sexta-feira, 22 de julho de 2011

Coisas que a Internet estraga

É indiscutível o enorme benefício que a Internet trouxe para a humanidade. Há um montão de coisas que nem me imagino fazendo agora sem o auxílio da rede, como procurar um telefone, por exemplo; tenho a impressão de que as listas telefônicas foram extintas. Não saio de casa antes de conferir um endereço no Google Maps, inclusive acessando o Street View para saber se há estacionamento por perto, ver as características da rua, enfim, me achar por completo. Cotações de preços, contatos, trabalhos, pesquisas... Tudo é objetivo, prático, rápido mesmo.

Talvez sejam exatamente essas características vantajosas que me levam a pensar num outro tanto de coisas que a Internet, de certa forma, estraga. Através dos sites de relacionamentos reencontrei pessoas com as quais não tinha contato já há muitos anos. Caramba, quando você acha (ou é achado) por alguém que foi importante na sua história é uma delícia! O problema é que a virtualidade nem de longe sacia a saudade. Não tem abraço, beijo, nenhum calor humano. Palavras escritas limitadamente e rapidinho mascaram intenções, escondem o entusiasmo e acabam transformando relacionamentos que um dia foram tão intensos em algo trivial, sem grande importância. Perde-se aquela sintonia legal que um dia houve entre as pessoas.

Se por um lado a Internet promove encontros e reencontros virtuais, também contribui bastante para que as pessoas jamais se vejam novamente de fato. Com a facilidade de se comunicar a qualquer instante, além da correria do dia a dia, não há grande empenho para se promover encontros reais. Ligamos e desligamos pessoas das nossas vidas com um simples clique.

A materialidade de certas coisas é bem importante para mim. Nada me tira o prazer de manusear um livro, jornal ou revista. Acho uma delícia ter nas minhas mãos fotografias antigas, lembranças concretas das coisas que já ouvi ou vivi. Fico preocupada com esse negócio de câmera fotográfica digital, sabe? Vejo tanta gente fotografando de tudo por aí e descartando as imagens depois por pura preguiça de imprimir ou armazená-las em algum lugar. São muitos momentos que se perdem definitivamente. Isso sem contar com recursos que permitem todo tipo de mudança nas cenas, o que leva à inevitável dúvida sobre a autenticidade do que se vê. Sei lá, não gosto disso.

Sempre pensei desse modo, mas ontem tive a certeza absoluta de que, para mim, há coisas que a virtualidade jamais vai substituir. Dos bens deixados por minha avó, eu quis apenas um, que sabia existir, mas ainda não tinha visto: uma cartinha do meu avô para ela, quando ambos ainda eram namorados, escrita em 1930, numa ocasião em que o relacionamento ficou abalado com uma viagem dela. Ok, me utilizo da Internet para registrar, mas não há absolutamente nada nesse mundo que tire de mim o prazer de ter em mãos essa preciosidade:


Transcrição da cartinha:

"Pensamento longe de ti:

À bondosa Conceição,

Longe de ti sofro imensamente, se soubesse como era feliz quando ao teu lado, ouvindo os teus delicados lábios murmurarem confortáveis e amorosas palavras, e sorrir-me meigamente, parecia-me ler nos teus lindos e sedutores olhos a sinceridade do teu coração. Sinto-me estar longe, bem longe; vejo-me no país das fadas, no reino do cupido e de meu quarto a chorar de saudades.

Só tenho medo que seja breve a minha felicidade e de que, ao mesmo tempo, desapareça um dia. Porque este mundo é efêmero e tudo tem um fim, assim como as flores, a mocidade, tudo se desfaz em poeira e me resta apenas esta saudade.

Embora não me ame, recorda-te deste que tanto te ama.

Victório Meneghelli
14/05/1930"

Agora, pense francamente: um e-mail poderia substituir a doçura dessas palavras, escritas de próprio punho, com tamanha dedicação e eternizadas nesse pedaço de papel?

16 comentários:

  1. Você foi perfeita na descrição. Penso igualzinho. Infelizmente não existe mais bom senso. As pessoas perderam o interesse da aproxição. Acomodaram-se por detrás de um aparelhinho; ou de uma telinha que leva a uma viagem ao mundo virtual. Tema muito bem abordado. A carta é linda e comovente. Isso nos faz refletir do quanto somos idiotas em evitar o contato físico. Não há nada que substitua a sensação de um toque. Sejam mil palavras escritas no msn ou orkut, ou até faladas no celular, tudo em tom de desculpas pelo não comparecimento pessoal. Abçs

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  2. muito legal ... tb tenho coisas de minha mãe e de meu pai q datam dos anos 40 ... super fofo ...

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  3. Em seu primeiro parágrafo já posso defini-la como NERD.
    O uso excessivo de comodidade pode trazer alguns malefícios, cuidado ! =)
    Ah, não conseguiu um pensamento exato e real do que disse? Olhe para baixo, a barriguinha crescente [enorme] é culpa do computador.

    Agora ao SEGUNDO comentário sério [sim o primeiro foi sério]:

    A internet realizou mudanças drásticas no cotidiano, antes fosse só isso, mas o comportamento também foi alterado. Tá, filosofando um pouco enquanto eu acredito que a mudança no comportamento deu-se da seguinte forma, as pessoas já desejavam a banalidade, trivialidade, afastamento e falta de contato, ela, a internet foi apenas uma ferramenta que possibilitou isso.

    Ainda que a possibilidade de contato com pessoas do passado distante, ou de novas opções com interesses similares exista, o passo importante é dado com contato físico. Hoje muita gente tem medo da aproximação, temos uma nova classe de tímidos/neuróticos que criaram uma segunda vida. Não é o meu caso, eu tenho 7 porque sou gato.

    Até recordo que por várias vezes tive problemas de comunicação por que escrever não tem TOM de voz, assim fica a critério do receptor julgar o que foi lido. O que poderia ter sido facilmente evitado com CONTATO e PRESENÇA.

    Seu pensamento sobre a materialidade, é correto. Quando tive minha primeira máquina digital, fotografeio o mundo e guardei momentos maravilhosos, minha condição não permitia revelar tantos filmes/fotos então aquela foi a solução até que... Pico de Luz... PC F*d**o.
    Nesse ponto, ter algo mais concréto, palpável [PEGÁVEL] é realmente um certificado de manter a história.

    Achei interessante a carta, a ultima que enviei foi pra "fulana de tal", um dos fantasmas que o seu post acabou de rescucitar, ressussitar, reÇussitar... [Wah! Viu como me abala].

    Obs.: Achei a letra linda, e o conteúdo romântico, porém não consegui compreender tudo. Explica?

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  4. Ai...ainda bem que também tenho cartinhas! Cartinhas recebidas e as minhas cartinhas enviadas para o meu super namorado. Não faz tanto tempo assim,parece que foi ontem,apenas há 30 anos!Vamos torcer para que mesmo com a Internet,as emoções e os sentimentos não tenham sido alterados,porque afinal, essas palavras gravadas em um pedaço de papel,despertam o sentimento da paixão...sensação tão agradável para o coração.

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  5. Quem diria hein!!!!!Aquele"vô"todo machão...(lindinho né??)Ainda bem que está registrado de próprio punho!!!!Bjs

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  6. Qualquer semelhança será mera coincidência?

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  7. Oi, Tania, tudo bem? A Internet é um imenso, gigantesco software que roda em milhões de computadores mundo afora. Daí a facilidade com que ela nos lista dados e informações que nossa mente não armazenaria. O problema é fazer esse software substituir as relações pessoais.

    Hoje as pessoas não se relacionam, elas digitam comandos e aguardam o retorno... Ou seja: o próprio meio condiciona um comportamento padronizado, repetitivo, impessoal...

    Não creio que essa situação vá durar para sempre, pois hoje tudo é muito efêmero e os modismos mudam de uma hora para outra. Portanto guarde suas cartinhas com carinho.

    Abraço.

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  8. Há uns dias ia postar algo sobre isso e acabou não acontecendo. O disparador foi uma frase de Rubem Alves: "Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel."

    Isso não é possível de outras formas. E faz uma falta danada.
    bjos

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  9. Oi Tania!! Há quanto tempo! kkk Tudo bem?
    Pois é Tânia, uma das coisas que gosto em você são as suas abordagens em temas comuns e que raramente alguém discute. É legal levantar essas questões. Parabéns pela sensibilidade!!!
    O que percebo, nos dias de hoje, está num detalhe que o seu avô comentou na carta: "este mundo é efêmero e tudo tem um fim" Acho que isso rege os dias de hoje com tal intensidade que as pessoas (me vejo entre elas) ficam um tanto atordoadas em buscar, buscar, buscar (o trabalho, o conforto, as inseguranças fisicas e emocionais, etc). Nas artes, na tecnologia, no conhecimento, vemos as coisas passando numa velocidade impressionante. O que a internet traz, na relação com as pessoas é a possibilidade da proximidade muito maior do que tempos atrás, uma vez que não é mais necessário pegar um papel, uma caneta, escrever, dobrar a(s) folha(s), envelopar, ir até o correio, postar e ficar esperando a resposta, dentro de um processo que leva, no minimo, 15 dias (isso, recebendo a carta, lendo e fazendo o mesmo processo imediatamente)
    Mas nos dias de hoje, quanta coisa pode acontecer em 15 dias!!!! E quantos de nós segue por esse processo todo? Ninguém!!!! O que acho, realmente, é que o mundo está veloz demais!!! E, de tanta velocidade, poucos a acompanham,e, em não acompanhando, ficam à margem da vida, e ficando à margem da vida, a distância das pessoas aumenta. Será que é isso?
    Beijos

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  10. Que texto mais lindo Tia Tania!!! Fiquei de cara! É impressionante como as pessoas perderam o calor humano mesmo! Eu mesmo sou fiel guardiao do bom e velho relacionamento interpessoal verdadeiro!! Zelo muito mais por uma conversa pessoal de 5 minutos ao invez de um texto de meia hora. Vou tentar voltar a mexer no meu blog assim que possivel. Ah... estou escrevendo um livro. Depois dou mais detalhes. Abra;os e sds!!!

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  11. Olá, pessoal!

    BATE POEIRA: pois é, essa falta de contato real é uma desgraça. Acho que as pessoas acabam perdendo um tempo preciosíssimo das suas vidas alimentando relações que nunca darão em nada e, muitas vezes, acabam sem nunca terem acontecido de verdade. Nada substitui o olho no olho, o toque, enfim, a utilização mais plena dos nossos sentidos.

    PAULO: não é uma delícia poder ter essas coisas fofíssimas em mãos? E ainda mais legal é constatar, através dessas coisas, o amor tão intenso do qual a gente mesmo nasceu, né?

    RODRIGO: ué, eu NERD? Essa é boa! kkkk! Ei, alto lá! A barriguinha está em dia aqui, tá legal? Bem, quanto ao comportamento alterado em função da Internet, acho muito normal. E vou além, acreditando que os atuais métodos pedagógicos e cognitivos tenham que acompanhar isso direitinho. Você tem toda razão: estamos diante de uma geração de tímidos em potencial, que pouco saberão se virar em relação ao contato real. Uma pena...

    SIMONE: ah, eu também guardo meus escritinhos bem guardados! Japa também é romântico, né? Se bem que o meu não é muito criativo, em geral já sei o conteúdo do texto antes de abrir o envelope. Putz, que chata, né? kkkkkk! Quanto ao vô, esse também me surpreendeu e muito! Nunca imaginei que tivesse essa veia poética não. Foi uma bela surpresa, fiquei feliz com isso. E pensar que se estamos aqui hoje é porque o papinho do homem colou... Dona Conceição casou! kkkkkk!

    ANÔNIMO: então... Sei lá! Que tal dar uma dica? Qual parte da postagem te leva a acreditar em semelhança?

    CLAUDIO: concordo! Penso (e espero) que seja apenas um frenesi, loucura pela novidade. O dinamismo da rede alucina algumas cabecinhas. Torço para que todos percebam que essa é apenas mais uma ferramenta e não a causa da comunicação. E que um dia aprendam a usá-la com a desejável moderação, lembrando do quanto o contato real é muito mais gostoso.

    TAIS: nossa, perfeita (e belíssima) a frase de Rubem Alves! Isso me fez lembrar, inclusive, do filme "Nunca te vi, sempre te amei", onde as cartas trocadas pelos protagonistas os aproximava cada vez mais. Lindo isso!

    PAULO: puxa, bota tempo nisso! Quem mandou você se ausentar assim? Não sabe que faz a maior falta e que sentimos saudade? Verdade, seu ponto de vista está correto, na minha opinião. Na ânsia de acompanhar a velocidade dos fatos, a gente acaba se distanciando cada vez mais dos objetivos. Tudo fica muito superficial e, no fim, nada acontece de fato. A gente precisa estar muito atento, porque o tempo passa e passa rapidinho... De repente, não dá mais pra recuperar o que foi perdido, né?

    Beijocas pra todos! Vocês são ótimos!

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  12. Ops, faltou o Dieguinho, meu afilhado!

    Que legal te ver aqui, Diego! Deixa a titia toda toda!...

    É isso aí, muitas vezes cinco minutinhos de um papo olho no olho é bem melhor do que horas a fio atrás de uma telinha. Está certíssimo!

    Siga o exemplo de seu bisavô. Viu como um lero-lero bem feitinho agrada? A bisa Conceição se derreteu! kkkkkkk!!!!

    Ah, espero ansiosa por sua volta ao blog. Avise quando recomeçar, tá? Sobrinho blogueiro, orgulho da titia!

    Montão de beijocas!

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  13. Confesso que me falta esse romantismo e esse apego a coisas materiais.

    Mas prefiro ler livros e revistas em punho, porque ler demais no PC me dói os olhos XD

    Beijo Tânia!

    Depois de mando um pedaço da torta por sedex hahaha

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  14. Lobinho,

    Ler as coisas no computador também me dá atordoamento, sabe? Muito ruim!

    E continuo babando por causa da torta... Que rééééiva! kkkkk!

    Montão de beijocas!

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  15. Aliás, Tânia, guarde essa carta com muito carinho. Que caligrafia!

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  16. Pode ser um estrago em relacionamentos. Hoje entraram 32 mulheres desconhecidas na conta do meu namorado. E eu sai da vida dele por não querer competir com o virtual.

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