quinta-feira, 14 de agosto de 2008

As aparências enganam demais!

Ontem, acompanhando algumas das competições das olimpíadas, me convenci de vez que as aparências enganam mesmo.

É comum pressupor que lutadores de artes marciais sejam truculentos, frios e calculistas. Me surpreendi muito com o judoca Eduardo Santos, que foi derrotado na repescagem da chave dos médios (90 kg) e deixou pra trás seu sonho de medalha. O rapaz foi evidentemente injustiçado por um erro da arbitragem, mas ao invés de esbravejar, chorou e pediu desculpas aos pais por não ter tido a competência de derrotar seus oponentes (isso logo depois de ter vencido suas duas primeiras lutas por ippon!). Demonstrou uma delicadeza inesperada pra quem se depara com aquela montanha de músculos e aparência rude. Foi extremamente humilde diante de uma situação onde naturalmente poderia impor outro tipo de julgamento. Mas a emoção falou mais alto e revelou que acima do atleta sedento por vitórias há um ser humano fantástico, de ótima índole, que merece muito respeito e admiração.

"Não há dúvida de que a impressão negativa causada pela aparência de uma pessoa pode se desfazer quando lhe damos a oportunidade de falar, mostrar quem realmente é."

Há alguns meses atrás um rapaz, que viria a ser meu vizinho, também me surpreendeu bastante. Ao saber que ali funcionaria uma loja de tatuagens, logo torci o nariz. Quando vi o cara, então, reafirmei minha má vontade. O sujeito é enorme, careca, cheio de tatuagens e tem a maior cara de mau. Calculei que aquilo seria um ponto de encontro de malucos, quem sabe drogados? Não demorou nada pra que eu percebesse como estava sendo ridícula ao rotular baseada em aparências e preconceitos. Com uma educação incomum para os dias de hoje, em que as pessoas mal se olham, ele nos chamou pra se apresentar. Voz tranqüila, muito eloqüente e comunicativo, falou um pouco sobre si mesmo e sobre o que faria ali. Realizou uma enorme reforma que não causou o mínimo transtorno, pelo contrário, até nos beneficiou de alguma forma. A loja é tocada pela família e freqüentada por outros malucos igualmente educadíssimos. Nunca tive vizinho melhor, inclusive sempre pronto a ajudar se for o caso. Isso tudo fora o talento enorme na sua atividade, feita com muita criatividade, bom gosto, organização e higiene. Como é bom se surpreender positivamente!

Infelizmente uma característica marcante do ser humano é que ele está o tempo inteiro emitindo julgamentos. Toda vez que conhecemos algo ou alguém, nos apressamos em criar um juízo, tentando avaliar suas qualidades, seus defeitos e, principalmente, suas intenções. Para tanto, usamos a percepção, que é construída a partir de como "sentimos" as coisas e as pessoas. Não há dúvida de que a impressão negativa causada pela aparência de uma pessoa pode se desfazer quando lhe damos a oportunidade de falar, mostrar quem realmente é.

Quantas vezes não damos nada por uma pessoa que tem hábitos simples e se comporta sem nenhuma soberba, quando na verdade trata-se de uma sumidade em algum assunto? Esse vídeo do YouTube ilustra bem esse tipo de situação (real), é bem legal:

A psicologia, no entanto, nos absolve desse pecado e prova que embora não desejável, julgar por aparências é normal. A primeira análise que fazemos de uma pessoa ou situação é aquela que busca defender nossa integridade física, é uma análise puramente instintiva. Nosso cérebro imediatamente nos alerta quando nos colocamos diante do desconhecido, principalmente se a estética não for parecida com a nossa ou dentro de um padrão que apreciamos. A segunda análise é emocional e apenas em terceira instância é que fazemos um exame racional.

Seja como for, só sei que aprendi a não julgar nada e nem ninguém baseada em conversas alheias, aparências ou pelo histórico de vida que a pessoa apresenta. Tem muita gente boa por aí e vale a pena tirar conclusões somente depois de um contato mais direto.

4 comentários:

  1. A gente vê muito esse negócio na universidade. Tive professores doutorados, feras mesmo, que se fossem julgados por suas aparências seriam considerados coitadinhos. Gostei do vídeo, um exemplo legal de que quem vê cara não vê coração.

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  2. Também concordo com tudo e achei o vídeo bem legal. Só acho que faltou dizer que o contrário também é verdadeiro, porque tem muita gente ruim por aí e é tomada como celebridade. Um exemplo? Mulher Melancia. Hahahaha! Bj!

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  3. É tia, as aparências enganam, e muito. Sobre o seu vizinho, que cara bacana, eu quero um vizinho desses, haha! Eu só tive vizinho chato e barulhento, e confesso, nunca nem ouvi falar de um vizinho tão educado ao ponto de ir se apresentar, e ser tão comunicativo, explicando seus objetivos no local. Tia, vamos trocar de vizinho? Haha! E quanto ao vídeo... adooorei, e me emocionei, sou uma chorona mesmo, tive dó de vê-lo tão emocionado e amedrontado, temendo em não conseguir, é uma história linda! Enfim, eu também já fiz julgamentos e depois me surpreendi positivamente, mas evito ao máximo fazer isto, fico me policiando, mas também já dei a cara a tapa, e me surpreendi negativamente, é muito relativo, mas claro que, se for uma boa surpresa, sempre será bem vinda, né!

    Beijão tia ;*

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  4. Ah, esqueci de falar do judoca, o que foi aquilo? Eu tive muita dó, o rapaz se esforçou tanto, e acabou não conseguindo por erro alheio. E novamente me comovi, com a ato de desculpas (de quem nem teve culpa) aos pais, ele merecia ganhar! Quanto mais se passa, mais eu percebo o quanto o mundo é injusto, isso me deceppciona!

    Beijo ;*

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