sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Nascida em 31 de dezembro...

Nascer no dia 31 de dezembro não é moleza... Primeiro porque quando você diz a data do seu aniversário, ouve sempre as mesmas coisas:

- Nossa, nasceu no dia 31? Não acredito! (que me desculpem os mais perplexos, mas o dia 31 é um dia como outro qualquer e crianças nascem nesse dia também - e como nascem!).

- Puxa, você atrapalhou a festa da sua mãe! (ahaaam...)

- Mas que beleza nascer num dia de festa! (ô, ma nem!...)

Procuro me iludir, fazendo de conta que a sensacional explosão de fogos de artifício acontece só por minha causa. Que todos brindam por mim. E que o mundo todinho comemora meu aniversário.

A realidade, porém, se mostra cruel... Basta olhar meus perfis em redes sociais pra entender o que quero dizer. Já acho até graça por receber parabéns com uma semana de antecedência, afinal, no dia 31 todo mundo tem algo melhor pra fazer. Neste ano, inclusive, tenho um amigo virtual que bateu o recorde da antecedência. Prevenidão, já me deu parabéns na semana passada. Ah, mas tudo bem, vai... Melhor que nem ser lembrada.

Existe, entretanto, um certo charme por aniversariar num dia tão especial. É uma data da qual ninguém esquece. E cá entre nós, até me sinto importante por dividir a honra de ter nascido nesse dia com algumas personalidades ilustres, entre elas: Rita Lee, Anthony Hopkins, Donna Summer, Ben Kingsley, Val Kilmer (esse nasceu exatamente no mesmo dia que eu!), Pedro Cardoso (o Agostinho! kkkkkk!!!), Luciano Szafir e o magnífico Henry Matisse.

Presente, então, é um capítulo à parte. Aliás, todo mundo que faz aniversário a partir do dia 24 há de concordar comigo: acaba ganhando um só. Bom, eu já modifiquei um pouco esse quadro desolador com minha habitual ladainha e ganho presente de Natal e de aniversário também. Não tenho dó nem piedade, afinal, décimo terceiro serve pra que?

Enfim, só nós, os "dezembrinos" das vésperas, é que sabemos da dor e da delícia de nascer nas semanas mais festivas do ano. E que nem me venham com o papo de que especial e divertido mesmo é nascer no carnaval. Até porque nós é que somos os belos produtos "made in festa pagã"... Nove meses depois do alalaô rasgado dos papais e mamães mais salientes é que surgem os pobres (porém, perdão pela pouca modéstia, fantásticos!) "dezembrinos".

Aproveito pra deixar aqui meus agradecimentos aos leitores que pacientemente e com tanto carinho acompanharam meu trabalho ao longo deste ano. Desejo, sinceramente, que 2009 venha lotadinho de alegria, paz e muita surpresa bacana pra todos. Valeu!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Aiko não foi "apenas um cão"...

Já escrevi tanto aqui, falei das dores e alegrias humanas, das coisas que vejo, daquilo que penso. Hoje, mesmo sem tanto ânimo, não pode ser diferente e preciso expressar minha tristeza por ter perdido meu companheiro querido no último dia 29. Imagino que será um post pouco interessante, que nem inspire comentários, mas asseguro que entre tantos os que escrevi será, sem dúvida, o que melhor reflete minha alma nesse instante.  

Começo falando sobre o que muitos devem considerar um exagero, afinal, era "apenas um cão"... Aiko, "apenas um cão", foi meu companheiro por quase 11 anos. Durante todo esse tempo, houve muitas e muitas vezes que meus momentos mais felizes foram proporcionados por ele. Foram tantas as horas em que minha única companhia era Aiko, "apenas um cão"... Alguém que nunca se importou se eu tinha dinheiro ou não, se era bonita ou feia, gorda ou magra, se estava de mal-humor, se tinha tempo ou não, se eu envelhecia, enfim, numa entrega absoluta e incondicional sempre esteve ali, completamente pra mim.

Nunca subestimei sua capacidade de me compreender. E nossa comunicação era tamanha, que acredito mesmo que fosse capaz de me entender melhor do que ninguém. Agitado, sempre fazia uma festa louca quando eu chegava. Diante disso, não havia tristeza ou aborrecimento que pudesse persistir por muito tempo. Mas em momentos graves, como na ocasião da morte de minha mãe, a festinha dava lugar a lambidinhas suaves e uma cabecinha gentilmente debruçada sobre o meu colo, respeitando minha dor e se solidarizando com ela, me dando conforto e motivos pra seguir em frente.  

Aiko, que era "apenas um cão", soube me transmitir a verdadeira essência do que significa amizade, confiança, respeito, paciência e compaixão, contribuindo imensamente pra que eu me tornasse uma pessoa um pouco melhor. Tentei retribuir o tanto que ele me ofereceu com tudo o que esteve ao meu alcance, mas, inevitavelmente, sempre fica a incômoda sensação de que poderia ter feito mais e melhor. No último sábado, antes da derradeira ida ao veterinário para colocar fim ao cansaço e dor que já haviam se estabelecido por conta do peso da idade, fiz uma das coisas que mais lhe davam prazer: o escovei cuidadosamente, perfumei, lhe dei muito carinho. E assim, Aiko, que era "apenas um cão", se despediu de mim, com um olhar agradecido e um sono sereno, mais uma vez me confortando por saber o quanto essa separação seria dolorosa.  

A única coisa que espero é que um dia as pessoas entendam que Aiko não foi "apenas um cão"... Foi meu companheiro, alguém que me tornou mais humana e que me ensinou a não ser "apenas uma pessoa". Se de tudo que passa pela vida da gente sempre fica um pouco, garanto que Aiko estará eternamente INTEIRO na minha memória e no meu coração. Vá em paz, companheirão!... Vá na certeza de que você me ofereceu bem mais do que muita gente...

AIKO ( 03/02/1998 -  29/11/2008)

domingo, 26 de outubro de 2008

Barata: respeito antes da chinelada!

Ah, o verão!... Com ele chegam o sol que bronzeia, muita praia, caipirinha e... baratas!!! Dias atrás, com mais três amigas, resolvi inaugurar a temporada de praia. Lá fomos nós, pra um bate-volta rapidinho, só curtir o dia de sol. Antes de meter o pé na areia, passamos pelo apartamento de uma delas pra trocar de roupa e deixar nossas coisas. Apartamentos de praia sempre me deixam aliviada, afinal, o risco de enfrentar surpresas desagradáveis é mínimo, ao contrário das casas térreas que abrigam toda espécie de seres tenebrosos quando estão fechadas por um longo período. Assim, absolutamente desencanadas e ansiosas por diversão, entramos as quatro juntas num elevador apertadíssimo, onde o único jeito é brincar de "como está, fica". Só que mulher quieta num único lugar é missão quase impossível. Ainda que não se possa mover um músculo, os olhinhos passeiam por todo canto. De repente, um grito: "AAAAAAAAAAHHHHHH!... UMA BARATAAAAAAAAA!!!". Em fração de segundos, mais três gritos: "AAAAAAAAAHHHHHH!... SOCORRO! ONDE? OOOOOOONDEEEEEEEE???". Outra fração de segundos e as quatro já estavam amontoadas num único canto do elevador, que a essa altura já tinha espaço pra mais meia dúzia de pessoas. Nem preciso dizer que, embora nosso destino fosse o quarto andar, esse foi o trajeto mais demorado das nossas vidas. Pô, barata dentro do elevador é sacanagem demais! Isso só prova minha teoria de que esse ser repugnante evolui mais a cada dia e aprimora suas estratégias de vingança contra os humanos. O Q.I. da barata só pode ser elevadíssimo, por isso seu poder tático jamais deve ser subestimado. Trata-se de um ser vingativo, que tem um coração transbordante de ódio pelas pessoas e uma resistência indevassável. Não é à tôa que o bicho sobreviveu aos milhões de anos de existência da Terra e não sucumbiria nem em meio a um holocausto nuclear. Concluí que as baratas hibernam só pra bolar novas estratégias bélicas, que deixariam Hitler parecer um tolinho. Confinadas em bunkers equipados com a mais alta tecnologia científica, passam o inverno todinho armando ciladas surpreendentes, como aparecer dentro de um elevador lotado só de mulheres, por exemplo. Onde já se viu isso?! Além de praticamente indestrutível, o bicho ainda é místico e pressente sua presença. E mais: prevê sua presença e percebe, sei lá como, que você se borra de medo dela. Por isso, de tão destemida e atrevida que é, jamais titubeia em ir diretamente ao seu encontro, principalmente se for voadora. E mais principalmente ainda se a vítima for uma mulher tão cagona quanto eu. Aí lá vem a tal conversa: "Barata não dá medo, dá nojo". Ah é? Pois confesso: tenho nojo de barata sim, mas, acima de tudo, tenho medo, MEDO!!!! Aliás, por pior que seja seu aspecto e por mais que saiba que a nojenta anda pelos buracos mais imundos do planeta, a safada se apresenta sempre limpinha, repleta de uma queratina reluzente. Se enfia no esgoto pra ver como é que você vai sair de lá... Acha que sai todo pimpão e garboso como a barata? Por tudo isso o poder de fogo dessa inimiga implacável tem que ser respeitado e, mesmo com o cabelo em pé, exterminá-la é tarefa que não se deve delegar a ninguém, principalmente se for um homem. Em geral, pra exibir sua autoconfiança típica de macho e ridicularizar o pavor da mulher, o homem sempre irá enganá-la, dizendo que o bicho já está morto ou foi embora. Uma mulher esperta jamais deve se fiar nesse papo e tem que determinar a condição imprescindível pra encerrar o assunto de vez: a apresentação do cadáver. E aproveitando que o homem fez a gentileza de trucidar o bicho, que desove o cadáver também. É isso aí, homem que é homem mata barata com o pé e, bem valentão, ainda cata o bicho pela anteninha (bleeeeeeeeergh!!!!). Medo de barata é mesmo coisa de mulherzinha. E o vídeo abaixo não deixa nenhuma dúvida quanto a isso... Hihihi!!!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Coisinhas (muito!) irritantes

Sei que nos últimos dias aconteceram coisas bem importantes e até trágicas, que mereceriam uma discussão séria. Só que no momento preciso desabafar (e protestar) sobre um drama pessoal. Hoje levei o maior baile de uma embalagem, que não abria de jeito nenhum. Mas que raio se passa na cabeça dos fabricantes que colocam aquele fiozinho plástico nas embalagens e se limitam a um simples "abra aqui"? A coisa é simples assim? Não. Primeiro que você não acha a maldita ponta do fiozinho. Passa unha pra cá, cutuca pra lá e nada da porcaria aparecer. Quando finalmente encontra e vai puxar, cléc! A desgraça arrebenta. Aí a embalagem ficará eternamente fechada, a menos que você meta uma faca ou uma tesoura nela. Foi o que precisei fazer hoje com um pacote de bolacha. Depois de milhões de tentativas de encontrar a ponta do maldito fiozinho, "calmíssima" que já estava, mandei uma tesourada no pacote. Resultado: bolacha voando pra todo lado. Aposto que se olhasse melhor as instruções da embalagem, encontraria o seguinte: "Abra aqui... Se conseguir, seu trouxa! kkkkk!". Ou então "O homem de bom coração que conseguir abrir esta embalagem será o novo rei da Inglaterra". Tá certo... Deixa estar, que o mundo é redondinho. Outra coisa que odeio é etiqueta de roupa que pinica. Aliás, todas as etiquetas pinicam. O jeito é cortar essas desgraças e depois pagar o maior mico de vestir a roupa do lado errado. Sem contar com os rombos que podem acontecer em roupas novinhas, na vã tentativa de se livrar da desgraça. Minha mente não é perturbada (será?), nem tenho mania de perseguição. Mas depois de tanto lutar contra esses problemas de embalagens e sentindo até a alma coçar por causa das famigeradas etiquetas, concluo que os fabricantes fazem tudo de propósito, só pra rachar o bico com o desespero de consumidores incautos como eu. No caso das etiquetas, observei bastante e concluí o seguinte: 1) Toda etiqueta é costurada 300 vezes no mesmo lugar, com a clara intenção de que você nunca, jamais, never, em tempo algum consiga arrancar a desgraçada da peça; 2) As etiquetas têm vida própria e são bem temperamentais. Assim, quanto mais cara e mais cheia de nhenhenhem for a roupa, mais difícil será arrancá-la de lá; 3) Etiquetas maiores são mais amigas e mais fáceis de serem retiradas. Já as menores e supostamente meigas, são as mais perigosas e piniquentas; 4) O fabricante que costura a etiqueta bem na pontinha e junto com a costura da própria roupa deveria ser submetido a um pelotão de fuzilamento; 5) Pra quê etiqueta numa calcinha, my God, pra quê? Só pra gente ter que cortar, arregaçar a calcinha nova e ainda ficar com aquela pontinha empipocando a bunda da gente; 6) Etiquetas são produzidas com um único objetivo: dar coceira. Ponto. E pensar que ultimamente não basta uma única etiqueta na roupa. Com a clara intenção de enlouquecer o consumidor, os fabricantes pregam centenas de etiquetas na mesma peça, dando a sensação de que você caiu num formigueiro, tal e qual o injustiçado Negrinho do Pastoreio. Tá me achando uma xiita bem fundamentalista? Isso porque ainda nem falei o que penso sobre os manuais de instruções de aparelhos em geral...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Mulheres machistas

Há alguns dias atrás recebi o e-mail de uma leitora que gostaria de saber minha opinião sobre uma questão que espantosamente ainda atormenta a cabecinha de muitas mulheres: sexo já no primeiro encontro é legal? Me contou que se encontrou com um sujeito e na empolgação foi pra cama com ele logo de cara. Foi bom, se sentiu muito bem na hora, mas o resultado disso foi o sumiço da criatura. Nem vestígio do infeliz encontrou mais no dia seguinte. Por isso se tortura, considerando que agiu mal, inclusive respaldada pelos comentários das amigas, que a condenaram por ser tão impetuosa e não se valorizar devidamente.

"Mais patético do que homens machistas, só mesmo mulheres machistas também. Até quando vão achar que pra serem respeitadas devem se privar de viver plenamente tudo o que querem?"

Quer mesmo saber minha opinião? Então tá, vamos lá. Penso que a moral de uma mulher não se mede pelo tempo que ela leva pra topar ir pra cama com alguém, mas por coisas muito mais profundas e relevantes de verdade.

Acho que antes de ficar encafifada, se sentindo a maior depravada do planeta, seria melhor que ela parasse pra analisar o tipinho com quem teve a infelicidade de dividir um momento tão especial. Será que valeu a pena perder um tempo precioso com alguém tão preconceituoso, machista e atrasado? Fala sério, que importância tem o que o porcaria pensou ou deixou de pensar depois? Tem algum cabimento ter a coragem de se sentir culpada por causa do lixo que estava tão louco por sexo quanto ela e agora a despreza? Esse infeliz não passa de um babaca, que merece se relacionar apenas com mulheres tão hipócritas quanto ele e, conseqüentemente, equilibrar o monte de chifres que inevitavelmente vai carregar nessa cabecinha provinciana e limitada.

Pior que isso, no entanto, foi a opinião das amigas. Caramba, mais patético do que homens machistas, só mesmo mulheres machistas também! Até quando vão achar que pra serem respeitadas devem se privar de viver plenamente tudo o que querem? Por que um homem pode (e até deve) sentir desejo sexual quando bem entende e a mulher não? Decência, minhas caras, se mede por atitudes sinceras e espontâneas. Indecente e sem valor nenhum é quem passa a vida fingindo e vivendo à sombra de convenções ridículas e sem nenhum fundamento.

É incrível como as próprias mulheres se sabotam com atitudes e pensamentos que sempre as colocam abaixo dos homens. As mulheres não se dão conta de que são as maiores perpetuadoras do machismo. Machinhos saem prontos de casa, fabricados com carinho e amor por mães que não se dão ao respeito enquanto mulheres e seres humanos que são. Filhinhas aprendem ainda hoje com mães machistas que seu bem-estar e sucesso dependem de algumas atitudes esteriotipadas, do tipo sentar de perninhas fechadas, ser bem educadas em tempo integral, submissas, cordatas e suaves até na maneira de falar.

Posso garantir que como mãe de um cara de 23 anos faço a minha parte. Desde a mais tenra idade o sujeito ouve de mim que lavar uma louça, por exemplo, não fará com que o pênis dele caia podre no chão. Que homem de verdade é aquele que não enfrenta tempo ruim, se vira e é auto-suficiente. Que pra ser homem, acima de tudo, precisa saber compreender e respeitar as outras pessoas através de conceitos consistentes e valores reais.

Me dá nos nervos ter que discutir esse tipo de assunto ainda hoje. É gente morrendo de fome e assassinada pra todo lado, é um sistema político totalmente corrompido, é o caos da civilização e eu aqui, falando de bobagens tão óbvias e ultrapassadas. Ah, dá licença, né?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Fábrica de sonhos

Adoro curtir um bom filme, daqueles bem "cults", que pouca gente aguenta assistir sem dormir. Mas, pra espairecer legal, gosto mesmo é de um trash rasgadão.

Um filme trash não é necessariamente ruim, apenas exige um estado de espírito que permita enxergar a obra com olhos sarcásticos o suficiente pra se deixar levar pela história.

Ontem assisti "Lenda Urbana", um suspense obviamente previsível e bastante reprisado, mas muito divertido sob o ponto de vista analítico. O final da história é estarrecedor. Não pelo fator surpresa, ao contrário. É que o óbvio chega a ser tão escancaradamente ululante, que me deixa boaquiaberta.

No exato instante em que a vilã (melhor "amiga" da mocinha, que não sabia da trairagem da outra, lógico) ía dar o golpe de misericórdia no casalzinho sobrevivente a uma série de assassinatos, a policial que tentou matá-la sem sucesso e levou uma azeitona na barriga por causa dessa incompetência, antes do provável último suspiro, manda um tiro que acerta no braço da malvada. Esta, por sua vez, mais malvada ainda depois de tomar o pipoco, parte furiosa pra cima do casalzinho, que inadvertidamente não aproveitou essa confusão pra evaporar dali. A mocinha, num ímpeto tardio de agilidade, se apodera da arma que estava no chão e manda um balaço no peito da malévola, que, com o impacto, é jogada janela abaixo e se estatela no chão. Mal sabia o casal apaixonado que a vilã era de borracha... Depois de um longo beijo (!!!), já dentro do carro e fazendo planos para o futuro, são atacados pela doida que estava no banco de trás (the big surprise!). E a mulher tava com tudo! Tiro no braço, rombo no peito, fraturas múltiplas pela queda, tudo bobagem. Finalmente, após a ação calculada com exatidão pelo mocinho em questão de segundos, a diabólica é arremessada pelo vidro do carro e vai direto pro rio, onde comprovadamente é dada como morta por estar boiando. E não é que no final, depois de passados alguns anos, a mesma maluca aparece de novo? E dá-lhe Lenda Urbana 2, 3, 4... 549.

Aí fiquei pensando que em Hollywood as regras foram feitas pra ser quebradas. Olha só:

. Quando um vilão aparece morto, NUNCA ESTÁ. Mas não se preocupe, porque o herói sempre verá quando ele está chegando - mesmo estando de costas. E ainda que não o veja, ao ser supreendido pela morte eminente, contará com o auxílio decisivo da mocinha ou do coadjuvante feio e bobão, que irão acabar com a raça do malvado;

. O telefone toca. O herói/mocinha atende. "Aló. Sim. Ok. Obrigado." (tempo total da conversa: 5 segundos; e sem tchau, porque nos filmes ninguém se despede nunca). Em seguida, o herói/mocinha se vira para o coadjuvante: "Era Backer. Ele disse que Kate foi para o escritório há mais ou menos uma hora. Ela já deveria estar lá agora. Ele ligou pra lá, mas ela não está. Ele também ligou para John e ele ainda não a viu. Você sabe como a Kate é difícil. Ele disse que se não conseguir encontrá-la, vai chamar a polícia. É melhor irmos pra lá, rápido!" (aliás, às avessas, isso me lembra do meu irmão... Depois de passar uma hora falando com alguém, quando a gente pergunta "E aí, o que ele disse?", o espírito de porco responde ultra-sinteticamente: "Ué, nada!". Ai, ai, ai, ai-ai!);

. O modo mais eficiente de salvar uma vítima de parada cardíaca (bem melhor que o uso de desfibrilador) é gritar coisas como "Você nunca desistiu de nada na sua vida, Carol! Agora lute, LUTE!" ou "Não faça isso comigo, Carol. Eu te amo, droga!" (quase sempre isso dá um excelente resultado, o SAMU deveria adotar essa medida prática e eficiente com urgência. Opa... Peralá! Só que tem um médico que não estará autorizado a usar a segunda alternativa do método "jamé", a patroa aqui não permite);

. Quando estrangeiros (especialmente latinos) aparecem nos filmes americanos, falam inglês perfeitamente, mas NUNCA aprendem a falar sir ou thank you... Dizem señor e gracias;

. Toda fechadura pode ser aberta por um cartão de crédito ou por um clipe de papel. E os cofres dos maiores bancos do mundo são vulneráveis a qualquer gatuno com estetoscópio;

. Uma pessoa atingida por um tiro morre sempre na hora. O corpo nunca sofre com músculos se contraindo involuntariamente, enquanto o cérebro sofre morte lenta por falta de oxigenação. Vê lá se o Keanu Reeves ou o Brad Pit vão passar por um perrengue desses! Os lindérrimos jamais vão aparecer de língua pra fora, babando e fazendo annnhajjajaaammmarr... rhhrhuurhhuuhhhmm... Não rola;

. Elevadores de filmes sempre estão prontinhos no térreo ou chegam no exato instante em que a conversa termina. A não ser quando alguém está sendo perseguido, aí o jeito é ir pelas escadas, em geral abertas, pra que o perseguidor tenha boa visão do perseguido (que de minuto em minuto sempre dá uma paradinha pra olhar pra trás);

. Toda mãe de filme prepara um gostoso café da manhã com ovos, bacon, torradas e tudo mais. A família, porém, sempre passa correndo pela mesa, com tempo apenas para tomar um gole de café ou suco (deve sobrar muita comida em Hollywood! Mas isso também acontece nas nossas novelas... Ainda bem que aqui a gente é pobre e tudo é cenográfico, daí não sobra nadinha. A mesma maçã que passou pela "Favorita", roda pelo "Porra... ui! Zorra Total" e cai nas mãos da "Turma do Didi");

. Garotos de 8 a 10 anos de idade são os melhores hackers do mundo... se usarem óculos;

. As garotas que nunca conseguem pares para o baile de formatura ficam sobrando por causa da feiura (feiura = óculos + cabelo preso). Revoltadas, resolvem ficar gatíssimas e passam por uma transformação radical no visual: começam a usar lentes de contato e soltam os cabelos. Finalmente maravilhosas, acabam sempre eleitas como rainhas do baile e nos braços do gostosão da história;

. Pra terminar, após uma perseguição a pé ou de carro, das lutas com os capangas, dos sucessivos salvamentos à mocinha à beira da morte, da demorada e desgastante batalha com o vilão, depois da explosão do QG do mal, com as roupas rotas e rasgadas, cheio de cortes e toda sorte de ferimentos pelo corpo, o herói, mesmo sapecado, sempre faz uma piadinha e diz pra mocinha: "Querida, você não vai à festa com essa roupa, vai?". Um sorriso Colgate, um longo beijo e the end. Ufa! Que ânimo invejável!

Definitivamente estou ficando velha, chata e realista demais.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Coitado do português!

“Boa tarde meus cameramen maravilhoso”, “Olha só, minhas bonitinha de casa”, “As féria das criançada tá acabando”, "Essa é uma das receita que as amiguinha manda pra mim fazer"… Dou um doce pro espertinho que adivinhar quem massacra nosso pobre português desse jeito. Sim, ela mesma, a impagável Palmirinha Onofre, culinarista que está no ar diariamente na TV Gazeta. Palmira é a maior engolidora de "s" que conheço. É também uma simpática senhora, que tem um jeito muito alegre e meio atrapalhado de ensinar suas receitas. Que faz do seu programa uma extensão da casa da gente, com uma simplicidade aconchegante e muito divertida.
"O que pensar de alguém que não consegue dominar nem o próprio idioma? Ainda que o trabalho não exija redação constante, pelo menos um bilhetinho a criatura manda de vez em quando, né?"
É meio complicado achar legal ver na TV alguém falando tão errado, principalmente quando se trata de um veículo com tamanha responsabilidade social. Mas a simpática culinarista representa um típico caso em que os erros são sublimados por características regionais e outras implicações culturais. Quem vai exigir da Palmirinha, uma senhora interiorana de 77 anos, que passe a utilizar um português impecável? No caso dela, inclusive, isso já virou uma marca registrada. Há, porém, casos imperdoáveis, especialmente quando partem de pessoas que têm o compromisso de se comunicar dentro da mais absoluta correção. Pior ainda quando o erro é cometido simplesmente por preguiça de fazer direito. Veja estes exemplos e depois me diga se não são de doer (observe que nos dois casos a palavra é repetida, uma vez com o jeitinho hediondo e outra do jeito correto): Não sou dona da verdade e também cometo muitos erros. Mas tento, na medida do possível, me sintonizar bem com nosso idioma, que é complicadinho de verdade, reconheço. Só não aguento quando acontece uma coisa assim: - Olha, a gente vamos aí amanhã, tá? - Não é "a gente vamos"... É "a gente vai". - Ah, você entendeu, não entendeu? Então pronto. Ninguém é obrigado a ser perfeito, todos erramos, mas o duro é errar de propósito e achar que não há problema algum nisso. Uma coisa é ser simples, como a Palmirinha e tantas outras pessoas que vemos por aí. Outra bem diferente é ser ignorante porque se quer. E não é bonito ser burro. No mundo virtual, então, meu Deus! Estão assassinando o português a tecladas, tem coisas de sangrar os olhos. O uso do cedilha, por exemplo, se tornou livre, leve e solto. A regrinha básica de que não se usa jamais o cedilha em "c" que precede as letras "e" e "i" foi abolida. Daí o festival horrendo de "voçê", "mereçe" e outras barbaridades. Hoje mesmo vi no Orkut esse recadinho de "arder os zóio", escrito por uma suposta professora prestes a se aposentar (copiado e colado ipsis litteris): "Sempre decidi voto no 45. mais meus filhos vota nno 40 o que vale é o klebe não ganha pois não dependo de prefeitura sou efetiva e ja estou me aposentando o na que vem pra vc que não sabe. xau e não se encomode com minha vidapois dela cuido EU." Credo, credo, credo! Pendure as chuteiras mesmo, filha... E já vai tarde! Essa falta de discernimento atrapalha bastante até na hora de fazer uma pesquisa na Internet. Outro dia uma pessoa queria encontrar uma determinada empresa de limpeza urbana. Sugeri uma busca no Google. Após diversas tentativas, a pessoa diz que não tem. Como assim??? A anta estava digitando "limpesa"!!! Fico espantada ao ver erros gritantes cometidos por gente com formação acadêmica suficiente pra escrever de um jeito mais decente. Tenho uma amiga muito querida, advogada, que escreve absurdamente errado. Se a gente parar pra pensar que o único instrumento de trabalho do advogado é a palavra, então isso se torna imperdoável e péssimo pra imagem do profissional. Inclusive, na minha opinião, esse exemplo derruba a tese de que só escreve bem quem lê bastante. Afinal, no curso de direito o aluno não faz outra coisa, senão ler alucinadamente. Já vi erros cabeludos cometidos por médicos, engenheiros e outros profissionais com formação superior. É a velha mania de achar que se a comunicação escrita não for fundamental pra realização do trabalho, então torna-se dispensável o uso de regras ortográficas. Caramba, quem é respeitado se não consegue se comunicar bem, seja da forma que for? E o que pensar de alguém que não consegue dominar nem o próprio idioma? Ainda que o trabalho não exija redação constante, pelo menos um bilhetinho a criatura manda de vez em quando, né? Enfim, acho que não precisamos deixar a língua portuguesa complicar a rotina, mas hoje em dia tudo fica muito mais simples quando se tem acesso à informação online. Esclarecer dúvidas de acordo com as necessidades é moleza. Além de um montão de sites disponíveis, dois que acho bem legais são Mundo Vestibular e Priberam, com excelentes dicas de ortografia, acentuação, pontuação etc. Não custa nada dispensar uns minutinhos e usar, né?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Frase feita 2 - Alguns absurdos

Depois da postagem de ontem percebi que falar sobre frases feitas gera boas discussões, o assunto é extenso. E se torna até polêmico quando observamos o que é ou não "politicamente correto".

Um exemplo legal de polêmica é a tal cartilha "Politicamente Correto", lançada recentemente pelo governo. Irrelevante e com o jeitão autoritário que caracteriza o atual governo, a cartilha foi elaborada pelo professor Antonio Carlos de Queiroz, da Universidade de Brasília, a pedido da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Trata-se de uma lista com 96 expressões/palavras consideradas pejorativas pelo autor e que devem ser evitadas pelo povo. Como a publicação causou uma controvérsia gigantesca, teve sua distribuição suspensa e deverá passar por uma revisão sistemática.

De tão absurda, na minha opinião nem deveria ser revista. Por mim iria diretamente pro lixo. Olha só alguns exemplos das "pérolas":

Para designar um motorista inábil é desaconselhado o uso da palavra "barbeiro", porque isso pode ofender o profissional do ramo. Então vamos chamar quem nos dá uma bela fechada de quê? Bom, sinceramente hoje em dia acho que "barbeiro" seria até uma gentileza. A maioria manda logo um f.d.piiiiiiiiiiiiiiii... Aí a coisa piora muito, já que a ofendida passa ser a mãe do braço duro.

Outra coisa que não se deve falar é "palhaço". Esta sim é uma classe tremendamente injustiçada. Como se não bastassem as tortas de chantilly na cara, pauladas, flores que soltam água e toda sorte de agressões no palco, eles ainda têm que tolerar o uso desapropriado de seus títulos, exaustivamente associados às pessoas de pouca seriedade. Mas para a felicidade geral dessa turma tão massacrada, a cartilha veio pra acabar de vez com a palhaçada, ou melhor, com essa injustiça.

Condenável também será dizer "farinha do mesmo saco", colocando toda sorte de indivíduos sob a mesma condição de contraventores. Afinal, quem vai se ofender com essa expressão? A farinha? O saco???

Fico aqui só pensando como ser politicamente correta quando quiser usar alguns outros termos, sem ter que enfrentar um xilindró bravo. Prevenida, já tô preparando minha lista, olha só:

GORDO - pessoa com imagem horizontalmente avantajada

ANÃO - pessoa verticalmente reduzida

POBRE - sujeito monetariamente comprometido

MULHER DA VIDA - senhora de conduta duvidosa

CARECA - indivíduo de volume capilar deficiente

Cartilha à parte, também quero comentar um pouco sobre expressões bem batidas, que são usadas de maneira absurdamente incorreta. Uma delas é "correr atrás do prejuízo", pra designar a necessidade de recuperar o tempo perdido por algo. Caramba, do prejuízo eu quero é distância. Corro atrás do lucro, isso sim.

Outra bem comum é "ir de encontro". Quem vai de encontro se choca com o objetivo ao invés de se aproximar dele. Correto é dizer "ir ao encontro".

Uma que não tem conclusão é "correr risco de morte". Há quem defenda que essa é a forma correta, já que não se corre "risco de vida", o risco está em morrer. Por outro lado, não correr risco de vida pode significar não estar com a vida ameaçada. Essa depende da interpretação de cada um, né? Sei lá eu!

Dizem que a dúvida em relação à expressão acima é pura questão de lógica. Bem, nesse caso, se a gente for tomar a lógica ao pé da letra, então um inseticida ótimo pra barata deveria deixar a bichinha toda pimpona, alegre e saltitante, ao invés de arrasar com a pobrezinha, né?

Fora tudo isso junto, tem ainda um montão de erros bem grosseiros sobre os quais gostaria falar também. Mas isso fica pra outra hora. E vamos em frente porque atrás (ui!) vem gente!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Frase feita é um saco!

Aproveitando minha onda de insatisfação da semana passada, vou descer o sarrafo numa coisa que considero insuportável: o uso de clichês. Caramba, tem coisa que me deixa muito de saco cheio, que só ouço porque é melhor que ser surda (coisa mais clichê essa!).

Não falo sobre frases célebres, pensamentos que valem a pena conhecer ou relembrar. Creio que até há muito de útil nisso. Me refiro às frases ou expressões de efeito, coisinhas da moda, que invariavelmente soam irritantes pra mim.

Por impessoalidade ou pela simples falta de imaginação, o povo vive lançando mão de frases feitas, daquelas que quem diz finge que está preocupado (ou que inventou a roda) e quem ouve faz de conta que levou em conta. No fim, se nada tivesse sido dito, ficaria tudo do mesmíssimo tamanho. E dá-lhe hipocrisia e repetição.

Morreu um ente querido seu. Antes, durante e depois do velório, todo mundo batendo na mesma tecla: "Seja forte. Agora ele/a está num lugar melhor". Lugar melhor é? Sei. Então que tal mandar sua mãe pra lá ao invés da minha? Sou legal e passo a vez com todo prazer.

Outra frase batidíssima é a tal "não repare na bagunça". Olha, depois do aviso, até o sujeito mais incauto vai perceber que a coisa tá feia. Calcinha no registro do banheiro, pipocas centenárias nas dobrinhas do sofá, tênis imundo no meio da sala... Não tem jeito não, melhor calar a boca e tratar de desviar a atenção do visitante rapidinho.

Uma que me deixa fula: "Natação é o esporte mais completo". Aí tento argumentar que pode até ser, mas não queima tanta caloria quanto se imagina, afinal conheço gente que nada diariamente e é gorda. Adianta? Não. Na seqüência, roboticamente, nego manda: "Natação é o esporte mais completo". Mas é que... "Natação é o esporte mais completo". Eu só queria fal... "Natação é o esporte mais completo". Ah, deixa pra lá!

E essa: "Quem ri por último, ri melhor"? Bem coisa de despeitado. Será que depois do "toco" vai rir a plenos pulmões?

Bem, até aqui falei apenas sobre os velhos chavões que jamais são descartados. Mas tem ainda os atuais, como "releitura", por exemplo. Agora tudo virou releitura. O estilista queridinho da Caras criou um vestido horrendo, cheio de estampas coloridíssimas e de mau gosto? Releitura dos anos 70. A Globo regravou uma história mais que batida pra próxima novela? Releitura de um clássico da TV. E o abominável "um beijo no seu coração"? Caraca, isso não é poético, é nojento! Fora os tais "com certeza", "fala sério", "pede pra sair" e um bem fresquinho, que me arrebenta os tímpanos: "tô pagaaaanu!". Socorro, não dá não!

Vivemos numa época em que são pouquíssimas as idéias ou formas de expressão realmente inovadoras, que nos tragam uma compreensão inédita. Hoje busca-se a garantia de um conteúdo mínimo num discurso qualquer e repete-se à exaustão termos que não passam de "muletas" pra preguiçosos, um apoio àqueles que têm pouca disposição pra se lançar em experiências ou simplesmente pra pensar.

Acho que essa falta de recursos na comunicação interpessoal deve-se unicamente ao desprezo por um hábito salutar e indispensável, que torna qualquer zé mané num ser minimamente pensante e original de fato: leitura.

domingo, 14 de setembro de 2008

Já deu!

Tô de volta. E cansada de novo. Sabe do que cansei agora? De ficar cansada de tanta coisa. Já é hora de sacudir essa poeira e resolver de vez o babado. Porque se continuar assim vou é acabar me enchendo de rugas e mais rugas. Ficando com ar de gente brava, ou melhor, amarga. E não quero ter cara de amarga, aliás nem gosto de nada amargo, meu paladar não aceita, não consigo engolir (sério mesmo, não é nem no sentido figurado, que ainda nem tô pra muito devaneio não). Como eu previa, quem tem me deixado tão triste e desanimada sou eu. Ando brigando comigo mesma, pode um negócio desses? Pode. E deve. Não dizem por aí que a gente só briga com quem ama? Ufa, finalmente me flagro me amando de verdade, não só pra exibir uma pseudo-auto-estima perfeita. Por isso ando me catando pelos cabelos. Melhor que ser indiferente, já chega ter que aturar isso de outras pessoas.

Vou parar de me sacanear e botar em prática o que meus sentimentos mandam. Vou juntar meus pedaços e encarar meus monstros, com medo sim, mas determinada. Sabe o que vou falar, de bocona bem cheia? DAAAAAAAAANE-SE! Isso pra não dizer aquela outra coisa (ainda mais eficiente e certeira), que sou mocinha de fino trato.

Quando minha psicóloga der uma olhadinha nisso aqui vai ficar toda toda. Afinal, há anos ela vem me alertando sobre o epicentro do meu terremoto pessoal, sobre a grande sabotadora de mim mesma, ou seja, euzinha aqui. Só que como toda teimosa incorrigível, faço o quê? Boto a culpa nos outros. Em tudo. No tempo, na falta de tempo, na rotina, na falta dela, em gente mentirosa, em gente sincera demais... Já deu, né? Chega de ilusão. Parece loucura, mas a ilusão pode se tornar uma dependência com resultado tão nefasto, que a gente, sem perceber, se mete em enrascadas só pelo prazer da desilusão. São dois vícios que se complementam: o prazer de estar nas nuvens e a dor de cair, se esborrachando no chão. É por isso que cabeças-duras como eu ficam só na promessa, vivem o tempo todo entre o real e o imaginário, cometendo sempre os mesmos erros. Como Deus é um cara gozador e adora uma farra, vive testando minha capacidade de me emendar e manda pro meu lado uma confusão pior que a outra, de diversos tipos. E fica lá, se arrebentando de rir, porque sabe que eu sempre me estrepo. Toda vez é assim. Ao menor sinal de uma nova frustração digo energicamente a mim mesma: "Melhor sair dessa já! Tu é safa, não caia mais nessa conversa!"...

Hum... Você acha que eu faço isso? Acha? Beeeeeeem, é claro que... Não! NÃO FAÇO!!! Toma, burralda!

O jeito, então, é me catar a unha pra ver se aprendo de uma vez. É levantar as mãos aos céus e agradecer por cair do pedestal de novo e de novo, porque só assim faço a opção entre lutar ou ser engolida. O mundo não é um faz-de-conta e não adianta me esconder, porque a realidade, maior inimiga da ilusão, acaba me encontrando onde quer que eu esteja. E sem dó nem piedade vai berrar na minha orelha: "ACORDA, CRIATURA!".

Ai, ai, dona realidade!... Não precisa gritar, tá? Já acordei! Cáspita, vou ser sincera, vai... Ainda tô espreguiçando. Mas já já tô ligadona, viu? Prometo!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Deixando ir...

Ainda não estou muito animada, mas a cada dia sinto reforçada a idéia de que é fundamental me livrar do que não serve mais para a minha vida. Percebi que não há uma razão específica pra essa marcha lenta em que me encontro no momento. Vejo que trata-se apenas da necessidade de reciclar diversas coisas e aceitar novos desafios. Certa vez ouvi alguém dizendo uma coisa que jamais esqueci e que tomo como base quando me sinto assim tão mal: se não jogar fora o que é velho, nunca haverá espaço para o novo. Então é isso, aos poucos vou deixando meus pássaros voarem livremente e, devargazinho, me torno mais leve, logo poderei voar de novo também. Este magnífico texto de Fernando Pessoa define perfeitamente a necessidade de deixar ir:

"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final... Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.... Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora... Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..

E lembra-te : tudo o que chega, chega sempre por alguma razão."

Com absurda ousadia, complemento o texto de Fernando Pessoa: e tudo o que vai, também vai por alguma razão... Algum dia, com certeza, a gente acaba entendendo qual foi.

domingo, 7 de setembro de 2008

Vai passar...

É incrível como há pessoas que conseguem enxergar a alma da gente, sem nem ao menos nos conhecer. Ontem estava na loja de uma amiga e quando me aproximei do balcão, uma senhora olhou pra mim e disse à balconista: "Ela está sorrindo, mas tem olhos tristes". É verdade, querida senhora. Estou triste. Mas como bem colocou Clarice Lispector, eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada. Cansei, cansei, cansei. Cansei de agora, cansei de antes, cansei de tudo. Cansei de mim, estou triste comigo mesma.

Porque me olho no espelho e não me vejo. Porque não tenho cuidado de mim como deveria, não tenho me dado o carinho e a atenção que mereço. Não tenho me dedicado o tempo necessário pra desfazer o emaranhado de incertezas que enfiei na cabeça. Porque tenho sido tão "politicamente correta" o tempo todo, tanto que escrevo aqui para os outros e esqueço de mim. Hoje vou fazer diferente. Essa postagem é minha, falarei pra mim mesma, estou precisando me ouvir um pouco mais.

Vou dizer a mim que quero por perto só quem não tenha medo de falar o que pensa, que goste da minha companhia, das minhas opiniões, que me dê suas próprias opiniões e que, de preferência, até discorde de mim, que é pra que eu possa exercitar o que faço melhor: argumentar, advogar em minha própria causa. Até dou o braço a torcer, mas gosto de uma boa briga.

Que quero gente pra me dizer "já passou" quando sinto medo, porque medo todo mundo tem. Só que não quero ter medo de me envolver com as pessoas que entram na minha vida meio sem querer, mas sempre porque eu quero. E que preciso entender, definitivamente, que nem tudo será exatamente como eu gostaria que fosse, que cair dói, levantar é difícil, mas sempre é possível.

Que cansei de ser "especial" pra algumas pessoas... Outro dia estava vendo um desenho animado onde a mãe explicava ao filho que todo mundo é especial, cada um à sua maneira, ao que o filho responde: "Dizer que todo mundo é especial é só mais uma maneira de dizer que ninguém o é". Pois é, é isso. Não quero e nem preciso ser "especial" pra ninguém. Quero ser eu mesma, simples assim. E receber em troca sentimentos também bem simples, mas absolutamente sinceros. E só.

Acima de tudo quero me dizer que essa tristeza vai passar. Que ao contar com a companhia de amigos com quem possa chorar ou dar risada, passará rápido. Que ao voltar a sentir o calor do sol e o cheiro do mar (que tanto está me fazendo falta), passará ainda mais rápido, rápido, rápido.

O bom de ter mais de 40 e não a metade é a certeza da continuidade pós-frustrações. Saber da garantia de que se a alegria passou, a tristeza vai passar também. Se não for por um golpe de sorte, será por esforço e merecimento. E, se demorar muito, ainda que seja só por instinto ou sobrevivência, vai passar, é claro que vai. Sempre passa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Cadê aquela beleza de homem que estava aqui?

O gato não comeu. E não comeu porque o homem nunca existiu, era uma lenda, uma ilusão de ótica, uma miragem simplesmente. Criada, ora por sujeitinhos manipuladores, experts no perfeito uso da palavra, ora por cabecinhas sonhadoras, ávidas pelo encontro do homem ideal, que aliás não existe.

Vou fazer um retrocesso hoje e voltar a abordar um assunto sobre o qual já falei há alguns dias atrás. Isso porque tenho visto queixas recorrentes nesse sentido, pessoas absolutamente desnorteadas com o papelão que alguns fulanos aprontam por aí. É por isso que agora quero ir fundo na ferida, sem aliviar a barra de ninguém. Se não resolver nada, pelo menos desabafo.

"Chega de sofrer pelo que já passou. Dedique todo o amor que ofereceu e não foi valorizado pelo outro a você mesma. Esteja certa de que sua felicidade não depende de ninguém mais, a não ser de você própria."

Uma amiga me contou que o noivo teminou com ela, poucos meses antes do casamento já marcado, mas não deixou o território livre. Diz que agora ele quer "ficar". Conta que esperava muito mais que isso, só que o ama muito e aceita a situação só pra não ficar longe dele. Justifica a atitude canalha do moço, dizendo que ele não se cansa de dizer que também a ama muito e não saberia o que fazer sem ela, mas que ainda não é o momento de assumir um compromisso, acha que precisa aproveitar melhor a vida. Ela considera que isso é apenas medo da parte dele, que precisa de um tempo pra tomar coragem. E vai levando as coisas assim, indo pra cama com ele quando dá na telha do sujeitinho e só. Ela diz que ele garante não ter mais ninguém, apesar de jamais dispensar uma boa baladinha e viagens animadíssimas (sem ela, claro).

Caramba, preciso ser bem direta: o cara não quer saber mais dela! Precisa estar muito iludida para acreditar que um cara que desmancha o noivado, pede um tempo pra se decidir e ainda a rebaixa da posição de noiva para tira-gosto, fast-fuck básico, ainda queira alguma coisa séria. Caspita, acorda, criatura! Me perdoe pela sinceridade cortante, mas ele só quer saber da sua "dita-cuja", o resto está dispensando. E que fique bem claro: isso só quando não arranja uma "dita-cuja" melhor que a sua, viu?

Ninguém deve se deixar iludir por belas palavras. Muitas vezes o que um homem diz não combina nadinha com o que ele realmente sente e faz. Sem contar que por mais lindas que sejam no começo do relacionamento, as palavras passam a ter significado totalmente diferente quando o amor está indo pro saco. E aquele complicadinho, que uma hora diz que te ama e na outra não sabe o que sente, não é indeciso coisa nenhuma. É um espertinho, que te deixa na reserva pra suprir alguma eventual necessidade. Se não tiver nada melhor pra fazer, então ele te ama, muito... Agora, se pintar uma novidade, aí ele já não sabe mais o que quer. E assim será eternamente, enquanto você não tomar uma atitude radical.

Depois do fatídico pé na bunda é normal a pessoa abandonada fritar o cérebro na tentativa de descobrir onde foi que errou. Em geral, considera que deveria ter usado outro tipo de estratégia, se policiado mais. Acha que deveria ter medido bem as palavras, tomado o máximo cuidado com as atitudes, enfim, ter pisado em ovos pra não espantar o rapaz. Toma para si a culpa que na verdade é do outro.

Só que assanhada ou santa, louca ou controlada, a gente tem que mostrar pro outro exatamente quem a gente é. E se ele não gostar, dane-se! Afinal, se você é alegre, faladeira e adora curtir a vida, vai arranjar um tirano que não gosta de nada disso pra quê? Para fingir que é comportadinha? E se for tímida e contida, pra que se fazer de super popular, carismática e espalhada? Mesmo insistindo nessa loucura de ficar fazendo tipo, não deve se iludir. Nada o impedirá de te dar o chute na bunda, principalmente se o cara descobrir que você não passou de uma propaganda enganosa. Não há como fingir pra sempre, uma hora você vai ter que se mostrar. Então, aquela garota que era segura e liberal, se mostrará fraca e ciumenta... A menina calma e compreensiva terá um ataque de nervos e toda a imagem que levou um tempão pra construir irá desmoronar. Pode ter a certeza de que quem gosta de você, gosta do jeitinho que é, sem máscaras e nem disfarces. Se algo em você incomodou o outro ao ponto dele sumir, então é simples: ele não gostava de você e ponto final. Se fosse diferente, teria ficado e tentado te fazer entender que algo em você não o agradava.

Outra coisa muito comum em todos os casos de decepção é que no início do relacionamento tem sempre aquele papo do quanto seria legal poder passar mais tempos juntos, né? O cara pode morar longe, mas sempre dá um jeito de aparecer. Pega ônibus lotado, trem, metrô, fica horas parado no trânsito engarrafado, mas sempre dá um jeito pra passar mais tempo com "o amor da sua vida". Depois, quando o relacionamento já está indo pro vinagre, aparece de quinze em quinze dias e já chega avisando que logo precisa ir embora, porque mora longe. É assim também com relacionamentos virtuais. No início enxurradas de e-mails e mensagens carinhosas. Depois tudo vai rareando pela suposta falta de tempo, até que se acaba de vez. Aí é que eu pergunto: cadê aquele homem atencioso e dedicado, que jamais deixaria de dar um bom dia? Que tanto se preocupava com você e se fazia presente em qualquer situação? Que se divertia e sentia tanto prazer na sua companhia?

Me perdoem pela dureza do meu coração, mas há coisas que não consigo engolir. Que os relacionamentos sofram desgastes e até terminem por isso, entendo numa boa. Mas que fique bem claro: só entendo quando isso é falado com todas as letras. Ninguém é obrigado a adivinhar coisa alguma, nem ficar interpretando gestos camuflados. Quem realmente se importa com o outro fala abertamente, nem que seja apenas "adeus". Ser indiferente e deixar a outra pessoa na dúvida eterna sobre o que de fato aconteceu, não passa de egoísmo e imaturidade. E, cá entre nós, um sujeito assim não merece nem que se perca tempo com uma vingança, que aliás também não serve pra mais nada, a não ser prolongar o martírio. Na prática, com ou sem vingança, com ou sem baldes de lágrimas, tudo fica exatamente do mesmo tamanho. Ou melhor: não fica não... Fica muito maior do que realmente é.

É claro que há alguns casos em que imprevistos e dúvidas realmente podem interferir na relação e nem tudo está irremediavelmente perdido. Com um bom diálogo, sempre se chega a um acordo. Isso, é óbvio, se o fulano não se escafedeu de vez e ainda estiver disponível pra conversar, pelo menos. O importante é não se deixar iludir com facilidade e estar sempre atenta ao mínimo sinal de que algo não vai bem. Porque quem mente pra si mesma, querendo crer que tudo está bem quando há sinais evidentes de problemas, na verdade torna-se vítima das próprias mentiras que criou. E sofre feito um cão sarnento por causa disso.

O jeito, em qualquer situação, é sacudir a poeira e botar a fila pra andar. Chega de sofrer pelo que já passou. Dedique todo o amor que ofereceu e não foi valorizado pelo outro a você mesma. Se aproprie do que é seu por merecimento. Esteja certa de que sua felicidade não depende de ninguém mais, a não ser de você própria. Aliás, atribuir ao outro a responsabilidade por sua insatisfação é injusto, ainda que se considere vítima de uma enganação. Entenda, definitivamente, que esse é um problema só seu, você é quem tem que resolver. Tem uma música do Roupa Nova, que considero muito bonitinha e pra cima, que fala exatamente sobre isso. Vai aqui um trechinho e o vídeo, pra quem estiver com tempo pra ouvir.

"Quando não houver mais amor, Nem mais nada a fazer, Nunca é tarde pra lembrar Que o sol está solto em você... Um pouco de luz nessa vida Um pouco de luz em você!"

domingo, 17 de agosto de 2008

Santa hipocrisia!

A Revista Veja dessa semana mostra uma situação que me deixou perplexa diante da hipocrisia humana. A dupla feminina do vôlei de praia que representou a Geórgia nas olimpíadas é formada por duas brasileiras naturalizadas, Cristine Santanna e Andrezza Martins. Ambas têm a cidadania porque foram convidadas para jogar defendendo o país, onde jamais estiveram. Cristine diz que mora no Rio e treina em Fortaleza, mas sabe tudo sobre a Geórgia, porque toda hora tem alguém querendo pegá-la no pulo. Afirma que estuda bastante para poder se passar por cidadã do país. Todo mundo sabe disso, mas finge que não vê. É o fim da picada.

Hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. Ao ler esse significado, hipocritamente alguém há de afirmar que jamais agiu dessa forma. Mas somos todos hipócritas, em maior ou menor grau, com mais ou com menos prazer.

Diariamente somos algozes e vítimas da hipocrisia. Quando se diz "Oi! Tudo bem?" não se espera uma resposta sincera. Aliás, a única resposta aceitável é "Tudo e com você?" e assunto encerrado. Experimente dizer que não está bem e o motivo disso. Será considerado mais chato que gilete caída em chão de banheiro.

Aproveito para falar também do mundo virtual, já que estamos aqui. É de conhecimento público que o Orkut é um site de relacionamentos que só permite a adesão e acesso de pessoas maiores de idade. É desnecessário dizer que milhares (milhões?) de crianças e adolescentes povoam esse universo numa boa, apoiados pelos familiares, inclusive. Todos acham muito bacana e saudável essa interação, fazendo de conta que o impedimento não existe e que não há o menor problema em se mentir a idade pra estar ali. Não concordo com a proibição, até porque ela só existe para redimir a administração do site de qualquer eventual responsabilidade. Estão pouco se lixando para a pedofilia e outros problemas que possam decorrer de participações inescrupulosas. E obviamente não seria esse impedimento que colocaria nossos jovens usuários à margem da zona de risco. Mas fico perplexa ao ver pessoas que se consideram um poço de virtudes fazendo vista grossa para a contravenção praticada por suas crianças. Meus sobrinhos também estão no Orkut e alguns deles não têm idade para isso. Mas eu juro que nunca me considerei um poço de virtudes, tá?

Outra questão bem polêmica é o tabagismo. Quem me conhece sabe que fumo, sou uma chaminé ambulante. Não acho isso bonito e nem recomendo que ninguém siga meu péssimo exemplo. O que acho incrível, no entanto, é que os sermões mais inflamados partem sempre de anti-tabagistas que sentem-se tremendamente prejudicados pela fumaça dos meus cigarros, mas convenientemente se esquecem que o monóxido de carbono emanado por seus automóveis - que nunca são dispensados, nem pra ir até a esquina - também prejudica meus pulmões. A própria campanha que o governo faz contra o tabagismo é hipócrita, na minha opinião. No mínimo ineficiente. Faça um teste e peça para um fumante dizer sem olhar no maço de cigarros dele qual é a foto chocante que o mesmo contém. Sem dúvida nenhuma ele dirá que não sabe. E não sabe, porque simplesmente ninguém olha isso. Um amigo até me alertou para o fato de que essas campanhas são direcionadas, na verdade, aos futuros fumantes em potencial e não àqueles que já estão viciados. Mas, pensando bem, discordo dele. Afinal, quem fuma eventualmente e ainda não se viciou nem compra cigarros. Fica só no "serra-serra". Aquele que tem a infelicidade de gastar dinheiro com isso, e portanto toma conhecimento da campanha, já é dependente.

E o que dizer da hipocrisia religiosa? Ao mesmo tempo que o catolicismo defende com unhas e dentes o celibato pastoral, gasta bilhões de dólares na indenização às vítimas de seus sacerdotes pedófilos. Enquanto o protestantismo eleva a moral religiosa e condena com extremo rigor os seguidores que a descumprem, criam também impérios capitalistas às custas da troca de "se receber bênçãos" pelo dinheiro suado de seus salários. Isso sem falar que conheço muita gente que vive com a bíblia embaixo do braço, faz questão de propagar mensagens divinas aos quatro ventos, mas, ao mesmo tempo, são mesquinhas, maledicentes, invejosas, egoístas e toda sorte de outros adjetivos negativos possíveis. E essas são as mesmas pessoas que atacam com veemência os que se dizem ateus, como se o simples fato de ter uma crença religiosa já as redimisse pela falta de caráter e desconsideração com o próximo.

Datas especiais, então, considero o cúmulo da hipocrisia. O mesmo homem que oferece um lindo buquê de rosas à esposa pelo Dia Internacional da Mulher (cobrindo-a de elogios por suas conquistas e competência) é quem vai afirmar, dali a poucos instantes, que qualquer barbeiragem no trânsito só podia mesmo acontecer por culpa de uma mulher. E automaticamente remete a mulher ao lugar onde acredita que ela deveria estar: "Ô Dona Maria, vai pilotar o fogão!". O homem que não se posiciona com sinceridade e desprendimento frente às questões importantes da feminilidade e da relação entre os sexos deveria ter ao menos a dignidade de não repetir o clichê "parabéns pelo seu dia!".

Natal, uma tristeza só. Beijos, abraços, votos "sinceros" de plenas realizações e paz. A resignação e extrema humildade de Jesus são comemoradas com vasta comilança, presentes que agradam por seus preços, fofocas sobre as aparências de determinadas pessoas... E no final do dia todos se despedem efusivamente, considerando que a partir daquele momento serão pessoas melhores, que cumpriram bem seus papéis de cristãos e retornam pra suas rotinas, tendo como primeiro pensamento um belo "Ufa! Ainda bem que acabou, stress como esse só daqui a um ano!".

Bem, há ainda inúmeras outras situações em que a dissimulação impera, mas para finalizar, cito a hipocrisia nacional de um povo que elege (por duas vezes!!!) para o cargo mais importante do país um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida. Um povo que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil reais por mês para trabalhar no máximo três dias na semana, mas que ao mesmo tempo sente inveja e sabe que lá no fundo, se estivesse no lugar dele, faria exatamente a mesma coisa.

Enfim, evitar a hipocrisia é algo impossível, isso é inerente à natureza humana. Mas acho que não custa nada a gente se policiar para agir com a máxima honestidade possível, dentro do que realmente considera legítimo, sem a preocupação de ser diplomático em tempo integral. Que fique bem clara, porém, a diferença entre não ser hipócrita e ser indiferente ou mal educado. Agir com autenticidade exige bom senso e delicadeza, é óbvio.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

As aparências enganam demais!

Ontem, acompanhando algumas das competições das olimpíadas, me convenci de vez que as aparências enganam mesmo.

É comum pressupor que lutadores de artes marciais sejam truculentos, frios e calculistas. Me surpreendi muito com o judoca Eduardo Santos, que foi derrotado na repescagem da chave dos médios (90 kg) e deixou pra trás seu sonho de medalha. O rapaz foi evidentemente injustiçado por um erro da arbitragem, mas ao invés de esbravejar, chorou e pediu desculpas aos pais por não ter tido a competência de derrotar seus oponentes (isso logo depois de ter vencido suas duas primeiras lutas por ippon!). Demonstrou uma delicadeza inesperada pra quem se depara com aquela montanha de músculos e aparência rude. Foi extremamente humilde diante de uma situação onde naturalmente poderia impor outro tipo de julgamento. Mas a emoção falou mais alto e revelou que acima do atleta sedento por vitórias há um ser humano fantástico, de ótima índole, que merece muito respeito e admiração.

"Não há dúvida de que a impressão negativa causada pela aparência de uma pessoa pode se desfazer quando lhe damos a oportunidade de falar, mostrar quem realmente é."

Há alguns meses atrás um rapaz, que viria a ser meu vizinho, também me surpreendeu bastante. Ao saber que ali funcionaria uma loja de tatuagens, logo torci o nariz. Quando vi o cara, então, reafirmei minha má vontade. O sujeito é enorme, careca, cheio de tatuagens e tem a maior cara de mau. Calculei que aquilo seria um ponto de encontro de malucos, quem sabe drogados? Não demorou nada pra que eu percebesse como estava sendo ridícula ao rotular baseada em aparências e preconceitos. Com uma educação incomum para os dias de hoje, em que as pessoas mal se olham, ele nos chamou pra se apresentar. Voz tranqüila, muito eloqüente e comunicativo, falou um pouco sobre si mesmo e sobre o que faria ali. Realizou uma enorme reforma que não causou o mínimo transtorno, pelo contrário, até nos beneficiou de alguma forma. A loja é tocada pela família e freqüentada por outros malucos igualmente educadíssimos. Nunca tive vizinho melhor, inclusive sempre pronto a ajudar se for o caso. Isso tudo fora o talento enorme na sua atividade, feita com muita criatividade, bom gosto, organização e higiene. Como é bom se surpreender positivamente!

Infelizmente uma característica marcante do ser humano é que ele está o tempo inteiro emitindo julgamentos. Toda vez que conhecemos algo ou alguém, nos apressamos em criar um juízo, tentando avaliar suas qualidades, seus defeitos e, principalmente, suas intenções. Para tanto, usamos a percepção, que é construída a partir de como "sentimos" as coisas e as pessoas. Não há dúvida de que a impressão negativa causada pela aparência de uma pessoa pode se desfazer quando lhe damos a oportunidade de falar, mostrar quem realmente é.

Quantas vezes não damos nada por uma pessoa que tem hábitos simples e se comporta sem nenhuma soberba, quando na verdade trata-se de uma sumidade em algum assunto? Esse vídeo do YouTube ilustra bem esse tipo de situação (real), é bem legal:

A psicologia, no entanto, nos absolve desse pecado e prova que embora não desejável, julgar por aparências é normal. A primeira análise que fazemos de uma pessoa ou situação é aquela que busca defender nossa integridade física, é uma análise puramente instintiva. Nosso cérebro imediatamente nos alerta quando nos colocamos diante do desconhecido, principalmente se a estética não for parecida com a nossa ou dentro de um padrão que apreciamos. A segunda análise é emocional e apenas em terceira instância é que fazemos um exame racional.

Seja como for, só sei que aprendi a não julgar nada e nem ninguém baseada em conversas alheias, aparências ou pelo histórico de vida que a pessoa apresenta. Tem muita gente boa por aí e vale a pena tirar conclusões somente depois de um contato mais direto.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Por que complicar tanto?

O filósofo espanhol Julián Marías escreveu que a infelicidade humana está em não preferir o que se prefere. Na mesma linha, também diz muito a célebre frase do escritor norte-americano William Faulkner: "Entre a dor e o nada, prefiro a dor".

"Quem opta por deixar de fazer o que realmente gostaria está traindo apenas a si mesmo. Pior que isso, está trilhando um caminho que às vezes pode não ter volta."

Fico impressionada com a capacidade humana de sofrer por antecipação, por não privilegiar a própria essência na hora de fazer escolhas, de bloquear sonhos e construir muros no meio do caminho, acreditando na falsa proteção que eles oferecem. A grande verdade é que aquele que opta por deixar de fazer o que realmente gostaria está traindo apenas a si mesmo. Pior que isso, está trilhando um caminho que às vezes pode não ter volta. É a velha história de que é melhor se arrepender pelo que se fez do que pelo que deixou de ter feito.

Temos mesmo é mania de criar confusão, de complicar o que pode ser bem simples. Confundimos sentimentos e deixamos que nossos medos prevaleçam sobre nossos desejos. Não paramos pra pensar que esse exato instante não voltará jamais. Que cada dia que vivemos será ontem, passado, já foi. E se lamentar pelo passado é triste demais, um atraso, não leva a nada. É bobagem acreditar que é melhor não se entregar tanto, deixar de dar o melhor de si, não fazer carinho, não elogiar, não se fazer presente. Por que deixar de viver o que se quer por puro medo de sofrer? Puxa, mas deixar de viver é que é um sofrimento!

É delicioso redescobrir algumas emoções que já dávamos como perdidas na vida da gente. Não existe nada melhor que perceber que a passagem do tempo não tira de nós o desejo de cometer certas loucuras, desde que isso não prejudique ninguém, é óbvio.

A gente tem a triste mania de desconfiar do que faz a gente feliz. Ao desconfiar tememos. E ao temer não vivemos mais em paz e não viver em paz faz com se acabe com esse tormento, um tormento que, no fundo, era simplesmente felicidade! Estragamos a chance de ser feliz o tempo todo. Somos sempre a causa e a saída de tudo e é incrível como nunca percebemos isso! Maldita mania de complicar!

Só nos damos conta da importância de determinadas coisas ou pessoas quando elas já não estão mais conosco. Sentimos falta de olhar até para as coisas que consideramos mais horríveis apenas quando perdemos a visão. De ouvir até as coisas mais patéticas quando perdemos a audição. De valorizar alguém que nem parecia ser tão especial apenas quando a pessoa se vai pra sempre.

Não acho que a gente tenha que insistir em relações falidas e destrutivas, nem se entregar a sentimentos não correspondidos. Mas acredito sinceramente que é válida demais a coragem de recomeçar, ainda que seja a mesma relação, caso exista reciprocidade. Tenho visto e ouvido muita gente descrente de tudo, que tem preferido perambular oca pela vida, apenas por ter escolhido o nada no lugar da dor. Por que escolher uma vida morna, sem intensidade e sem surpresa alguma? Isso definitivamente não é viver, é apenas sobreviver.

Para mim desejo sempre mais, desejo tudo. Que me venha a dor impagável do aprendizado que é viver. Que venha a dor inevitável à qual as tentativas de ser feliz me remetem. Não tenho medo, choro, me descabelo, caio e me levanto outra vez, agora e sempre que for preciso. Valorizo cada segundo da minha vida, porque essa é a minha vida, única até onde eu sei e quem tem que cuidar bem dela sou eu. Se for curta, que tenha sido intensa. Se for longa, que me faça sentir orgulho de ter feito tanto por mim mesma, mesmo errando uma, duas ou mil vezes na tentativa de acertar, sem o menor medo de ser feliz.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Bossa Nova em Sampa

"A casa da bossa é a Oca", afirma o videomaker Carlos Nader, que divide a curadoria da exposição Bossa na Oca com Marcello Dantas. Nader tem razão. Hoje me senti orgulhosa por ver Sampa tomada de bossa. Estive na OCA, no Parque do Ibirapuera, onde até 07 de setembro acontece uma super exposição para homenagear os 50 anos da Bossa Nova. Fiquei encantada. Logo na entrada o visitante acompanha uma linha do tempo com fatos que marcaram o Brasil e o mundo de 1958 até 1964. É um apanhado geral fabuloso, com fotos lindíssimas. A partir daí, a mostra inclui muito mais que ver ou ouvir. É hora de começar a sentir. Seis "jukeboxes" gigantes, ativadas com o calor da mão, possibilitam que o visitante escolha as canções que quiser ouvir, todas em vinil, com as gravações originais. No subsolo, uma surpresa maravilhosa: a reprodução da Praia de Copacabana, com areia e o clássico calçadão preto-e-branco de pedras portuguesas (em formato semicircular). Essa montagem ocupa cerca de 800 m2 do subsolo da Oca. Uma iluminação feita nas paredes simula a passagem do dia para a noite. Nada mais perfeito, afinal, Bossa Nova de verdade acontece à beira mar. Ainda no subsolo encontra-se também um palco real, com piano, banquinho e até copo de uísque para Vinícius. O espaço representa o Beco das Garrafas, o famoso templo da Bossa Nova. Imagens holográficas de músicos como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra dão um toque especial e a cada 15 minutos eles executam juntos "Garota de Ipanema", graças à tecnologia eyeliner. Magnífico! No primeiro andar, encantamento total! É possível assistir a três curtas sobre os maiores representantes da Bossa Nova em espaços decorados com muita imaginação, bom gosto e conforto. Numa das salas é exibido o curta inédito de Miguel Faria Jr, "Vinícius de Moraes", com dez minutos de duração. O filme é projetado numa parede semi-convexa do museu e foi criado especialmente para a a exposição. O som sai de luminárias, dispostas ao lado de 30 poltronas bem confortáveis. Em outras salas é possível assistir aos filmes até deitado, em puffs muito fofos. Ou acompanhar a história em banquinhos de piano, com partituras e tudo. Ali é possível também viver a experiência do silêncio, entrando por alguns segundos numa câmara anecóica, onde dá pra ouvir até as batidas do próprio coração. No último andar você literalmente viaja com uma projeção enorme e maravilhosa do mar no teto, enquanto ouve clássicos da Bossa Nova. Você se sente voando sobre o mar. É uma poesia materializada diante dos seus olhos. Lindo demais! Por mim, tudo perfeito, não fosse apenas pelo fato de que a interação com muitos espaços, às vezes, prejudica o perfeito entendimento do som. Imagino que num dia de maior público isso possa ser frustrante. Enfim, essa é uma homenagem mais que merecida e à altura do espetacular movimento musical criado por mentes geniais, que marcou eternamente a cultura brasileira e ganhou o mundo. Vale a pena conferir.