domingo, 18 de agosto de 2013

Cortar cabelo dói? Pra quem vai encarar a quimioterapia dói bastante. Na alma.


Cientificamente, cortar cabelo não dói. Isso porque na parte externa, fora do couro cabeludo, os cabelos são formados por células mortas. Sem terminações nervosas, essas estruturas não sinalizam dor para o cérebro quando cortadas. Mas e quando é preciso cortar o cabelo na marra, porque ele vai cair de qualquer jeito com a quimioterapia? Ah, aí dói sim... Muito! Na alma.

Quando a gente recebe a notícia que está com câncer, ao contrário do que muitos fantasiam, não dá pra se sentir heroína e sair por aí pulando animadamente só porque terá a "grata" oportunidade de lutar pela vida. A cobrança da positividade acaba se tornando um problemão a mais pra quem, num primeiro momento, tem todo o direito de ficar revoltada. Oras, dá pra encarar numa boa uma virada repentina como essa na vida? Claro que não. É impossível ficar indiferente às mudanças drásticas que o tratamento acaba trazendo.

Para o espanto dos alegrinhos de carteirinha, é bem comum que uma mulher, quando recebe o diagnóstico de câncer, se preocupe muito mais com a perda dos cabelos do que com a possibilidade da morte. É esquisito isso? É. É um pensamento banal? É também. Mas é assim, fazer o quê? E nem tente entender, porque só quem está com o rabicó na reta sabe como é. 

É verdade, cabelo cresce de novo. Também é verdade que caso a portadora de câncer não se submeta ao tratamento só pra preservar o cabelo, acaba morrendo. Só que dá licença da pessoa se revoltar um bocadinho? Portanto, se esse é seu caso, chore mesmo, xingue, quebre pratos, xícaras, copos, vasos da Dinastia Ming! Você TEM esse direito SIM.

Passou o susto incial? Bom, aí é hora de se transformar no ser mais prático do universo. Seu pensamento precisa ser um só: ficar boa, mas tão boa, que logo vai poder deixar tudo isso pra lá e voltar a reclamar só da unha que quebrou, do saco que é precisar se depilar e por aí vai. 

Mas enquanto o final dessa confusão não chega, que tal ser bem fdp e aproveitar pra se esbaldar com o drama? Um lencinho na cabeça e uma cara pálida podem fazer maravilhas, vá por mim. Cheguei a comprar um celular em cinco minutos numa loja lotadérrima, acredita? Abusei mesmo, dane-se. Sabe quando tem uma fila enorme no caixa e vem um folgadinho passando na frente de todo mundo? Era eu. Pensava: tô com câncer, posso. Chegar atrasada? Tô com câncer, posso. Dar patada em todo mundo? Posso. Faltar a uma festa-cilada? Posso. Pegar vaga especial no estacionamento? Posso, posso, pooooosso!!!

E assim, entre uma sessão de quimo e outra, entre manifestações de revolta e persistentes exercícios de desapego temporário da beleza, entre muitas e muitas lágrimas, é que o tempo vai passar bem depressa e logo você será a mesma pessoa que sempre foi. Bem, MESMA pessoa? Acho que não. Chegar tão pertinho da morte transforma muitas coisas e a gente aprende demais com essa experiência. Dá pra ficar muito melhor do que era antes, isso sim.

Parece um pesadelo, mas o legal é que tudo PASSA! Passou pra Brigitte Bardot, Patrícia Pillar, Shirley Temple, Joana Fomm, Drica Moraes, Márcia Cabrita, Elba Ramalho, Ana Maria Braga, Norma Blum, Joyce Pascowitch, Constanza Pascolato, Jane Fonda, Olívia Newton John, entre muitas outras celebridades... Passou pra mim... Vai passar pra você também! 

Ah, e antes que eu me esqueça: CABELO CRESCE DE NOVO MESMO, tá? Olha só como está o meu agora:



"Mas, se apesar de banal,
Chorar for inevitável,
Sinta o gosto do sal.
Gota a gota, uma a uma.
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre...
A cada mil lágrimas sai um milagre."

(Trecho da música "Milágrimas", de Itamar Assumpção)    

Foto de DINA GOLDSTEIN.

7 comentários:

  1. É isso aí. Dentre todas as surpresas que surgem no dia a dia e que precisam ser superadas, o mais importante é nunca desistir de si mesmo. Seu testemunho sempre será exemplo. Bjão no coração! Cássia

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  2. Muito bommm, Tânia.
    Beijo do tamanho do mundo.

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  3. Uia! Só hoje que fui ver esse post. O grande "salto quântico" é: 'eu posso continuar a ser integralmente EU, tintin por tintin , sem o câncer'. A coisa mais valiosa que sai junto com o cabelo são as máscaras que usamos pra levar a rotina. Descobrimos que estamos carecas e não vamos mais dar mole porque já demos mole demais pros outros.Se o cabelo não caísse, talvez ainda continuassemos camuflando nossas verdades.O simbolismo ancestral do cabelo, para as mulheres, reflete isso. Nem acho que é 'agora eu tenho câncer, eu posso' (salvo os benefícios legais). Acho que é : eu sou uma mulher careca e posso tudo.Foi quebrado um paradigma. E se outra doença derrubasse o cabelo? Viajei... Mas foi um insight.

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  4. Um beijinho do tamanho do mundo, Tânia e parabéns pela coragem. Tem todo o direito de reclamar, chorar e gritar, sim. A dor é sua e só você sabe o que passa. Fica bem, amiga!
    Emília

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  5. Amiga Tânia, que vida corrida é essa que levamos e nem ficamos sabendo das novidades de nossas blogueiras favoritas. Novidades boas e ruins, para alegrias e para colos de consolo! Olha, também já passei pela "fase" do câncer de mama. Felizmente foi descoberto bem na início e não precisei fazer químio, só a radio e a retirada parcial de uma mama (quadrantectomia). Contei minha experiência em: http://multivias.blogspot.com.br/2012/10/via-vida-cancer-de-mama-venci-fui-mais.html
    Pela sua lista de famosas, estamos em boa companhia, rs. Bjs!!!

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  6. Eu Maria Janir Da Silva Rodrigues, estou com câncer de mola ,é duro ter apenas 21 anos e ter q encarar isso, mas eu vou vencer.

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