quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Meu filho pode tudo!

Muita gente acha um exagero o comportamento dos personagens César (Antonio Calloni) e Ilana (Ana Beatriz Nogueira) em relação ao filho Zeca (Duda Nagle) na novela "Caminho das Índias", de Glória Perez. Pais completamente permissivos, não apenas deixam o filho inteiramente à vontade para cometer barbaridades, como ainda admiram as ações deliquentes do rapaz. O que parece caricato, no entanto, é o retrato de uma triste realidade. Pais emocionalmente despreparados para arcar com a responsabilidade de introduzir seus filhos no convívio social de forma aceitável há aos montes por aí. Eu mesma conheço alguns e fico perplexa diante de determinadas atitudes, sempre baseadas em superproteção ou na mais absoluta negligência. Na semana passada, por exemplo, Xuxa estarreceu o Brasil quando se mostrou indignada com as críticas sofridas pela filha no Twitter. Sasha, 11 anos, informou aos fãs que iria gravar uma "sena" para o filme da mãe. Diante das observações dos leitores em relação ao erro de ortografia da filha (que deveria ter escrito "cena"), Xuxa se utilizou de um argumento lamentável: "Pra quem não sabe minha filha foi alfabetizada em inglês, vou pensar muito em colocar ela pra falar com vocês, ela não merece ouvir certas m…". É claro que ninguém gosta de ver um filho ser criticado, ainda mais publicamente. Mas também é óbvio que a justificativa dela para o erro da filha foi, no mínimo, infantil, pra não dizer bem grosseira - e não contribui em nada para o progresso da menina. Primeiro porque achar natural uma criança brasileira ser alfabetizada "exclusivamente" em inglês e, portanto, ter passe livre para avacalhar com o próprio idioma, é de uma ignorância atroz. Segundo porque, como mãe e figura pública que é, Xuxa tem o dever de se posicionar de maneira mais correta, reforçando que Sasha pode cometer erros como qualquer pessoa, principalmente porque ainda é uma criança, mas que estará sempre atenta para acertar na medida do possível. Oras, não é o que todo mundo espera de seus filhos, que aprendam com os próprios erros? Pela TV recentemente acompanhei o comportamento em geral desatinado da atriz Pepita Rodrigues ao falar sobre o filho Dado Dolabella. Para ela TODAS as vezes em que o filho esteve metido em rotineiras confusões foi cruelmente injustiçado. Diz ela: "Dado é pacificador, verdadeiro. Pode prestar atenção: ele não gosta de provocar ninguém. Sempre que ele é provocado, só se defende". Caramba, o mundo inteiro se uniu pra acabar com o Dado, coitado. Por que será? Evidências comprovaram que o rapaz não tem muita noção de limite. Reconhecendo a própria folga, Dado afirmou numa declaração à imprensa: "Não sei porque implicam tanto comigo. Minha mãe me acha tão legal!". Mas o ápice da inversão de valores, na minha opinião, foi cometido pelo microempresário Ludovico Ramalho Bruno, 46 anos, que disse acreditar que o filho Rubens Arruda, 19, estava alcoolizado quando participou do espancamento da empregada doméstica Sirlei Pinto, há dois anos atrás. Indignado com a possibilidade do filho ter que conviver com criminosos na cadeia (como se o filho também não tivesse cometido um crime), afirmou: "Não será justo manter crianças (!!!) que estão na faculdade e trabalham presas. Foi uma coisa feia que eles fizeram? Foi. Mas prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos... Essas pessoas que têm estudo, têm caráter (!!!), junto com uns caras desses? Existem crimes piores". Uma afirmação hedionda como esta nem merece comentário. Mas é assim mesmo. Quando os filhos são pequenos e chutam a canela de algum desavisado, os pais acham natural, fingem que não vêem ou, em casos mirabolantes, até acham graça. Aí eles crescem mais um bocadinho e fazem o que querem, como querem... Cansei de ver mãe correndo atrás de filho com prato na mão pro tiraninho "comer pelo menos um pouquinho"... Cumprimentar as pessoas, dizer as palavrinhas mágicas (obrigado, por favor, entre outras), respeitar os outros (sobretudo os mais velhos), nem pensar. E dá-lhe mordomia, mas nenhuma educação. É colégio caro, judô, natação, roupas de marca, Internet até cansar e pronto, tudo resolvido. Dos pais absorvem exemplos como estacionar em fila dupla, largar carrinhos de supermercado no meio do caminho, não registrar a empregada doméstica... E é assim que já adultos e saudáveis, frutos de uma formação materialmente adequada, mas moralmente imperdoável, são capazes de atear fogo num índio, pensando que era "só um mendigo", ou de espancar covardemente uma moça, achando que era "só uma prostituta". Colocar um filho no mundo é uma responsabilidade pela vida toda. Educar dá trabalho, exige disponibilidade e a máxima atenção. Mostrar a um filho que ele deve respeitar limites e, sobretudo, entender que também é limitado como ser humano, é uma obrigação inquestionável e intransferível (não é incumbência da escola). Defender e proteger os próprios filhos sim, é claro, sempre. Elogios e carinho, sem dúvida, são os maiores estímulos que podemos oferecer a eles. Mas também os tornamos pessoas muito melhores quando sabemos dizer não, quando deixamos de "passar a mão na cabeça" e quando exigimos que eles entendam e assumam as consequências de seus atos. "Sábio é o pai que conhece seu próprio filho." (Willian Shakespeare)

9 comentários:

  1. Todas as pessoas buscam a liberdade a qualquer preço. Todos falam em liberdade, especialmente sua liberdade pessoal de agir e interagir em sociedade, mas quase pouco se fala na responsabilidade social e moral que deve acompanhar essa liberdade. Busca-se a liberdade como um fim último, ou seja, a liberdade pela própria liberdade. Todos querem a liberdade de viver e agir sem limites morais, cada um fazendo o que quer, quando quer, e do jeito que quer.
    A verdadeira liberdade leva o homem a ser responsável, social e moralmente, sabendo que seu direito acaba onde começa o direito do próximo.

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  2. Gostei do post.
    Mas é dose mesmo, a molecada apronta e tem sempre uma mão na cabeça, nunca vai ter noção de limites. Uma palmadinha de vez em quando não faz mal nenhum. Levei algumas quando criança e não sou nada traumatizada por isso. Aturar criança malcriada é um saco, ninguém merece. Dá vontade é de dar umas porradas nos pais tbém, isso sim.

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  3. A Xuxa piorou muito a situação da moleca Sacha. O que poderia ser só uma zuadinha virou um verdadeiro bulling virtual. Ó só um exemplo do que anda rolando por aí:
    "neologismos 2.0 sashar: cometer erros crassos de ortografia “Putz, eu tava tao bebado que sashei minha propria assinatura”
    Essa é só 1 das muitas tuitadas sobre o caso.
    O Dado...sem chance...tá perdido!
    Os pais esquecem que já foram filhos? Não param e pensam: o que foi bom prá mim e o que não foi?

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  4. Concordo totalmente. O pessoal confunde liberdade com permissividade! Criança (e adulto também!) precisa, sim, de limites e regras. Afinal, vivemos em sociedade ou não? Imagina, tudo lindinho quando é bebê... Agora, depois, vira um marmanjo que sai batendo em todo mundo, não respeita nada e dá no que dá: os índices e noticiosos sobre violência juvenil não me deixam mentir. Um dos motivos? Mães e pais que não dão conta de educar os filhos decentemente.

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  5. Mãe e pai precisam assumir sua condição de educadores e fazer o filho entender quando está sendo mal-educado, grosseiro e antiético. Em vez de aplicar castigos aleatoriamente, têm que reformular sua abordagem com condutas pautadas na coerência, na constância e na consequência para conseguir dos filhos resultados favoráveis.

    O pai que descarrega um palavão ou um tapa na orelha da criança deixa de usar o melhor de si mesmo, os infindáveis recursos do cérebro humano, para lidar com a pessoa que mais ama, o proprio filho.

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  6. Dê-me a permissão pra um comentário malvino, digo maldoso.
    A Xuxa sofreu na pele o retorno de um desvirtuamento ortográfico que ela mesma induziu por muito tempo nas crianças brasileiras. Alguém se lembra das trocas de letras pelo "X"? Me lembro que as crianças naquela época falavam e escreviam incorretamente muitas palavras.

    Claro que não devemos imputar isso à Sasha. Ela é uma vítima dos maus exemplos da mãe e da forma erronea como é conduzida a sua educação.

    Parabéns pela postagem!

    Beijim Beijim tchau thau

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  7. Tania, concordo com seu ponto de vista e em parte tbém concordo com o Malvino aí de cima. Digo em parte porque gosto muito da Xuxa. rsrsrs
    Muitos valores morais sumiram do nosso cenário, basta ver pela televisão notícias de corrupção o tempo todo, seja na política, nas empresas, na religião, por todo lado. São péssimos exemplos. Paralelamente se observa tbém que dificilmente se faz cumprir a lei e se instaurou na cultura a idéia de que ser esperto é a grande jogada, então por que seguir regras?
    Apoio essa postagem ainda mais quando vc diz que a responsabilidade da educação moral não deve ser atribuída à escola. Esse é tbém um fator importante para a ausência de limites das crianças hoje em dia. Pais ausentes por causa do trabalho sentem-se culpados e, para compensar, acabam sendo permissivos em demasia com seus filhos. No fim quem paga por isso é a sociedade, infelizmente.
    Parabéns pelo texto.

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  8. Oi Rita.
    Legal que você concorda comigo, mesmo que em parte (arghrrr) rssssss. Ela teve bons momentos ao cantar músicas de uma dupla de compositores que eu sou fã (Michael Sullivan e Paulo Massadas). Lembra-te disso??? rsss
    Abraços!
    (Agora é só esperar os comentários da dona desse pedaço aqui)

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  9. Olá pessoal!

    A participação de vocês aqui nesse pedaço sempre me deixa muito feliz.

    SARA: concordo plenamente, liberdade pressupõe responsabilidade também. Aliás, se a gente pensar bem, ninguém é livre de fato, nem se for viver isolado numa ilha. Sempre precisará depender de algo pra sobreviver.

    CRISTIANE: sem dúvida uma palmadinha, de leve, não faz mal nenhum à criança, muito embora eu ainda acredite muito no poder de se fazer respeitar sem violência. Sou do tempo em que os pais apenas lançavam aquele olhar fritante e os filhos já retomavam o rumo rapidinho. Acho que essa é a diferença da educação atual, as pessoas não estão conseguindo se fazer respeitar de fato.

    ROSE: Essa foi ótima, a Xuxa realmente está de parabéns! Graças a ela o verbo "sashar" está bombando. Bom, não é à tôa que a mulher se chama Maria da Graça, né? kkkkkkkkkkk!!!! Pois é, a velha mania de não se colocar em determinadas situações faz com que os pais negligenciem as próprias experiências da infância e errem feio com seus filhos. Total falta de bom senso, sem dúvida.

    HELENA: é isso aí, sem limites é impossível uma convivência social aceitável e pacífica. E ninguém merece ter que suportar malcriação do filho alheio.

    LILIAN: então, é como já comentei acima, não vejo nenhum problema num tapinha ou num puxãozinho de orelha, ninguém morre por isso. Mas está mais que comprovado que pancadaria e berro não resolvem nada, muito pelo contrário. Isso só cria indivíduos desajustados.

    MALVINO: me permita discordar só um pouquinho do seu ponto de vista. Como já comentei aqui em outra ocasião, não acredito que a mídia influencie tanto as pessoas como parece. Há diversos outros casos de maus exemplos na TV, aliás, é o que mais se vê hoje em dia. O Didi fala errado, Vovó Mafalda falava também, há atrocidades escritas em legendas e palavrão correndo solto, sem contar com comportamentos absurdamente condenáveis na minha opinião, do tipo "mulher melancia" e "bad boy"... Por isso é que insisto que a base familiar é o que vai determinar o rumo que essas crianças seguirão depois. No caso da Xuxa, especificamente, mais do que ela ter perpetuado o ridículo "xuxês", o problema é não ter amadurecido o suficiente pra ajudar a filha a começar encarar a realidade, que nem sempre é cor de rosa como ela gostaria, como de certa forma é o que você diz no final do seu comentário.

    RITA: Bem, da mesma forma também discordo em parte do seu comentário, quando fala sobre maus exemplos. Eles sempre existirão e cabe aos pais ter o discernimento necessário pra driblar isso. Sem dúvida você tem toda razão quando diz que a ausência dos pais compromete bastante a educação dos filhos. Muito embora eu também acredite que não é a quantidade de tempo que determina a solidez da educação. Acho que a qualidade da convivência é que faz a diferença de verdade.

    Um grande beijo a todos!

    Ah, quase me esqueci: Michael Sullivan e Paulo Massadas? Só se for do tempo da Rita, porque do meu não é não! kkkkkkkkk!!!!

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