastante é ficar olhando o miserê alheio pela janelinha. Não falo de graves problemas pessoais como doenças, acidentes, falta de grana, desemprego, blá-blá-blá... Gosto é de ver como gente desavisada pede pra se estrepar.

Quando a gente está olhando de fora consegue captar direitinho quando algo não tem futuro, já reparou? As más intenções ficam evidentes e o excesso de ilusão também. Me pinica a alma observar situações em que a pessoa não se toca e escolhe os piores caminhos pra preservar relacionamentos obviamente destrutivos ou, no mínimo, infrutíferos.

Tenho acompanhado de perto três casos de mulheres já maduras, que se envolveram com homens terrivelmente angustiantes, mas insistem em continuar na situação degradante em que se encontram. A desproporção entre o ganho e a perda na relação é imensa, e mesmo se dando conta disso, elas preferem continuar como estão. Chorar se tornou uma rotina, quebrada apenas nos poucos momentos em que recebem míseras migalhas de atenção, das quais se alimentam avidamente. E, se for preciso, chegam a brigar pra defender os trastes, dá pra acreditar?

Uma citação popular que considero das mais sábias é essa:

Quando ele te maltratar pela primeira vez, a culpa será dele. Mas se ele continuar te maltratando, a culpa será somente sua.

E quer saber o que eu acho quando encontro uma mulher sofrendo horrores por causa disso? BEM FEITO!

Não foi fácil, mas depois de tomar umas rasteirinhas por aí e ver gente que gosto tomando outras tantas, aprendi a importância fundamental de decifrar os sinais que invariavelmente sempre são transmitidos logo no início da relação. Aprendi também que ignorá-los só contribui pro tombo ser maior depois. Não é nada difícil perceber se a canoa em que você vai embarcar está furada, olha só:

AMAR DE VERDADE É SINÔNIMO DE CUIDAR. SEMPRE!

Ah, ele te deixou de quatro logo de cara por causa do jeitinho poético, não foi? E-mails açucarados, cheios de poesia... Músicas maravilhosas e pra lá de românticas dedicadas a você... Diz que você é linda, mais que demais... Se lamenta por não ter te encontrado antes... Afirma com todas as letras que nunca uma mulher mexeu tanto com ele como você mexe... Você é especial (essa é de doer!)... Se bobear, diz até que acredita que são almas gêmeas (essa, então, é hors concours em matéria de embromation). E, se bobear mais ainda, chegou ao cúmulo de mandar um descarado "eu te amo" logo de entrada. Ele fala bonito, né? Pois é... Fala, fala, fala... Mas cadê que faz? E isso enquanto ainda fala, porque normalmente deixa de ser fofo rapidinho, até com as palavras. Não demora nada e o sujeito fica sem paciência pra tanto melê-melê, desmascarando o bronco que na verdade é. E mesmo assim você o adora, morre por ele.

Olha, já vi homem que teve a capacidade de mandar e-mail pra uma tonta com as mais rasgadas declarações de amor num instante e poucas horas depois mandar outro terminando tudo, dizendo, inclusive, que já vinha pensando nisso há algum tempo. Dá pra entender? Não, é claro. E nem tente, porque não vale a pena. Sabe por que? Porque PALAVRAS SÃO APENAS PALAVRAS. Eu te amo não significa absolutamente nada se não vier acompanhado de ações que tornem isso legítimo. Quem ama cuida, presta atenção, está junto de verdade.

Meu japa, assim como eu, não é do tipo romântico. Mas me sinto amada intensamente quando percebo que ele vai buscar uma manta pra me cobrir quando cochilo no sofá, quando exagera nas compras de coisinhas que sabe que gosto de beber ou comer, quando não sossega enquanto não vê que está tudo legal comigo, enfim, quando se dedica a mim, com carinho e atenção.

Um homem que é ótimo de gogó, mas não está nem aí se você vai passar dias feito um zumbi só esperando por uma porcaria de sinal de vida dele, que está pouco se lixando se você está com problemas, que não é sequer solidário, jamais será uma boa companhia. E não adianta investir na relação, achando que vai melhorar depois, porque a tendência é piorar cada vez mais com a rotina instalada.

JÁ DISSE: NÃO ACEITE COMPORTAMENTOS INJUSTIFICÁVEIS.

As pessoas têm o péssimo costume de explicar canalhices alheias. Sabem que estão tomando um rodo daqueles, mas fazem de conta que as mancadas têm motivo justo. Caramba, tentam enganar a quem? Certo, compreendo que nem tudo deve ser levado a ferro e fogo, algumas vezes pintam dúvidas mesmo. Mas há uma maneira bem simples de ter certeza se determinada situação pode ou não ser tolerada por você. Pergunte-se  - e responda - com toda honestidade: NESSE CASO, EU FARIA A MESMA COISA COM ELE? Se a resposta for negativa, já sabe, né?... Se você não for o pé da história, mais dia, menos dia, será a bunda. É só esperar pra ver. Isso é praticamente matemático, não pense que com você será diferente.

NÃO TENHA MEDO DE PERDER.

Seja sempre muito clara quanto às suas expectativas. Não espere que ele repita uma atitude desagradável pra dizer que não gostou e que deseja outra coisa. Se ele gostar de você pra valer não vai recuar, ao contrário, tentará compensá-la de alguma forma. Por outro lado, se for daqueles fulaninhos que ficam indignados diante da sua insatisfação e ameaçam pular fora por isso, então trate de tomar a frente e mandá-lo prosquintodosinferno, sem escala, de preferência. Ele lhe fará um tremendo favor ao deixá-la livre pra encontrar um homem decente, que a trate como merece.

HÁ COISAS QUE NÃO SE PEDE.

Carinho, atenção, companheirismo, lealdade, enfim, os ingredientes básicos que compõem a fórmula de um amor de verdade não se deve pedir jamais. Se não vierem naturalmente, é porque não existem de fato. Encare isso com coragem e faça a fila andar, se for o caso. É doloroso? Ô se é! Mas será cada vez mais sofrido se continuar mendigando o que deveria lhe ser oferecido espontaneamente. Se você não se respeita, por que acha que deveria ser respeitada?

FINALMENTE, PARE DE VER NOVELA!!!

Mania tristinha que o povo tem de confundir vida real com o que vê na ficção. Só em novela neguinho pede mulher em casamento logo no segundo encontro. Só em novela as pessoas são charmosíssimas noite e dia, protagonizando cenas de um romantismo perfeito e infinito. A vida real exige uma boa dose de visão prática das coisas, sabe? Ilusão não paga contas, nem enche a barriga de ninguém. A vida passa bem depressa. Então, que tal ser feliz de verdade, JÁ? Só depende de você.


Carolina
(Chico Buarque, 1967)

Carolina, nos seus olhos fundos 
Guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo

Eu já lhe expliquei, que não vai dar
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo. pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor
O amor que já não existe 

Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sou atrapalhada sim. E quem não é?


Não sei se alguém reparou (digam que sim, digam que sim!), mas ando meio sumida. Além dos trabalhos que estão pintando, a obra da nossa nova casa tem tomado um tempão. Chegamos naquela fase em que é necessário escolher tudo a dedo pra aliar beleza, funcionalidade e bons preços. Isso não é moleza. Fico maluquinha com tantas opções, hoje em dia há uma infinidade de revestimentos, metais, louças e esquadrias, uma coisa mais linda que a outra, você não sabe nem por onde começar. E justamente aí é que mora o perigo. Diante de tantas possibilidades, é fácil transformar a casa num circo, caso não se tenha critério.

Na tentativa de fazer as escolhas mais acertadas possíveis, ultimamente vivo com as plantas baixas da casa embaixo do braço. O arquiteto caprichou e fez projeto pra tudo: tem planejamento das fundações, projeto hidráulico, elétrico para locais das tomadas da casa toda, elétrico para iluminação, paisagístico, enfim, um calhamaço de desenhos, que facilitam muito a vida da gente, não é mesmo? NÃO. Pra mim isso tudo complica muito, por uma razão muito simples: depois que abro o raio do projeto, cadê que sei dobrar o trem de novo? Mas meu Deus do céu, quem foi que inventou que o diacho precisa ser daquele jeito? Eis aí a razão do curso de arquitetura durar cinco anos: um dedicado aos desenhos e quatro pra aprender a dobrar o projeto. E olha lá se não for necessário até um MBA em origami!

Confesso que sou um tanto atrapalhada com certas coisas. Talvez seja por isso que me identifico tanto com o Jon Arbuckle, o adorável mocorongo que é dono do Garfield. Sou tão ou mais enrolada do que ele. Por exemplo, fico admirada quando vejo meu japa calçando aquelas luvas de látex num triz. Se dependesse de mim, o paciente empacotaria muito antes de eu conseguir encaixar os dedos nos lugares certos. Também, quem manda inventar um treco tão justinho?

Aliás, por falar em justinho me lembrei de outra coisa bem complicada de colocar na primeira tentativa: meias finas. Não tem uma única vez que acerto logo de cara. Mas me dá uma raiva quando vejo aquela costurinha que deveria estar bem no centro dos interstícios do meu ser toda torta! E não tem jeito, precisa tirar e colocar de novo, senão a falta de enquadramento judia da tala larga.

Há mesmo coisas de uma complexidade absurda. Semana passada soube de uma coitada que perdeu o fôlego pra vestir a tal da cinta do Doctor Rey, aquela que tem um nome enjoado: Lift'n Shape by Slim Control (uau!). Prevenida, começou a se arrumar duas horas antes da festa. Oba, cinturinha de pilão, quem não quer? Pelos pés a cinta passou belezinha. Já nos joelhos começou a dar sinais de uma certa resistência. E quem disse que a encrenca passava das coxas? Puxa daqui, estica dali e... nada. Para pra respirar. Deita na cama, fica de frente, de ladinho, de pernas pra cima e puxa, puxa, puxa... Liga ar-condicionado, ventilador, faz promessa e puxa, puxa, puxa... Ufa, finalmente entrou! E lá foi a beldade pra festa, pulmões compactados a tal ponto que nem a voz da mulher saía, mas com o corpitcho em ciminha. Fico aqui só imaginando o inferno que foi tirar aquilo depois. Só mesmo chamando os bombeiros.

Também soube de outra que se atrapalhou horrores na tentativa de se tornar uma delícia. Pra satisfazer um desejo do amante, que já há 20 anos implorava por um strip-tease, comprou um espartilho daqueles. Queria caprichar no suspense, então escolheu um modelo com milhões de colchetinhos. Só se esqueceu de considerar que duas décadas fazem uma diferença enorme, tanto na silhueta, quanto na habilidade de lidar com coisas cheias de truques. Animada, foi se trocar no banheiro da suíte, queria fazer uma aparição arrasadora, deixando à sua espera um homem babando de ansiedade. Muito tempo depois, entregou os pontos e chamou o sujeito: tinha se enroscado de maneira cruel nos colchetes. O que era pra ser uma noite quentíssima se transformou numa atrapalhação histórica, com os dois se acabando de rir, porque foi preciso pedir um alicate à recepção do motel pra desentortar os colchetes e tirar o espartilho da mulher. Bom, nenhum dos dois pode reclamar que faltou diversão.

Então é isso. Sigo em frente conformada, porque nesse mundo tem gente beeeeeem mais atrapalhada que eu. Justificável, é claro. Tudo culpa dessas coisas complicadas que o povo inventa por aí. Não dá pra ser mais basiquinho não? Ah, fafavô!