quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Coitado do português!

“Boa tarde meus cameramen maravilhoso”, “Olha só, minhas bonitinha de casa”, “As féria das criançada tá acabando”, "Essa é uma das receita que as amiguinha manda pra mim fazer"… Dou um doce pro espertinho que adivinhar quem massacra nosso pobre português desse jeito. Sim, ela mesma, a impagável Palmirinha Onofre, culinarista que está no ar diariamente na TV Gazeta. Palmira é a maior engolidora de "s" que conheço. É também uma simpática senhora, que tem um jeito muito alegre e meio atrapalhado de ensinar suas receitas. Que faz do seu programa uma extensão da casa da gente, com uma simplicidade aconchegante e muito divertida.
"O que pensar de alguém que não consegue dominar nem o próprio idioma? Ainda que o trabalho não exija redação constante, pelo menos um bilhetinho a criatura manda de vez em quando, né?"
É meio complicado achar legal ver na TV alguém falando tão errado, principalmente quando se trata de um veículo com tamanha responsabilidade social. Mas a simpática culinarista representa um típico caso em que os erros são sublimados por características regionais e outras implicações culturais. Quem vai exigir da Palmirinha, uma senhora interiorana de 77 anos, que passe a utilizar um português impecável? No caso dela, inclusive, isso já virou uma marca registrada. Há, porém, casos imperdoáveis, especialmente quando partem de pessoas que têm o compromisso de se comunicar dentro da mais absoluta correção. Pior ainda quando o erro é cometido simplesmente por preguiça de fazer direito. Veja estes exemplos e depois me diga se não são de doer (observe que nos dois casos a palavra é repetida, uma vez com o jeitinho hediondo e outra do jeito correto): Não sou dona da verdade e também cometo muitos erros. Mas tento, na medida do possível, me sintonizar bem com nosso idioma, que é complicadinho de verdade, reconheço. Só não aguento quando acontece uma coisa assim: - Olha, a gente vamos aí amanhã, tá? - Não é "a gente vamos"... É "a gente vai". - Ah, você entendeu, não entendeu? Então pronto. Ninguém é obrigado a ser perfeito, todos erramos, mas o duro é errar de propósito e achar que não há problema algum nisso. Uma coisa é ser simples, como a Palmirinha e tantas outras pessoas que vemos por aí. Outra bem diferente é ser ignorante porque se quer. E não é bonito ser burro. No mundo virtual, então, meu Deus! Estão assassinando o português a tecladas, tem coisas de sangrar os olhos. O uso do cedilha, por exemplo, se tornou livre, leve e solto. A regrinha básica de que não se usa jamais o cedilha em "c" que precede as letras "e" e "i" foi abolida. Daí o festival horrendo de "voçê", "mereçe" e outras barbaridades. Hoje mesmo vi no Orkut esse recadinho de "arder os zóio", escrito por uma suposta professora prestes a se aposentar (copiado e colado ipsis litteris): "Sempre decidi voto no 45. mais meus filhos vota nno 40 o que vale é o klebe não ganha pois não dependo de prefeitura sou efetiva e ja estou me aposentando o na que vem pra vc que não sabe. xau e não se encomode com minha vidapois dela cuido EU." Credo, credo, credo! Pendure as chuteiras mesmo, filha... E já vai tarde! Essa falta de discernimento atrapalha bastante até na hora de fazer uma pesquisa na Internet. Outro dia uma pessoa queria encontrar uma determinada empresa de limpeza urbana. Sugeri uma busca no Google. Após diversas tentativas, a pessoa diz que não tem. Como assim??? A anta estava digitando "limpesa"!!! Fico espantada ao ver erros gritantes cometidos por gente com formação acadêmica suficiente pra escrever de um jeito mais decente. Tenho uma amiga muito querida, advogada, que escreve absurdamente errado. Se a gente parar pra pensar que o único instrumento de trabalho do advogado é a palavra, então isso se torna imperdoável e péssimo pra imagem do profissional. Inclusive, na minha opinião, esse exemplo derruba a tese de que só escreve bem quem lê bastante. Afinal, no curso de direito o aluno não faz outra coisa, senão ler alucinadamente. Já vi erros cabeludos cometidos por médicos, engenheiros e outros profissionais com formação superior. É a velha mania de achar que se a comunicação escrita não for fundamental pra realização do trabalho, então torna-se dispensável o uso de regras ortográficas. Caramba, quem é respeitado se não consegue se comunicar bem, seja da forma que for? E o que pensar de alguém que não consegue dominar nem o próprio idioma? Ainda que o trabalho não exija redação constante, pelo menos um bilhetinho a criatura manda de vez em quando, né? Enfim, acho que não precisamos deixar a língua portuguesa complicar a rotina, mas hoje em dia tudo fica muito mais simples quando se tem acesso à informação online. Esclarecer dúvidas de acordo com as necessidades é moleza. Além de um montão de sites disponíveis, dois que acho bem legais são Mundo Vestibular e Priberam, com excelentes dicas de ortografia, acentuação, pontuação etc. Não custa nada dispensar uns minutinhos e usar, né?

10 comentários:

  1. Um dia, de passagem por uma determinada cidade do interior nordestino, eu e alguns colegas visitamos uma salinha de aula. Havia umas 20 crianças e uma professorinha, que devia ter seus 18 ou 20 anos. Escritas no quadro negro estavam frases que as crianças copiavam.

    E no meio das frases, palavras como "poblema" , " nóis" e " craro". Erros de português gritantes. Escritos pela professorinha.

    Nunca me saiu da cabeça que aquelas 20 crianças seguiriam pela vida escrevendo " poblema"...
    Como aquela professorinha, outras tantas da sua turma deviam estar ensinando mais 400 crianças a escrever "poblema". No ano que vem serão outras centenas e assim vai, progressivamente.

    A professorinha era a única pessoa que aceitava dedicar seu tempo às crianças, recebendo um salário que, na época, devia ser equivalente a 30 reais. O Brasil é ou não é uma tristeza?

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  2. Tânia, vc tem razão quando diz que determinados erros são irrelevantes quando se observa aspectos culturais. Um exemplo legal é o saudoso Adoniran Barbosa, que entrou prá história da música com letras em que o português levava uma surra. Em um de seus depoimentos saiu com esta pequena jóia, verdadeira arte poética: “Falar errado é uma arte, senão vira deboche”. Ele não estava nem aí se iriam gostar ou não. E como diria a Palmirinha Onofre "Espero que vocês gostaram, minhas amiguinha"....heheheh, coitadinha, adoro os quitudes dela!!! Bj!

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  3. Tânia, achei seu blog meio que por acaso e adorei! Vou acompanhar sempre. bjs

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  4. Não resisti e fui procurar a tal Palmirinha Onofre no Google. Nunca tinha ouvido falar nela, acho que esse programa não passa aqui. A velhinha é bem simpática e engraçada. :)

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  5. Hum...
    O que dizer então de: "menas" coisas, vou "estar" providenciando,(muito usado pela galera de telemarketing e funcionários públicos), baseado em fatos reais e arsenal de armas (Globo). Poderia citar inúmeros erros e vícios de linguagem.
    Parabéns! Com certeza esse é um tópico que nos leva a repensar a importância de nos comunicarmos de forma correta; a Língua Portuguesa nos dá todos os intrumentos para tal.

    Témaisvê

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  6. Lilian:

    Você tem razão sim, vejo muitos casos de crianças que aprendem errado e, portanto, dificilmente vão melhorar depois. Até porque, em condições como a que você presenciou, é praticamente certo que não terão oportunidade de dar continuidade aos estudos num nível razoavelmente aceitável. Infelizmente é assim que o Brasil trata a educação. Depois dizem que este é o país do futuro. Onde há futuro sem uma educação decente?



    Cris:

    Que lembrança genial! Adoniran Barbosa é mesmo um ícone da cultura brasileira. E a afirmação dele foi espetacular, afinal, falar errado com tanta sabedoria, não é mesmo pra qualquer um.



    Laila:

    Seja muito bem-vinda a este espaço. Fico feliz demais por contar com seu apoio e participação.



    Jack:

    Afinal, de onde você é? Bem, acredito que esse programa da Palmira Onofre não seja transmitido pra todo Brasil, porque é da TV Gazeta, uma emissora paulistana. Que legal você ter ido procurar informações sobre ela, é mesmo uma figurinha rara. Mas atrapalhações à parte, é uma quituteira de mão cheia!



    Terêncio:

    Quem está de parabéns é você. Afinal, são raríssimas as pessoas que usam (ou sabem como usar) o ponto e vírgula. Você tem razão, esses vícios de linguagem são de matar, principalmente o tal "gerundismo", acho um horror! Fico "meia" passada quando ouço essas coisas. kkkkkkkk!!!!



    Um beijo enorme pra todo mundo!

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  7. Bem legal esse post, Tania. Também tenho visto coisas de arrepiar os cabelos, principalmente na Internet. Acima da falta de leitura acho que está a má vontade do povo em caprichar mais no português. Gostei muito dos sites que vc indicou, vou passar a consultá-los. Bj!

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  8. Helena e Cássia...

    É isso aí, sempre em defesa do nosso velho e bom portuga. É tão bonito nosso idioma, né? Por que avacalhar tanto com ele?

    Valeu pelo apoio e pelos comentários.

    Beijo pras duas!

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  9. Tânia, sua postagem diz tudo, estamos vivendo tempos difíceis no que diz respeito à comunicação. Parece que quanto maior é o acesso à informação, menos interesse se tem de fazer o certo. Tenho a impressão de que as pessoas não se tocam de que escrever errado é a mesma coisa que falar errado, ou seja, mostrar ignorância gratuita. Parabéns, seu texto foi direto ao ponto.

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