terça-feira, 24 de março de 2009

Sentir dor pode ser ótimo!

Não, eu não sou masoquista, nem estou fazendo apologia à violência. Mas andei pensando sobre uma citação de Drummond, que considero perfeita: "A dor é inevitável. O sofrimento é opcional". Vou além, acreditando que a dor seja até necessária, em todos os sentidos. Veja o caso dos portadores da Síndrome de Riley-Day, por exemplo. Sofrem de um transtorno hereditário que afeta a função dos nervos em todo o corpo e, portanto, não sentem dor. Com isso, se ferem gravemente ou não conseguem perceber os sintomas de outras doenças, sofrendo horrores, sem contar que é bem comum acabarem morrendo precocemente por isso. Não é gostoso sentir dor, mas ela sempre vem pra alertar sobre algo que não está bem. O dente doeu? Corre pro dentista. Tá com dor de cabeça? Manda bala num analgésico. Enfim, ninguém gosta de ficar sentindo dor sem tomar nenhuma providência. O remédio nem sempre é agradável, mas é necessário.
"Passe a encarar as dores da sua alma do mesmo jeito que trata das dores do seu corpo. Elas também exigem tratamento cuidadoso."
Se a dor é importante para detectar os problemas do corpo, imagine as angústias da alma. O problema é que, ao contrário dos cuidados que se tem com o organismo, em geral as pessoas negligenciam as dores emocionais. Pior que isso, transformam essa dor num sofrimento inesgotável, sem se mexer para resolver de vez uma situação, que só tende a piorar com o passar do tempo. Fico pasma ao ver que há mulheres que conseguem sofrer os dois tipos de dor ao mesmo tempo e não fazem absolutamente nada para mudar o quadro medonho. Muito pelo contrário, escolhem continuar sofrendo. Recentemente soube de dois casos lamentáveis, em que as mulheres envolvidas demonstraram não ter um pingo de amor próprio. Uma delas conseguiu destruir um casamento estável, com boa situação financeira e dois filhos, quando se envolveu com um rapaz 20 anos mais novo (não tenho nada contra isso, que fique claro), que é traficante e lhe desce o sarrafo, sem dó nem piedade. Mesmo tendo que viver em condições extremamente precárias atualmente, sob risco contínuo, já que o sujeito é bandido, tendo um contato muito limitado com os filhos e presenciando, inclusive, o cara transando com outras mulheres na frente dela, essa criatura ainda se diz apaixonada! Mas chora, chora, chora... Num outro caso, a garota namora há anos com um sujeito que não a respeita, também lhe mete a mão e controla sua vida. Desesperada com a última barbaridade que sofreu, recorreu a familiares e amigos, na tentativa de encontrar algum conforto. Foi prontamente auxiliada e todos, sem exceção, deixaram claro que o rapaz não era digno da sua confiança, menos ainda das lágrimas que copiosamente ela derramava por ele. Ela levou isso em conta? Não, imediatamente cedeu às investidas do cafajeste, reatou o namoro e parece estar feliz da vida. Bom, pelo menos até a próxima (e inevitável) porrada, né? Cá entre nós, o sufoco pelo qual essas duas estão passando agora não surgiu do nada. É óbvio que ambas desconsideraram indicações de que as coisas poderiam chegar a esse ponto, acreditando que o "amor" sempre está acima de tudo, até da dignidade delas. Aprendi ao longo da minha vida que nunca devemos negligenciar sinais. Se por um momento que seja o relacionamento nos machuca, traz preocupação e tira nossa paz, então é necessário estar atenta. Porque muitas vezes, a violência não vem na forma física, mas ataca impiedosamente o emocional. Pequenas ofensas, silenciosamente, também corroem uma relação. Palavras infelizes, tipo "Você é gorda", "Você está velha" ou "Não adianta te falar tal assunto, você não vai entender mesmo", ainda que ditas em tom de "brincadeirinha" não devem ser admitidas jamais. Ouviu a piadinha e sentiu pelo menos uma dorzinha por isso? Não deixe passar, resolva rapidinho. Porque não é nada legal permanecer ao lado de quem não nos admira e respeita. Ah, ele implorou seu perdão e jurou pela mãe mortinha que vai mudar? Não se engane, desta vez não será diferente. Pode até demorar um pouquinho, você viverá dias saltitantes no paraíso, mas fatalmente vai sofrer a mesma dor. Porque quem tem que mudar não é o outro, é você! Não há o menor sentido em esperar que as coisas melhorem, alimentando a ilusão de modificar quem não está sob seu controle. Domínio só temos sobre nós mesmos, ainda que seja necessária ajuda profissional para colocar nossa mente em ordem novamente. Passe a encarar as dores da alma do mesmo jeito que trata das dores do seu corpo. Elas também exigem tratamento cuidadoso. O remédio pode ser amargo, o tratamento doloroso, o desconforto poderá aparentar não ter fim. Mas sempre haverá uma certeza: a de que, com dedicação e muita força de vontade, a cura vai chegar. A escolha é só sua. Então, que tal não escolher ser infeliz?

5 comentários:

  1. Concordei com tudo, sem tirar nem por. Mulher burra tem mais é que pastar mesmo. Bj!

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  2. Apesar de a violência verbal e da violência psicológica geralmente não deixarem marcas físicas, originam problemas emocionais bem sérios para suas vítimas. Tania, parabéns por essa abordagem. É um problema recorrente, que nem todo mundo leva a sério e pode ter consequências muito graves.

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  3. Parabéns Tânia, um tema que mereçe uma reflexão profunda. Esse é um problema tão sério..muitas mulheres sofrem violência a vida inteira e jamais externam os seus dilemas por vários motivos; e são tantos que não dá nem para enumerar.
    Essas mulheres que suportam viver sob tortura precisam se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar consigo mesmas, se olhando de frente, se amando, se valorizando e aprendendo encarar os seus problemas com coragem,vontade e determinação,de mudar de se curar. A psicóloga e terapeuta familiar Robin Norwood escreveu o livro baseado na sua própria experiência e na experiência de centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ela percebeu um padrão de comportamento comum em todas elas e as chamou de "mulheres que amam demais".
    As consequências como disse a LAILA são sérias e graves.
    Obrigada Tânia.

    Hirany

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  4. Tânia, de fato aqui você abordou um tema de extrema relevância.

    Muito se fala sobre a violência física e dá-se pouca ou nenhuma importância às agressões que ferem o emocional.

    A violência psicológica, também conhecida como agressão emocional, é a ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outras pessoas, por meio de intimidação, manipulação, ameaça, direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.

    Uma forma de violência emocional é fazer o outro se sentir inferior, dependente, culpado ou omisso e se constitui um dos tipos de agressão emocional mais terríveis. Um exemplo de agressão moral é quando o agressor faz tudo corretamente, não com o propósito de ensinar, mas para mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência. O agressor com esse perfil tem prazer quando o outro se sente inferiorizado, diminuído e incompetente.

    Aceitar passivamente esse tipo de comportamento é extremamente danoso e apenas contribui para uma autodestruição.

    Um grande abraço!

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  5. Verdade, também concordo com tudo. Existe um ditado que diz "Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda". Só olhando pra si mesmas é que as mulheres que se sujeitam a qualquer espécie de violência percebem que não devem aceitar relações que são verdadeiros lixos. Lixo tem mais é que ser jogado fora!

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