sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Fábrica de sonhos

Adoro curtir um bom filme, daqueles bem "cults", que pouca gente aguenta assistir sem dormir. Mas, pra espairecer legal, gosto mesmo é de um trash rasgadão.

Um filme trash não é necessariamente ruim, apenas exige um estado de espírito que permita enxergar a obra com olhos sarcásticos o suficiente pra se deixar levar pela história.

Ontem assisti "Lenda Urbana", um suspense obviamente previsível e bastante reprisado, mas muito divertido sob o ponto de vista analítico. O final da história é estarrecedor. Não pelo fator surpresa, ao contrário. É que o óbvio chega a ser tão escancaradamente ululante, que me deixa boaquiaberta.

No exato instante em que a vilã (melhor "amiga" da mocinha, que não sabia da trairagem da outra, lógico) ía dar o golpe de misericórdia no casalzinho sobrevivente a uma série de assassinatos, a policial que tentou matá-la sem sucesso e levou uma azeitona na barriga por causa dessa incompetência, antes do provável último suspiro, manda um tiro que acerta no braço da malvada. Esta, por sua vez, mais malvada ainda depois de tomar o pipoco, parte furiosa pra cima do casalzinho, que inadvertidamente não aproveitou essa confusão pra evaporar dali. A mocinha, num ímpeto tardio de agilidade, se apodera da arma que estava no chão e manda um balaço no peito da malévola, que, com o impacto, é jogada janela abaixo e se estatela no chão. Mal sabia o casal apaixonado que a vilã era de borracha... Depois de um longo beijo (!!!), já dentro do carro e fazendo planos para o futuro, são atacados pela doida que estava no banco de trás (the big surprise!). E a mulher tava com tudo! Tiro no braço, rombo no peito, fraturas múltiplas pela queda, tudo bobagem. Finalmente, após a ação calculada com exatidão pelo mocinho em questão de segundos, a diabólica é arremessada pelo vidro do carro e vai direto pro rio, onde comprovadamente é dada como morta por estar boiando. E não é que no final, depois de passados alguns anos, a mesma maluca aparece de novo? E dá-lhe Lenda Urbana 2, 3, 4... 549.

Aí fiquei pensando que em Hollywood as regras foram feitas pra ser quebradas. Olha só:

. Quando um vilão aparece morto, NUNCA ESTÁ. Mas não se preocupe, porque o herói sempre verá quando ele está chegando - mesmo estando de costas. E ainda que não o veja, ao ser supreendido pela morte eminente, contará com o auxílio decisivo da mocinha ou do coadjuvante feio e bobão, que irão acabar com a raça do malvado;

. O telefone toca. O herói/mocinha atende. "Aló. Sim. Ok. Obrigado." (tempo total da conversa: 5 segundos; e sem tchau, porque nos filmes ninguém se despede nunca). Em seguida, o herói/mocinha se vira para o coadjuvante: "Era Backer. Ele disse que Kate foi para o escritório há mais ou menos uma hora. Ela já deveria estar lá agora. Ele ligou pra lá, mas ela não está. Ele também ligou para John e ele ainda não a viu. Você sabe como a Kate é difícil. Ele disse que se não conseguir encontrá-la, vai chamar a polícia. É melhor irmos pra lá, rápido!" (aliás, às avessas, isso me lembra do meu irmão... Depois de passar uma hora falando com alguém, quando a gente pergunta "E aí, o que ele disse?", o espírito de porco responde ultra-sinteticamente: "Ué, nada!". Ai, ai, ai, ai-ai!);

. O modo mais eficiente de salvar uma vítima de parada cardíaca (bem melhor que o uso de desfibrilador) é gritar coisas como "Você nunca desistiu de nada na sua vida, Carol! Agora lute, LUTE!" ou "Não faça isso comigo, Carol. Eu te amo, droga!" (quase sempre isso dá um excelente resultado, o SAMU deveria adotar essa medida prática e eficiente com urgência. Opa... Peralá! Só que tem um médico que não estará autorizado a usar a segunda alternativa do método "jamé", a patroa aqui não permite);

. Quando estrangeiros (especialmente latinos) aparecem nos filmes americanos, falam inglês perfeitamente, mas NUNCA aprendem a falar sir ou thank you... Dizem señor e gracias;

. Toda fechadura pode ser aberta por um cartão de crédito ou por um clipe de papel. E os cofres dos maiores bancos do mundo são vulneráveis a qualquer gatuno com estetoscópio;

. Uma pessoa atingida por um tiro morre sempre na hora. O corpo nunca sofre com músculos se contraindo involuntariamente, enquanto o cérebro sofre morte lenta por falta de oxigenação. Vê lá se o Keanu Reeves ou o Brad Pit vão passar por um perrengue desses! Os lindérrimos jamais vão aparecer de língua pra fora, babando e fazendo annnhajjajaaammmarr... rhhrhuurhhuuhhhmm... Não rola;

. Elevadores de filmes sempre estão prontinhos no térreo ou chegam no exato instante em que a conversa termina. A não ser quando alguém está sendo perseguido, aí o jeito é ir pelas escadas, em geral abertas, pra que o perseguidor tenha boa visão do perseguido (que de minuto em minuto sempre dá uma paradinha pra olhar pra trás);

. Toda mãe de filme prepara um gostoso café da manhã com ovos, bacon, torradas e tudo mais. A família, porém, sempre passa correndo pela mesa, com tempo apenas para tomar um gole de café ou suco (deve sobrar muita comida em Hollywood! Mas isso também acontece nas nossas novelas... Ainda bem que aqui a gente é pobre e tudo é cenográfico, daí não sobra nadinha. A mesma maçã que passou pela "Favorita", roda pelo "Porra... ui! Zorra Total" e cai nas mãos da "Turma do Didi");

. Garotos de 8 a 10 anos de idade são os melhores hackers do mundo... se usarem óculos;

. As garotas que nunca conseguem pares para o baile de formatura ficam sobrando por causa da feiura (feiura = óculos + cabelo preso). Revoltadas, resolvem ficar gatíssimas e passam por uma transformação radical no visual: começam a usar lentes de contato e soltam os cabelos. Finalmente maravilhosas, acabam sempre eleitas como rainhas do baile e nos braços do gostosão da história;

. Pra terminar, após uma perseguição a pé ou de carro, das lutas com os capangas, dos sucessivos salvamentos à mocinha à beira da morte, da demorada e desgastante batalha com o vilão, depois da explosão do QG do mal, com as roupas rotas e rasgadas, cheio de cortes e toda sorte de ferimentos pelo corpo, o herói, mesmo sapecado, sempre faz uma piadinha e diz pra mocinha: "Querida, você não vai à festa com essa roupa, vai?". Um sorriso Colgate, um longo beijo e the end. Ufa! Que ânimo invejável!

Definitivamente estou ficando velha, chata e realista demais.

8 comentários:

  1. Caraca, tia!
    Você foi longe heim??
    o pior e que você ta certa xD
    sempre sobram duas pessoas, de preferencia um casal de um mulher loira e o cara bombado gostoso =P, pra salvar todo mundo!
    filme cliche ninguem merece ¬¬

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  2. ADOREI! hahahahahaha! Pior que é assim mesmo, tudo do jeito que você falou. Também tem uma outra coisa que só acontece em filme e novela na maior normalidade: duas pessoas conversam numa boa, uma de costas pra outra, quando alguém só olha prá câmera na hora do corte pro comercial. E ninguém acha isso estranho, pode? hahahaha!!!
    Bj!

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  3. Me divirto com esse blog, só nunca consigo colocar o comentário de primeira, sempre tem um erro. Minha pequena contribuição prá lista de absurdos do cinema: reparou que o rádio/TV sempre é ligado na hora da notícia que interessa? E mesmo que o interessado esteja com o rádio/TV desligado, alguém sempre vai telefonar avisando sobre a notícia, permitindo que o desavisado ligue o rádio/TV nesse instante e acompanhe a notícia desde o começo. huahauhuaha

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  4. Esse post está divertido. Minha linda, vc está bem longe de ser velha e chata. Talvez realista demais... rsrsrs
    Bj!

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  5. PRIMA, como pode advinhar o que penso! Sempre faço comentários sobre os temas que comentou e fiquei feliz em notar a forma bem legal que abordou o assunto. Eu ainda comento que: a mocinha com um soquinho, no final da trama, vence o bandido.
    Você já obeservou como as personagens acordam maravilhosas, maquiagem perfeita! Kkkkkkk!
    Parabéns!

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  6. Eba! Recebi até a visitinha da Jujuba, que beleza!

    Pois é, Júlia, filme clichê ninguém merece. Mas "de repentemente" até que é uma boa, afinal, é só ficar olhando, nem precisa pensar. O problema é que mesmo sem pensar nadica de nada a gente já sabe qual vai ser o final, né? Um cocô! Ô tia mais boca suja! Falando coisa feia pra sobrinha... Não diga cocô, tá? Fala "caquinha", é mais bonitinho! kkkkkk!!!!

    Helena, mas devemos reconhecer que Hollywood copia essa história de falar de costas um pro outro das novelas mexicanas. O que que é aquilo, my God?! Nunquinha que os atores se olham! Bem esquisito mesmo.

    Ô Jack... Pra colocar o comentário de primeira basta não ter preguicinha e antes de pedir pra publicar, conferir primeiro no "visualizar". Mas não o critico, porque eu também sempre faço isso. Boa a sua lembrança de que ninguém perde a notícia nos filmes. Coisa incrível mesmo, é só ligar o "pareio" que o sujeito assiste ou ouve exatamente o que quer. Ah se fosse assim de verdade!...

    Fernando, as atrocidades do mundo me endureceram o coração... Agora sou assim, um poço de realidade cruel. kkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!

    Que maravilha ver minha prima tão querida por aqui! Tem toda razão, Cássia. Com um soquinho (que é pra não estragar o esmalte) as belas derrubam qualquer vilão. E, como você mesma observou, continuam sempre belas: acordam maquiadas, cabelos sempre magníficos (mesmo embaixo de chuva!), pele de pêssego...

    Ai, não tô dizendo que tô virando uma chata? E invejosa, ainda por cima! kkkkkkkkkkkkk!!!!

    Super beijo pra todo mundo!

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  7. Menéga,
    Você é tão cricri que lendo o seu texto ouço a sua voz cricriticando os filmes. Você tá prenha de razão nêga. Mas o melhor desses filmes é que eles deixam o cérebro aerado e relaxado

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  8. Pois é tia, você é bem realista, e eu adoro isso x) deve ser porque eu também sou um poquinho, haha!
    Ah, já vi todas as versões do Lenda Urbana, e adoooro filmes sobre lendas, histórias, enfim, gostei de todas as versões que vi, mesmo tendo sempre o mesmo objetivo final no filme!
    Beijão tia ;*

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