quinta-feira, 26 de julho de 2012

O susto da "guerreira"



Três meses depois do diagnóstico do câncer ductal invasivo de mama tô aqui, firme (hum...) e forte (hum de novo), seguindo com o tratamento. Terminei a fase que imagino ter sido a mais complicada - quimioterapia com a combinação de dois remédios bravos (vermelhinho e branquinho), que trucidam o tumor e, de quebra, detonam o que estava bom também. Agora farei 12 sessões semanais, mais fraquinhas. Depois vem a cirurgia (o povo estranha, mas é assim mesmo: faca só depois da quimio, que é neoadjuvante e tem como objetivo reduzir ao máximo o tumor antes de operar), sessões de radioterapia e, então, c'est fini. Ufa, ufa!

Imaginar o que tudo isso significa na vida de alguém até que não é complicado, antes eu também fazia ideia. Só que agora EU SEI como é. Putz, como sei!

Todo mundo, por diversas vezes na vida, passa por sufocos. Num dia é uma dor de cabeça daquelas, no outro um mal-estar danado, estômago embrulhado, ardendo em brasa... Dor nas pernas, nas costas, nos braços, em tudo que é parte do pobre ser... E as dores na alma, então? Não há quem nunca tenha enfrentado crises existenciais, dúvidas, decepções, raiva, tristeza, angústia... Enfim, basta ser humano pra fatalmente sentir essas coisas, uma hora ou outra. O que torna o portador de câncer diferente é que ele sente tudo isso e mais um pouco ao mesmo tempo. De repente, sem mais nem menos, a vida vira do avesso e você tem que lidar com uma situação absolutamente cascuda. É um choque de realidade, daqueles megaeletrizantes, com zinzilhões de volts.

Acha pouco? Quer mais? Tá, então lá vai, porque o perrengão não para por aí.

Ao contrário do que muita gente (todo mundo?) espera, não tô tirando isso de letra. Sei lá quem inventou que a pessoa com câncer é obrigada a ser "guerreira"! A verdade é que a duras penas tô sobrevivendo e faço isso porque não tenho escolha. Vou em frente apoiada nos médicos, nas enfermeiras, no japa, na minha irmã e em todos os que me seguram, impedindo que eu me arrebente no chão. 

Ontem reparei numa coisa engraçada. Quando ando por aí toda produzida, as pessoas me olham e logo abrem um sorrisinho simpático, por vezes acompanhado até de cabeça inclinada de ladinho. Percebi que é uma manifestação de aprovação diante do meu empenho em insistir na beleza e na atitude positiva, mesmo carregando comigo uma doença grave. Como se fosse muito natural pra mim agir desse modo, moleza me tornar apresentável, tranquilão mostrar os dentes... Sinto informar, mas na atual situação não é. É complicadíssimo me olhar no espelho e ver uma pessoa que desconheço, transformada pelo que demagogicamente se considera "o de menos": falta de cabelos, de cílios, de sobrancelhas, inchaço, pele craquelando... Dá um trabalho do cão melhorar essa condição, especialmente quando estou debilitada pela baixa da imunidade. Trabalho dobrado, então, quando preciso botar freio nas lágrimas ao ver a triste figura em que temporariamente me tornei, o que acontece muitas e muitas vezes. 

É isso aí, a "guerreira", coitada, se assustou com o turbilhão de novidades. Sabe por que? Porque, simplesmente, ela não quer ser guerreira, nem coitada... Quer apenas ser uma pessoa que, como tantas outras, é humana, fica com câncer e se vira pra resolver isso. Que no meio do caminho chora, ri, cai e se levanta pra, devargazinho, chegar lá e ter o direito de ser recompensada não com um troféu, mas com a retomada da vidinha normal que levava antes deste sufoco. Só isso, mais nadica de nada.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Dia feliz + presente sacana




Depois de muitos dias cascudos por causa da quimio - imunidade baixa, inchaço, feridas na boca e no nariz, unhas pretas e uma dor de estômago do cão - hoje foi um dia de alegria e muitas risadas.


Alegria

Última sessão de quimio forte. Último xixi vermelho. Agora só mais 12 semanais, fraquinhas. Excelentes notícias:

1. Nódulo já bem pequenininho e de sólido vai ficando líquido. Até o final da quimio estará dissolvido;

2. O médico já mandou parar com a maquininha pra tirar as poucas penugens... MEU CABELO VOLTARÁ A CRESCER BONITÃO!!!

Quimio vermelha cumpriu sua função direitinho. Agradeço, mas me despeço sem rodeios... Vermelhinha, bye bye! Até nunca mais, se Deus quiser!

Bem feliz!!! :-D


Muitas risadas

Já contei aqui que o japa, por causa da cultura oriental, tem a mania esquisita de receber presentes e não abrir na hora. Eu e minha curiosidade ficamos fulas com isso. Aí ontem minha sogra chegou aqui com um presente tardio, oferecido por uma prima pelo aniversário dele, ocorrido no longínquo mês de junho. Putz, japa no plantão, precisei esperar até hoje pra ver o que era. Ele abriu logo que chegou? Não, é claro. Tsc. Haja unha preta pra roer!

Ligeiramente coagido de morte, acabou abrindo o presente, mas só depois que retornamos da minha sessão de quimio. Aff, que demorildo! Quem não teria o irresistível interesse de ver imediatamente o que há dentro de uma bela sacolinha da Dryzun Joalheiros? Poderia ser um magnífico Rolex. Ou, quem sabe, uma Montblanc com pena de ouro bem da bacanuda?! 

Só que pobre não tem sorte mesmo. E com uma prima sacana bacana, então!...

A sacolinha não passou de mero meio de transporte para o embrulho. E no pacote, mais uma - das centenas que ganha, sempre da mesma pessoa, comprada na mesma loja e com o mesmo papel, durante anos e anos a fio - camisa polo branca. Exagero? Olha isso (amostra dos últimos cinco anos):


Rimos demais com a "surpresa", o closet tá virando estoque de polo branca. Mas valeu, claro! Ganhar presente é bom de qualquer jeito. Ainda melhor seria se eu pudesse usar também, né? Fica aqui uma campanha ferrenha pra que só dêem a ele presentinhos unissexy, tá legal?