quarta-feira, 28 de abril de 2010

Demorei, mas cheguei!


Quem sou eu? Onde estou? De onde vim? Pra onde vou?... 

Baraio, depois de quase um mês desmontando uma casa e montando outra, tô zuretinha-da-silva. Não tenho forças nem pra erguer uma pena. Aliás, por falar em pena, tô morrendo de dó de mim. Virei um caco. Depilação? Já até esqueci o que significa isso. Me transformei na monga. Todas as unhas quebradas, descabelada, num sapecamento duzinferno.

Depois de desfiar um rosário porque aquele miserável daquele "homi" deu o maior mijão no bidê que tinha na outra casa, imagine só minha alegria ao chegar nessa aqui e dar de cara com o must dos banheiros modernos (no Brasil, né?... Porque na Europa isso já é usado há trocentos anos): a belezinha da ducha higiênica. Fui seca no registro pra botar a dita cuja em ação e...

Pobre não tem sorte - Parte 1

Fiquei seca por pouco tempo. A miserável da duchinha tá quebrada, acredita nisso? Foi abrir e sair água por tudo que é lado, quase morri afogada. Bom, pelo menos ninguém pode dizer que a desgraça não cumpre o que promete. É higiênica meeeeeeeeeeesmo! Nem tchum pras partes baixas do incauto que tenta usufruir dela, lava o infeliz inteirinho, da cabeça aos pés. 

Mas encontrei uma grande vantagem no mau funcionamento da duchinha porra-louca: dá pra lavar o banheiro num segundinho e sem muito trabalho. Bem, digamos que agora esse já deixou de ser um problema meu. Depois de décadas de brava resistência, aceitei receber uma diarista pra limpeza semanal da casa (não deveria ser "semanista"???). Não que eu goste de fazer qualquer espécie de trabalho doméstico, esclareço logo. Mas é que odeio ainda mais o fato de me comprometer com horários, saber que naquele determinado dia não tem choro nem vela, a "muié" vem. 

Satisfeita com minha decisão, combinei a primeira limpeza pra quarta da semana passada. Me preparei tão bem psicologicamente, que cheguei a fazer corpo mole. Oras, pra que dar duro se a "muié" logo logo viria limpar, né? Ufa, quarta chegando... Ainda bem, sujeira em níveis alarmantes! Só que...

Pobre não tem sorte - Parte 2

Justinho na quarta que era o dia da "muié" foi feriado!!! Aí o que aconteceu? Vida de nego é difici, é difici como o quê!... Toca lavar, esfregar, passar, enxugar... Tudo culpa de quem? Do Tiradentes, néééé?... Ah, se eu pego esse condenado!... Enforco o homem de novo. E também faço repeteco no picote. Tec, tec, tec! Pico, mas pico ele todinho mesmo.

Bom, nem foi tão ruim assim, porque eu sabia que esse seria meu último contato com baldes e produtos de limpeza pesada. Olha a quarta-feira aí geeeeente! E foi hoje!!! A diarista chegou na hora certinha. Começou a superlimpeza direitinho. Tudo às mil maravilhas até que... 

Pobre não tem sorte - Parte 3 

Descobrimos que não tinha água! Não tinha água, não tinha áááááááguuuuuuuuaaaaaaaa!!!!!!!! O jeito foi acabar com a água da caixa. Então, nesse exato instante, minha casa está um brinco, a diarista fez um excelente trabalho. Já eu... Bom, vou lá tomar um banho de caneca, fazer o quê? Não digo que pobre não tem sorte mesmo?

Mas, falando sério, tá tudo beleza. Casa nova, outros ares, outra motivação. É muito legal reinaugurar nosso modo de viver. 

E agora que as coisas estão voltando à normalidade, aos poucos vou retomando também as rédeas da situação por aqui, com postagens mais frequentes. Também ficarei por dentro de tudo que anda rolando nos blogs que sigo e logo voltarei a participar ativamente com comentários, tá?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Incomunicável

No meio da mudança... Sem telefone, sem internet, sem nadica de nada. Por enquanto, incomunicável. 

Então, até a volta. Não desistam de mim!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Chame o homi!

Certamente você já ouviu falar dele. Vou além, acho que ele até já esteve na sua casa, afinal, o sujeito vai à casa de todo mundo. Tô falando do homi, aquele cara que a gente chama quando alguma coisa quebra.

A máquina de lavar não funciona? A primeira coisa que vem à cabeça é "preciso chamar o homi da máquina!". Boca de fogão que não acende nem com reza brava? "Qual é mesmo o telefone do homi do fogão?". É sempre assim. Ninguém diz Sr. Fulano da Assistência Técnica Tal e Tal. É só homi, pronto. E todo mundo sabe perfeitamente de quem você está falando.

Às voltas com a mudança de casa + construção de uma outra (quem tá no inferno tem que se agarrar no capeta), o que mais tem aparecido na minha frente é homi de tudo quanto é espécie. Pra deixar a casa que vou desocupar em ordem, hoje chamei um pedreiro. O cara veio, fez o trabalho dele, mas antes de ir embora pediu pra usar o banheiro, felizmente só pra um número 1 basicão. Quando saiu, me surpreendeu:

- A senhora me arranja um balde com água?

- Ba-baalde? Como assim?...

- É que lá não tem água, não sei... o vaso deve estar com problema...

Ô-oouuuu!... Tava tudo funcionando antes... Que diabos teria acontecido? Encafifada, dei o balde pro homem. Quando ele foi embora, fui conferir a arte. Ah, desacredito!... O homi deu o maior mijão no bidê! NO BIDÊ, MINHA GENTE! Taquelavida, ele pensou que o treco era um daqueles mictórios que tem em banheiro masculino. E não teve paciência pra esperar a água sair quando abriu a torneirinha do treco. Ô homi atrapaiado! Francamente...

Às vezes dá a louca e um montão de coisas na casa resolve quebrar ao mesmo tempo. Aí, numa pindaíba de dar gosto, a gente decide chamar o homi que faz de um tudo. Aquele senhorzinho que mora logo ali e é pedreiro... jardineiro, pescador, consertador de bicicleta, relojoeiro, piloto de boeing 747, lateral esquerdo do XV de Lagoinha... Só que o barato pode sair caro. 

Uma amiga minha chamou o vizinho aposentado pra trocar a resistência do chuveiro  - coisa complexa e de altíssima periculosidade - e pra dar um jeito em outros babadinhos lá. O homem se empolgou e se ofereceu pra pintar também o vitrô do banheiro, cuja alavanquinha, normalmente, já é meio dura. E o que o gênio fez? PINTOU POR CIMA! No capricho, com várias demãos. Resultado: nem Hércules conseguiria abrir os vidros agora.

Pior que isso, porém, é quando o maridão resolve mostrar como é multifacetado e decide que ele mesmo vai dar um jeito em tudo. Affffff! Só de ver o rapá com a maleta de ferramentas na mão me dá calafrios, gambiarras de todo tipo à vista. 

Mas seja homi de fora ou homi de dentro de casa, o problema é sempre o mesmo. Os bonitões querem tudo na mãozinha, não se viram sozinhos pra nada.

- Tem um pano aí pra colocar no chão?

- Me arranja uma folha de jornal!

- Pega duas pilhas ali na caixinha pra mim, vai.

Eeeeeeê!... Desgruda, me deixa, me larga, me esqueeeeeeece!!! 

Fiquei aqui pensando na maravilha que seria encontrar alguém pra resolver todas as paradinhas profissionalmente e sem muita complicação. Tranquilo, em tempos bicudos como o que vivemos, há um montão de engenheiros por aí que se transformaram nos abençoados maridos de aluguel (ótimo pra nós, lamentável pra eles... tristeza que é esse Brasil). Tudo-tudo-tudo (bom, quaaaaase tudo) o que a gente precisa num homi só e sem trabalho nenhum, olha que beleza.


Tá, nem todos são ultraqualificadérrimos. Mas façamos justiça, vai. O amigão aí até fila noturna pega! Só não pega a contratante. Mas veja que ele dá abertura pra isso também, porque se coloca à disposição inclusive pra casar.

Já nos EUA tem gente oferecendo serviço completo. Ray Digeraty, 34 anos, que vive em Sacramento, na Califórnia, oferece reparos de computadores em troca de sexo. Colocou um anúncio no Craig's List e garante que está tendo um retorno fantástico. Ô Jesuis!... Já pensou se a moda pega?

Bom, de qualquer maneira não há enrosco sem solução. Qualquer coisa, é só chamar o homi, que já tem homi pra tudo nesse mundão.

E o mundo é bão, Bastião! Né não? :)

domingo, 4 de abril de 2010

Vamos falar da morte?

Tudo bem que estamos na Páscoa e a data pressupõe "vida", já que é celebrada a ressurreição de Cristo. Mas até pra entender o significado de ressurreição, é fundamental tentar lidar melhor com a morte, uma coisa que todo mundo prefere evitar a todo custo.

Tanto é assim que, compreensivelmente, meu post anterior não inspirou muitos comentários, embora tenham sido registradas várias visitas. Imagino que vá acontecer a mesma coisa com esta postagem, mas tudo bem. Paciência. É natural que as pessoas prefiram se envolver com coisas mais amenas e divertidas.

Os últimos dias têm sido difíceis pra mim, então por enquanto não consigo pensar em outras coisas. Nunca é fácil perder alguém de quem a gente gosta tanto. O vazio que fica depois do acontecimento demora a ser preenchido, a gente precisa ter paciência. É uma sensação bem ruim, que faz nossa vida parar por algum tempo também. Choca a constatação de como esse é um sofrimento solitário, porque não importa o tamanho da sua dor, o mundo vai continuar girando do mesmo jeitinho. Os carros passam como sempre, os supermercados continuam cheios, as pessoas riem e se divertem... A vida segue normalmente.

Isso me fez lembrar de um trecho do livro "Diário de um Cucaracha", onde Henfil citou a morte do cantor chileno Victor Jara, preso, barbaramente torturado e executado em 1973, por causa de um golpe de estado. Indignado com a execução do cantor, Henfil escreveu: "Sabe duma? Essa indiferença deixa a gente cético. Afinal, sentir as coisas sozinho tem valor? Me lembro do dia em que meu pai morreu. Quando saí na rua, todo machucado, que saudade!... fiquei chocado. As pessoas não percebiam a minha dor. E foi água na fervura. Engoli o choro e enquanto estive na rua era como se meu pai não tivesse morrido, o clima lá fora não era este. Talvez se eu passasse chorando, todos parassem. E será que, se eu sair aqui na rua 70 chorando, Nova Iorque vai saber que Victor Jara está morto?".

Talvez por teimar em ver a morte como um fato que não é natural, além de considerá-la sempre inesperada e injusta, a gente a transforme num evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda do resto do mundo. Só que não há nada menos exclusivo do que morrer, assim como também nada pode ser mais doído do que uma perda irreversível como essa.

Desde os tempos mais remotos, os homens já enxergavam a morte como um elemento antagônico à vida  - e não como parte integrante e inseparável dela. Pinturas encontradas nas paredes de cavernas como Lascaux e Chauvert, na França, revelam o incômodo que a morte provocava no homem de 30 mil anos atrás. Episódios alegres, como caçadas, por exemplo, eram retratados com cores alegres, usando óxido de ferro (alaranjado) ou calcário amarelo. As imagens fúnebres, por sua vez, eram pintadas com as cores escuras do carvão.

As reflexões finais do filósofo grego Sócrates (condenado a tomar cicuta, um veneno letal), realizadas no século V a.C., representam um excelente exercício de aceitação."Porque morrer é uma ou outra dessas duas coisas. Ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja. Ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para outro", afirmou ele. Sócrates tinha razão. Pra quem não acredita na continuação da vida, a morte é simplesmente o nada, portanto, a ausência completa de angústia e desespero, é o fim das aflições. E pra quem acredita na continuidade da vida, a morte é apenas a passagem desta existência pra outra melhor.

Mas, seja como for, o jeito é aprender a conviver com a malvada. Melhor não pensar nela como uma coisa medonha, tipo aquele esqueleto coberto com uma capa preta, carregando uma foice afiada na mão. Que tal passar a imaginá-la como o fim de uma festa superlegal? Você sabe que toda festa tem começo, meio e fim. E, por mais que a festa esteja ótima, o melhor é que ela acabe mesmo. Afinal, você aguentaria dançar pra sempre? Por melhor que seja a música, chega a hora em que seu corpo e sua mente pedem descanso. E aí, talvez, seja o momento de sair da pista serenamente, sem traumas, sabendo que estará dando lugar a quem chega cheio de gás.

E é assim que fico por aqui... Lembrando do meu amigo tão querido como um cara que arrasou na pista, que se esbaldou até não poder mais na balada e que agora precisa descansar. Embora ainda machucada, fico na certeza de que eu soube aproveitar cada segundo da sua companhia, absorvendo intensamente tudo de bom que ele me proporcionou e lhe oferecendo também o melhor de mim. Não há pendências, nem arrependimentos. Sei que estamos ambos em paz. Eis aí a enorme importância da reciprocidade, que uns e outros insistem tanto em desprezar. Deixar pra depois o que deve ser feito agora pode se transformar num caminho sem volta. A morte só se torna insuportável  - e insuperável -  pra quem não se entende com a própria consciência.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Dor na alma...


Hoje perdi um dos meus melhores leitores, alguém que desde o princípio me incentivou demais pra estar aqui. Acompanhava com interesse todos os meus textos e os comentava animadamente por e-mail. Sugeria temas para as postagens, mostrava sua visão a respeito dos assuntos que eu abordava, participava ativamente deste espaço. Pra ele dediquei minha última postagem de 2009, ano em que nosso contato se tornou bastante frequente, o transformando num amigo real e extremamente querido. Alguém que, sem perceber, já fazia parte do meu dia-a-dia.

Acompanhei de perto sua luta heróica contra a leucemia, o tratamento doloroso a que se submeteu no último ano, o transplante de medula que a princípio foi muito bem sucedido, mas que há dois meses atrás deu sinais de que não seria a solução... 

Nos falamos há duas semanas por telefone e rimos muito juntos, havia nele uma força fantástica, uma sede incrível de viver, mesmo estando internado. Projetamos um encontro regado a muita cervejinha gelada, logo que ele estivesse liberado para uns birinights. Terminamos o papo combinando que na próxima vez ele é quem ligaria, como de fato o fez na semana passada, mas não me encontrou. Na última sexta me mandou um e-mail, avisando que não conseguiu falar comigo, mas que ligaria novamente. Estava radiante, porque acabava de ter recebido alta do hospital.


Agora à noite, ao retornar de um jantar, notei que havia uma mensagem no meu celular, que esqueci em casa. Legal, era dele! Só que não foi ele quem a enviou... Pra minha profunda tristeza, a mensagem informava que o safado resolveu dar uma de traíra e hoje partiu pra uma outra dimensão, sem sequer se despedir de mim... Cometeu a ousadia de me deixar aqui assim, vazia, sem chão, arrasada. 

Nada mais de e-mails, nada mais de ligações, nada mais de cervejinha...

Vai passar, eu sei. Mas, puxa vida... 

Como dói!... 

 

A UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade,
sem prazo, sem consulta, sem provocação,
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais,
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza,
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.