segunda-feira, 27 de junho de 2011

Despedida...


LÁGRIMAS OCULTAS
(Florbela Espanca)

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida.

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida de um lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma,
Ninguém as vê cair dentro de mim.



Homenagem à minha avó, que esta tarde nos deixou... Sentidas e belas palavras lusitanas, para alguém que um dia também veio de Portugal para fazer parte da minha história e que hoje levou consigo um enorme pedaço de mim...

domingo, 26 de junho de 2011

O problema não é você MESMO!


Duvido que exista um único ser humano que já não tenha ouvido o clássico "o problema não é você, sou eu". Desculpa manjadíssima, de gente que quer sair fora com fama de legalzinho. 

É interessante como muita mulher (homem também, por que não?) prefere ouvir isso a ter que encarar a realidade. Caraca, mas é claro que para o fulano que está a fim de evaporar o problema É você! Me parece lógico que se não fosse, neguinho não vazava, né? Mas, veja bem, isso é o que se passa na cabeça DELE. É para ELE (não para o universo) que você passou a ser um problema, simplesmente porque não está mais a fim, seja lá pela razão que for. 

Para muitas mulheres homem ruim é aquele que abre o jogo logo de cara e acaba com a esperança de primeira, como se arrancasse um esparadrapo da ferida numa única puxada: "Não quero mais saber de você, cacete!". Já o "bonzinho"... Ah, o bonzinho é cheio de justificativas!... Vai saindo pela tangente cheio de gentileza e fazendo a maior questão de exaltar suas qualidades, reafirmando incansavelmente como você é maravilhosa e que qualquer homem (menos ele, of course) iria te amar, blá, blá, blá... Tá vendo? É por isso que ele diz que o problema é ele, não você. Entendeu agora? Nem eu. 

Tem também o lance da brochada. Já vi mulher se descabelando na tentativa de encontrar explicação para aquela transa que prometia mundos e fundos, mas não deu (mesmo, mesmo) em nada. Aí a neurótica não sossega, quer porque quer saber onde foi que errou. Ora, se o sovaco não estava cabeludo, a perseguida estava em dia, aquela carçola-furada-de-elástico-frouxo ficou na gaveta, então estava tudo certo, não é não? Simplesmente o parceiro é que não estava com a cabeça (entenda como quiser) no lugar e momento certo.  

Nesse mundo SEMPRE tem alguém que gosta (ou vai gostar) da gente do jeito que a gente é. E tudo rola numa boa, sem crise existencial. Quando não acontece assim, é porque não tinha que ser, pronto e acabou.

O jeito é balançar os ombrinhos e fazer a fila andar. Porque definitivamente o problema não é você, mas sim sua insistência em não virar a página de uma vez. Não precisa desenhar isso não, né?!


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Eu e o fogão: inimigos mortais



Se tem uma coisa que está ficando linda na nossa nova casa é a cozinha. Não é grande, nem tão pequena, e ficou modernosa, bem equipadinha. 

Aí o japa, outro dia, incomodado com meus cuidados extremos na decoração desse espaço, tripudiou:

- Não sei pra que tanta preocupação, você não cozinha mesmo!

Hum, me ferveu o sangue!... Calúnia! Injúria! Difamação!!! Uma vez por semana tô lá, firme (não?) e forte (não também?...) na beirada do fogão. E quem vê o rapaz há de concordar comigo: aquela barriguinha coberta por camisa no melhor estilo "o defunto era menor" comprova que ele está a anos-luz da inanição.

Mas quer saber de uma coisa? É isso aí mesmo, ODEIO COZINHAR!!! 

Às vezes até me empolgo e começo bem, mas antes mesmo de chegar à metade do preparado já me sinto bem arrependida. Começa pelos odores. Caramba, alho e cebola impregnam até na aura do meu ser! Gordura, então... Fico mais besuntada do que mulata de escola de samba (opa, nada de achar que tô dizendo que mulata de escola de samba é gordurenta, tá? É só por causa daquele óleo que usa pra ficar brilhosa e munita). 

Coisa horrível de fazer é saladinha de folhas, especialmente de agrião e rúcula. Meu Deus do céu, o que que é aquilo? Talo, talo e mais talo. Você lava um saco de 50 kg pra sobrar meia dúzia de folhinhas tenras na saladeira. Por isso é que sou a maior adepta da "feira limpa" (se bem que não confio muito nas verduras que já vêm lavadas e embaladas).  

E massa (de sovar), então? A gente enfia as mãos na molengueira toda e aquilo gruda num tanto, que a situação fica irremediável. Não dá pra pegar o saco de farinha, impossível abrir a torneira e limpar a porcalhada, a pessoa perde o rumo!... Tsc. Inviável. Muito inviável. 

Assado é sinônimo de escravidão. Você bota a coisa no forno e não pode nem piscar mais. Encontrar o ponto exato é problema de física quântica, tamanha a complexidade da ação. Diante dos seus olhos a coisa desanda, é um absurdo. Passa o maior tempão e o treco continua cru. Mas experimente virar as costas por um segundo e veja o que acontece. Não é possível, na minha cozinha tem um saci-pererê que se arrebenta de rir dos meus desastres culinários, só pode!

Isso tudo sem contar a trabalheira que dá deixar tudo em ordem, antes (sou daquelas que só cozinham se houver uma separação prévia de ingredientes), durante (também sou daquelas que vão lavando toda a louça enquanto cozinham) e depois (não suporto cozinha bagunçada).

E sabe o que é realmente muito estranho? É que mesmo fazendo com tanta má vontade, minha comida, por incrível que pareça, é boa. Faço um feijão sensacional, modéstia à parte. 

Não me orgulho de ser assim não. Penso que comida é algo que exige carinho e dedicação no preparo, afinal, essa é uma energia que a gente manda pra dentro, né? Isso me lembrou, inclusive, de um filme mexicano que adoro, "Como Água para Chocolate", onde a protagonista Tita transfere para os alimentos que prepara - e consequentemente para quem os come - todas as suas emoções. Filme lindíssimo, vale a pena ver. 

Mas o que se há de fazer? Como diz minha amiga Rose, do topo de sua sabedoria tibetana, "a pessoa é para o que nasce" (título de outro filme, brasileiro, bem bacana também). E definitivamente não nasci para ser sequer uma simples cozinheira, quanto menos uma chef lapidada no Le Cordon Bleu de Parri. Ulalaaaa!

Ilustração: Tiago Hoisel (espetacular!)


domingo, 19 de junho de 2011

Infidelidade virtual


Às vezes me pego pensando em como seria se o japa, de repente, passasse a curtir umas circuladas pelos sites de relacionamento. Confesso que fico aliviada ao ver sua total falta de habilidade até para enviar um simples e-mail, muito embora o rapaz não vá para um plantão sem que esteja com o respectivo notebook embaixo do subaco (diz que é pra assistir futebol on-line). Ops... Um ligeiro cheirinho de chifre torrado passou por aqui...

Mas e aí, será que puladinha de cerca virtual indica infidelidade? Pensemos com calma sobre o assunto.

Suponhamos (supositoriamente, mesmo, ok?) que eu esteja desinteressadamente usando o computador do japa e, sem querer, escorrego para "Meus -dele!- documentos". Não que eu seja curiosa (longe disso), mas resolvo dar uma passadinha de olho pelas imediações e encontro uma pasta de contatos com alguns telefones. Do irmão (certo). Da mãe (beleza). Da Bebel (a vizinha pivetona, deixa pra lá, vai...). Da Marina (uma gostosa que já esteve a fim dele... tá complicando...). E de uma tal Bia (que jamais ouvi falar na vida!...), junto com o endereço de uma sala de bate-papo. Japadunsifernu!!! (>_<)

Cientistas de Sverdlovsk comprovaram que diante desse dilema, apenas duas possíveis explicações passam pela cabeça de uma tonta xereta: uma absurdamente ingênua e outra terrivelmente perturbadora. 

A ingênua: ele é educadérrimo e não teve coragem de ignorar a mulherzinha, que praticamente implorou por sua atenção. Claro que jamais pensou em encontrá-la de verdade. Ô!... Olha a mulher que ele tem em casa!...

A perturbadora: ele fica galinhando na Internet, conheceu a piranha, pegou o telefone dela, encontrou com a bruaca de verdade e chegou em casa acabadaço, dizendo que estava no plantão. E eu acreditei porque, além de ser burra, ainda acho que ele fica se matando de trabalhar.

O que fazer para resolver o babado?

Hipóteses à parte, se desconfiar do parceiro e perguntar a ele o que se passa, é claro que vai ouvir a explicação absurdamente ingênua. E corre o sério risco de ser avacalhada, já que conseguiu a informação sobre a galinácea de forma praticamente ilícita por estar xeretando nos documentos dele (por documentos, nesse caso, entenda-se computador mesmo, ok?). Se não perguntar, será irremediavelmente assombrada pela possibilidade terrivelmente perturbadora. 

A grande verdade, porém, é que de concreto mesmo, só há o telefone da mulher anotado por ele. E tecnicamente pegar um telefone não configura infidelidade (infidelidade é pegar outras coisas). É compreensível que pensar sobre a intenção que ele teve ao fazer isso é o que incomoda, porque produz uma possibilidade de traição, que pode ou não se concretizar. Mas, de qualquer maneira, a princípio nada aconteceu de fato.

Tá certo que navegando por aí a gente vai ficando expert em detectar galinhagem, especialmente masculina e, mais especialmente ainda, de homem comprometido. Isso é até divertido de observar quando a dona encrenca dá o ar da graça, pega o traste cascarça na mão e obriga o delinquente a se desfazer de todas amiguinhas que conseguiu no universo virtual, coisa que ele faz rapidinho, sem titubear (porque sabe que é só encher a patroa de chamego, dar um tempinho básico, que logo poderá voltar à safadeza). 

Existe também o outro lado da moeda, que precisa ser levado em conta. Às vezes essa mesma mulher desconfiadíssima também tem amiguinho virtual dando mole pra ela, que não alimenta, mas ao mesmo tempo não corta o barato de vez. E como nada aconteceu realmente entre eles, é possível afirmar que trata-se apenas de uma inofensiva galinhagem virtual também, né não? Ela sabe disso muito bem, mas como será que seu parceiro interpretaria a situação?

Por isso, acho que o negócio é não esquentar a cabeça (já falei, chifre torrado fede). Se o relacionamento é construído com um grau de confiança bacana, onde há segurança e as regras do jogo estejam bem claras, se preocupar com hipóteses é uma tremenda bobagem.


Ilustração de Ceó Pontual



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Marcas do tempo



Minha avó tem 97 anos e está nos deixando. De algum tempo pra cá a gente vê claramente a vida se esvaindo dela, um pouquinho mais a cada instante. E é assim que essa existência, como uma vela que já está chegando ao fim, tem sua chama drasticamente diminuída, reduzida a quase nada. Há dois dias hospitalizada, seu estado é extremamente crítico.

Sinto uma profunda dor quando observo a velhice. Dificilmente as pessoas conseguem dimensionar o tanto que esse processo é sofrido. Não apenas por aspectos físicos, com a perda da beleza e da vitalidade, ou das limitações que se acentuam irremediavelmente e inviabilizam coisas elementares como se movimentar ou usar plenamente todos os sentidos. Se já não fosse suficiente a dor que isso tudo provoca no corpo, a alma de uma pessoa idosa também vai ficando mortalmente machucada.

Viver quase 100 anos implica em ver quase todas as pessoas que você mais amou na vida partirem. É sentir inúmeras vezes a dor insuportável da perda ao presenciar a morte de companheiros, de filhos, irmãos, amigos... É constatar, de repente, que só sobrou você. Não há mais com quem partilhar uma lembrança, conversar sobre afinidades, dividir os mesmos interesses.

As pessoas costumam olhar para os velhos como se eles jamais tivessem sido jovens um dia. Riem, se incomodam, ignoram. Não se dão conta de que, como elas, essas pessoas também já foram crianças, adolescentes e adultos produtivos. Que brincaram, se apaixonaram, dançaram, riram, sonharam, realizaram, viveram... E que trazem dentro de si um amontoado de experiências dignas de respeito e, sobretudo, de enorme admiração.

Houve uma passagem na novela "Mulheres Apaixonadas" (2003), de Manoel Carlos, que ficou bem gravada na minha memória. Uma personagem que maltratou tremendamente os avós ao longo da trama, de repente senta-se ao lado de uma senhora num banco da rua. A senhora desconhecida, com muita delicadeza, segura na mão da moça e diz a ela: "Minhas mãos jamais serão como as suas novamente... Mas as suas serão como as minhas."

Isso fica muito evidente no belíssimo trabalho desenvolvido pelo fotógrafo Horacio Guzman, com a série de imagens Timeless Memories, onde fotografou as mãos envelhecidas de pessoas junto com imagens delas mesmas na juventude. É de uma sensibilidade que emociona.

Hoje, com a alma sangrando por entender que está chegando o momento de me despedir da minha avó, pessoa de importância absolutamente fundamental na minha vida, termino este post com uma das imagens captadas por Horacio Guzman. 


É isso, ninguém nasce velho.

Mãos de Maria Rosa, 83 anos, com 18 anos na foto

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tosse de cachorro louco e outras desgraças


Já há duas semanas estou com uma gripe maldita, que não me larga de jeito nenhum. Boca seca, corpo doendo, febre e, pior tormento, uma tosse de cachorro louco do inferno.

O problema não é apenas tossir até que os pulmões fiquem a ponto de explodir. Horrível, mesmo, é dar espetáculo. Baseada em antecendentes de vexame, sei que o melhor é não segurar e tossir logo que a vontade chega, assim tudo fica sob controle. Foi tomada por esse espírito de "dane-se, tusso mesmo e daí?!" que me mandei pra faculdade outro dia, tinha prova, nem que quisesse poderia faltar.  

Com febre e tossindo como uma tuberculosa, lá fui eu, já meio atrasada. Trânsito péssimo logo cedo e um ônibus chato na minha frente, maior empatação. Tudo bem, vamos lá assim mesmo. 

Comecei a prova, que foi aplicada pelo professor de Direito Penal, um bonitão elegantérrimo, todo engomadinho, cheiroso, charmoso e cerimonioso (não é pra menos, o homem é desembargador). Puxa, que droga estar horrível por causa da gripe!... Que fique muito bem claro (olha o japa aí, geeeeeente!), não que eu queira dar em cima do homem, mas acho importante fazer boa figura diante do tipão intimidador. Assim, toca empinar o nariz entupido e vamos em frente terminar logo a avaliação. 

Lá pelas tantas, começo a sentir uma coceirinha na garganta... Cof. Cof-cof. Eu disse que não ia segurar. Cof-cof-cof. Calma, é só tossir que passa... Cof-cof-cof-cof-cof!!! 

Acho melhor pegar um lencinho e...COF-COF-COF-COOOOOOOOOOOF-COOOOOOOCCOOCOCOCOCOFFFFFF...hurgh... COOOOOOOOOFFFFF!!!!... hurgh...hurghhhhh... 

O professor todo bonzão, numa elegância impecável, veio me socorrer. Discretíssimo, sugeriu em voz quase inaudível: "Você quer sair para tomar água?". E a estragadona aqui, lacrimejando e praticamente vomitando de tanto tossir, sequer conseguiu responder. Saí correndo e fui me acabar do lado de fora, pra voltar uns dez minutos depois, descabelada. Fim da minha reputação de aluna-mais-velha-glamurosa. Tsc.

Terminei a prova, catei o carro e, ao chegar em casa, reparei que estava riscado na lateral. Caramba, foi algum braço duro no estacionamento da faculdade! Melhor esquecer que esse dia aconteceu na minha vida. 

Só que hoje fui obrigada a relembrar. Chegou uma notificação de multa aqui em casa. Passei um semáforo vermelho sem perceber, por causa do #*$#%*& daquele ônibus citado no terceiro parágrafo aí de cima. Multona, de sete pontos. Caríssima. Taquelavidadelamierdadeunococô!!! 

Pra piorar a história, continuo tossindo como uma tísica e, ainda por cima, acabei de deixar meu celular cair na privada (detalhe: com xixi).

Definitivamente não tô boa não. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vizinho nóia


Estávamos sentadinhos eu e o japa, tomando um lanche em casa, quando, de repente, reparamos que havia um invasor na laje que dá acesso à nossa caixa d'água.

Ao ser flagrado, o moleque espinhento disse que estava apenas pegando uma bola que havia caído ali. Fiquei até com pena, porque aguentar sermão do japa não é moleza.

- Que negócio é esse, rapaz? Não sabe pedir, não? Você não tem educação? Acha que pode ir entrando assim na casa dos outros e...

(-_-) Zzzzzzzzzzzzzzzzz

Passados alguns dias, uma vizinha nos informou que andava observando o sujeitinho e viu que ele estava escondendo pacotinhos atrás da nossa caixa d'água. Bom, não se pode acusá-lo de mentiroso, né? Afinal, trata-se mesmo de "bola".

Aí fiquei pensando como a vida da gente pode revirar de uma hora pra outra, sem que se dê conta do que está rolando. Justo eu, uma caretona que nunca teve a menor curiosidade de chegar nem perto de um baseadinho, de repente posso ir em cana por tráfico de drogas, caso os bagulhos sejam encontrados na minha casa numa blitz policial. 

E o que fazer diante disso? Aparentemente trata-se apenas de um nóia amador, sem significativo poder de fogo. Mas, sabe-se lá quem pode estar por trás dele. O menino espinhento tem fornecedor, né?!

Pensamos em procurar a família do garoto e informar sobre o que está acontecendo, afinal é complicado ficar indiferente, inclusive porque a malandragem do meliante de certa forma nos envolve. Ao mesmo tempo, o fato do moleque ficar inteiramente à vontade pra utilizar uma escada enorme e pular na nossa laje sem que ninguém na casa dele considere estranho, nos sugere, no mínimo, alguma negligência. Como poderiam reagir à nossa interferência?  Fechar os olhos, simplesmente, é difícil. Quem sabe com o alerta não se pode evitar um mal maior na vida do desconectadinho e, ainda, dar nossa pequena contribuição em favor da sociedade?...

Situação cascuda. Sei lá como lidar com essa encrenca!

Como estamos há alguns dias de mudar pra casa nova, chegamos à conclusão  - sem nenhuma convicção -  de que o melhor, pelo menos por enquanto, é continuar apenas observando o movimento (que depois do flagra passou a ocorrer de madrugada). O jeito é repassar o problema para o futuro morador, que será devidamente informado, claro. 

Dificultoso por demais. Como diria o sapientíssimo Adoniran Barbosa, bom de briga é aquele que cai fora.


Ilustração do fantástico TIAGO HOISEL.

domingo, 12 de junho de 2011

É preciso saber amar



Um senhor de idade chegou num consultório médico, para fazer um curativo em sua mão onde havia um profundo corte. E muito apressado pediu urgência no atendimento, pois tinha um compromisso. O médico que o atendia, curioso, perguntou o que tinha de tão urgente para fazer.
O simpático velhinho lhe disse que todas as manhãs ia visitar sua esposa que estava em um abrigo para idosos, com mal de Alzheimer muito avançado.
O médico, preocupado com o atraso no atendimento, disse:
- Então hoje ela ficará muito preocupada com sua demora?
No que o senhor respondeu:
-Não, ela já não sabe quem eu sou. Há quase cinco anos que não me reconhece mais.
O médico, então, questionou:
- Mas então para que tanta pressa e necessidade em estar com ela todas as manhãs, se ela já não o reconhece mais?
O velhinho deu um sorriso e batendo de leve no ombro do médico respondeu:
-Ela não sabe quem eu sou... Mas eu sei muito bem quem ela é!
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O amor é lindo. Ser amada é lindo também. E saber amar, será que todos conseguem? Eu acho que não.
Como tão bem coloca Martha Medeiros em seu texto "Eu te amo não diz tudo", uma demonstração de amor requer bem mais do que beijos, sexo e verbalização.

Penso que saber amar de verdade não tem nada de desmedido, ao contrário, exige medida certa pra tudo. Exige calma, respeito, interesse real pela vida do outro... É discordar quando for preciso, não para se ter razão, mas fazendo valer o desejo de que as coisas tomem um rumo legal de fato. É saber distinguir perfeitamente a hora de falar da hora de ouvir. E ouvir MESMO.

Saber amar, de verdade verdadeira, está muito acima de um presente comprado, de palavras ensaiadas. É aceitar o outro como ele é, dando força para que ele melhore se preciso for; é saber se doar sem se anular; é admirar o outro e se fazer admirado também. É estar junto, sem necessariamente estar perto o tempo todo.


Amor verdadeiro a gente encontra nas coisas mais simples, nos gestos do dia a dia. Me sinto a mulher mais amada do mundo quando o japa, mesmo adorando cereja, tira a que está no doce dele e a oferece pra mim, sem me perguntar se quero, inclusive. Dá, simplesmente porque sabe que eu também sou doida por cereja. Me sinto amada, ainda, quando adormeço no sofá e acordo com uma manta gostosa, que ele colocou pra me aquecer.

Não deixo por menos, no entanto, e o japa sabe que também é muito amado. Agorinha há pouco, por exemplo, dei a ele uma tremenda prova de amor. Não saí correndo quando o vi comer um pedaço enorme de bolo de fubá envolto por uma grossa fatia de mortadela (uuuuurghhhhhh!!!). Ué, mas que que tem, né? Se ele gosta!... Viu? Amar é isso, topar qualquer parada (basta apenas que ele não venha me dar nem um beijinho antes de fazer a devida digestão... creeeedo!).

Mas pra não acharem que sou uma ogra nada romântica, deixo aqui uma homenagem ao meu japa pelos 25 dias dos namorados que já passamos juntos. É uma vida. E o cara que melhor soube interpretar o amor neste planeta é quem falará por mim:



Soneto do amor total
(Vinícius de Moraes)

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te a fim de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo, de repente,
Hei de morrer de amar mais do que pude.

sábado, 4 de junho de 2011

Dia dos Namorados sem ninguém



Dia dos Namorados se aproximando e lá vem uma enxurrada de lamentações. Uns porque não estão namorando, outros porque não poderão fazer aquele programinha especial, enfim... 

Tenho uma amiguinha virtual que de vez em quando me escreve pra falar de suas frustrações no campo sentimental. Tem o dedinho podre, coitadinha, e em geral se envolve com os caras errados. Agora está amarguradíssima porque vai passar o Dia dos Namorados sem companhia. Quer que eu lhe ajude a entender essa solidão, que considera tão injusta. Disse que no próximo e-mail vai enviar uma foto atual pra que eu veja se ela é feia e se é por isso que sempre se dá mal. 

Melhor não mandar não, porque se for um trubufu eu não vou ter coragem de dizer. Só o que posso fazer pra ajudá-la a achar um novo encosto é ensinar uma infalível oração a São Longuinho, com a expressa recomendação de que, ao encontrar outro porqueira, deve dar não apenas três, mas mil pulinhos (e se for a baranga que imagino, o santo merece até salto com triplo mortal).

Uma outra, então, reclamou que o novo namorado já saiu pela tangente, avisando que no próximo dia 12 é aniversário da mãe dele e, portanto, nada de comemoração íntima (nem coletiva, porque não a convidou pra festa da sogrinha). Ê, resmunguenta!... E daí? Mãe não pode ter nascido nesse dia, por acaso? Então. Bom... Não é por nada não, mas, por via das dúvidas, se eu fosse ela intimaria o meliante a mostrar o RG da respectiva progenitora. Não custa conferir o álibi.

Tá, tá, eu sei que é difícil desencanar, que nessa época não se ouve falar de outra coisa e, ainda pior, a alegria alheia incomoda. Mas gente, esse é apenas mais um dia do ano, como outro qualquer! O negócio é não se deixar levar pelo apelo comercial e tentar se envolver com outras coisas (nada de filmes melosos ou músicas "dor de corno", tá?). No dia 12 de junho, como em todos os outros dias, vai amanhecer, vai entardecer e vai anoitecer. Basta um piscar de olhos e puf!... O dia acaba.

Bem pior que passar um único dia sem comemorar ao lado de alguém é ter que amargar o ano inteirinho na companhia de um traste, só pra mostrar que não se está sozinha. O jeito é relaxar e deixar rolar, a pessoa certa surge quando menos se espera. Aliás, cá entre nós, a pessoa certa é sempre a gente mesmo, né? Que precisa aprender a ser feliz sem depender de nada, nem de ninguém.

“Se só quiséssemos ser felizes, conseguiríamos com facilidade. Mas desejamos ser mais felizes que os outros e isto sempre é muito difícil, porque achamos que os outros são mais felizes do que na realidade são.”
(Charles de Montesquieu)

Ilustração: CEÓ PONTUAL

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Saber decorado não é saber!



Ando sumida, porque, como já contei, estou em fase de provas na faculdade. Confesso que subestimei o curso de Direito, achando que não seria tão complicado. O problema é que é um sufoco. Nem tanto pela complexidade do conteúdo, a dificuldade maior está no volume de informações. Pra se ter uma ideia, o primeiro semestre está terminando agora e já estou na minha quarta caneta!

Como as provas acontecem em dias sucessivos, há um zinzilhão de coisas pra memorizar num curto espaço de tempo. Aí desenvolvi um sistema que tem surtido um ótimo efeito na hora do vamo vê. Pensando nesses métodos de memorização que usam a associação como base, resolvi atribuir minhas próprias impressões às coisas que vou lendo. Depois, é só lembrar da impressão que tive e pronto, imediatamente o conteúdo aparece na minha cabeça. 

Fiz isso em relação ao monte de conceitos e pensadores de diversas épocas que precisei estudar. E ficou assim:


Conceito:

"Na Roma antiga havia requisitos básicos para que alguém fosse considerado 'pessoa' e pudesse exercer seus direitos de cidadão. Entre os que jamais seriam considerados 'pessoas' estavam as mulheres. Os romanos chamavam a mulher de 'imbecillitas sexus', por considerá-la naturalmente incapaz."

Minha impressão:

OS ROMANOS ERAM UM BANDO DE FIADAPUTA!



Conceito:

"Aristóteles considerava a mulher totalmente desprovida de raciocínio, porque, segundo ele, tinha inabilidade congênita para as questões políticas. Achava que os filhos herdavam características somente por parte de pai, servindo a mulher apenas de invólucro para o feto."

Minha impressão:

ARISTÓTELES CONSEGUIA SER AINDA MAIS FIADAPUTA QUE OS ROMANOS.


Mais didática, impossível. Parece brincadeira, mas que dá certo, dá.


Ilustração: CEÓ PONTUAL 
"Saber decorado não é saber" (Michel Eyquem de Montaigne)