sábado, 8 de agosto de 2009

Sou mais velha que meu pai. Pode?!

Fim dos estoques de camisas, camisetas, gravatas, meias e cintos... Amanhã é Dia dos Pais. Deixando de lado o apelo comercial da data, a ocasião é bem especial. Por ser mulher e mãe, algumas vezes me pego considerando a paternidade como algo secundário. É que nós, mulheres, sempre temos a impressão de que gerar o filho dentro do nosso próprio corpo nos torna mais importantes, estabelece um vínculo que os homens jamais terão com suas "crias". É claro que há pais ausentes e outros, que mesmo presentes, negligenciam a relação com seus filhos. Mas há aqueles que são especialíssimos e imprimem marcas eternas na vida de todas as gerações que surgem a partir deles.
"O que as grandes e puras afeições têm de bom é que depois da felicidade de as ter sentido, resta ainda a felicidade de recordá-las."
(Alexandre Dumas)
Nesta foto de 1964 estamos eu (à esquerda; uma prova de que minha cara de Zeca Pagodinho sempre existiu), meu pai, minha irmã Elaine e meu irmão Eduardo. Acho que esta é a foto mais representativa que tenho do meu pai, porque resume tudo o que ele foi pra nós.
Dentro da sua simplicidade, meu pai foi a pessoa mais intensa que já conheci na vida. Tudo com ele se transformava em muito... Ria e todo mundo ria junto. Chorava e todos choravam também. Não havia cansaço que o impedisse de estar inteiro em tudo o que fazia. Um dia exaustivo de trabalho, incluindo as fundamentais horas extras, não o impediam de dar e receber com prazer o carinho de cinco filhos, aos quais sempre tratava sem distinção e com atenção total. Como se não fosse suficiente estar sempre atento à prole numerosa, ainda arranjava tempo pra se divertir, inclusive de maneiras bastante curiosas. Se enfiava em aldeias indígenas, saboreava carne de macaco, tatu, cobra e outros bichos inimagináveis... Não sabia nadar, mas quem segurava o homem? Piscou e lá estava ele, pescando em alto mar... Jogava xadrez e baralho, me ensinando, inclusive, truques importantíssimos pra dar uma roubadinha iludida básica nos adversários... Era doador habitual de sangue, participava com regularidade de tribunais compondo o juri, fazia peças maravilhosas de metal com seu talento de exímio ferramenteiro/torneiro mecânico. Tocava bongô!... Era, acima de tudo, solidário ao extremo. Chorava (mesmo) com a miséria alheia e dava o que tivesse de si pra melhorar a situação de quem o procurasse. Era humano, enfim.
Como pessoa especial, sua despedida também não poderia ter sido comum, é claro. Numa manhã de sábado, aos 38 anos, ele saiu pra pescar com amigos e não voltou mais. Encontrou o fim da linha na estrada. Por ter sido tão peculiar, me deixou com uma lembrança que a cada dia se torna mais engraçada: meu pai será pra sempre um cara mais novo que eu. Nem que eu me esforce consigo imaginá-lo com cabelos brancos e rugas. Meu pai não. Ele foi, é e sempre será um sujeito dinâmico, cheio de vida e eternamente jovem.
Amanhã eu não poderei lhe dar um presente. Mas tenho certeza de que pra ele não haveria presente melhor do que saber que sua passagem pela minha vida fez toda a diferença. Que por causa dele jamais me esqueci de princípios fundamentais como lealdade, amizade e solidariedade. Que com ele aprendi que quem curte a vida com a intensidade que ela merece, vive de verdade, não existe simplesmente. E que, justamente por ele ter sido uma pessoa tão especial, não houve um dia sequer (nenhunzinho, de verdade) durante os últimos 36 anos que eu não me lembrasse dele com admiração, orgulho, amor e muita saudade. Quantas são as pessoas que depois da morte continuam tão vivas? Não estou dizendo que o homem era do balacobaco? O que me conforta é a certeza de que um dia a gente vai se ver de novo.
Um grande beijo pra todos os pais!

9 comentários:

  1. Desta vez nem vou comentar nada. Seu texto está absolutamente perfeito! E a nossa sintonia também, porque estava aqui procurando uma cópia dessa foto, pensando em tudo o que você escreveu...Que mais posso dizer?

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  2. Lindaaaaaaaaaa maravilhosa sua homenagem a seu amado Pai.
    Como eu também não tenho mais meu Pai aqui, vou dizer simplesmente obrigada por ser maravilhoso assim. beijos.

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  3. Uma bela postagem!
    Ressalto apenas um equívoco, onde você diz que "amanhã não poderei lhe dar um presente". Tenho certeza de que, não apenas amanhã, mas todos os dias você o presenteia. O melhor presente que podemos dar aos nossos pais é seguirmos os seus conselhos e preceitos. Sempre ressalto para meus filhos que o presente que o vil metal compra, nem sempre é o que vai ser lembrado, mas sim a construção de um resultado de todo o nosso esforço na educação dos mesmos. Coloque todas as suas conquistas, seu crescimento, a saudade que você tem dele é envolva num lindo pacote de presente. Pense na alegria e orgulho dele ao receber isso.

    Agora, distanciando um pouco dessa temática, lembro-me de você falando que é mais velha que muita gente! Agora fechou! Não há comparações e equiparações! Uma pessoa que é mais velha do que seu pai é simplesmente Hours Concours. Imbatível! Depois não reclama!
    Au Revoir

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  4. Ah não! Se o Zeca pagodinho tivesse a sua cara, juro que eu virava traveco. Uma biba pagodeira! haheahahaheoaheua!!!!!!! Tânia, zoeira à parte, esse texto é comovente. Como falou a Eudes lá em cima, me identifico ainda mais porque também já perdi meu pai. Parabéns!

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  5. Pois é, seu pai era mesmo incomum. Inclusive no nome. Entrevisto umas 300 pessoas por mês há uns sete anos e nunca encontrei nenhum...Fica o suspense...Parabéns pelo texto!

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  6. Esse é um blog que vai de 8 a 80.
    Que tramita entre asperezas e emoções fortes e belas.

    Parabéns!
    Que o jardim das suas lembranças esteja sempre florido.

    Beijoca!

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  7. Ah, minha mana Elaine, Lola para os mais íntimos... Essa sintonia não é casual, pode ter certeza disso. E acredito muito que quem ligou nossos pensamentos dessa forma só pode ter sido o próprio. Homem danado, quer festa a todo custo!

    Eudes, obrigada por mais essa manifestação de apoio. Fico feliz por ter dito coisas com as quais você se identificou.

    Malvino, seja bem-vindo no pedaço. Tem razão, creio que não há melhor presente pros nossos pais do que saber que sempre serão nossos ídolos incondicionais. Agora, mesmo que ele estivesse aqui, eu ainda me sentiria mais velha... O homem era doidinho da silva! kkkkkkk!!!! Não dava pra competir não! E esteja certo de que o jardim das minhas lembranças estará sempre florido, faço questão de guardar só o que é bom.

    Jack, você é inominável! Biba pagodeira?! Vai se tratar, meu filho! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!

    Rose, bem lembrado! Olha, aquele nome, sinceramente, nem imagino como possa ter sido inventado. Eu também nunca vi um igual na vida! Deve ter sido resultado de muito vinho na cabecinha confusa do meu avô! kkkkkkkkkk!!!

    Adorei os comentários, obrigada a todos!

    Beijocas!

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  8. Por isto amiga , vc é uma pessoa muito especial ,realmente deve ter saido igualzinho ao pai, pode acreditar ele deve sentir um orgulho muito grande de ter vc como filha!!

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  9. Genial o texto titia!!! Ta ai um lado e uma história que nunca soube de nossa família e do meu avô! Acho impressionante como ele fazia coisas que eu mesmo adoro fazer, não como os bichos, mas mexo com eles né rss (há ainda alguém que duvide da bendita genética?!). Achei muio interessante essa perspectiva que você analisou, ele sempre será jovem rss Acho que teria adorado conhecê-lo! Vejo coisas no meu pai que encaixam perfeitamente no que você disse ai em cima, impressionante!! Até mesmo o rosto dos dois, quando na mesma idade, são muito parecidos! Um dia todos estaremos juntos não é mesmo. Só quero ver como vai ficar a italianada toda junta kkkkkkk Beijo titia!!!! Sdds!

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