quarta-feira, 23 de julho de 2008

Afeto com prazo de validade

Antes de começar a postagem de hoje, me antecipo em pedir desculpas pela falta de elegância no parágrafo a seguir. É que o tema me obriga a deixar o "rapapé" pra lá. Deixo claro também que esse post não tem endereço certo. No entanto, se a carapuça for do seu número, vista e faça bom proveito. Procure com isso reavaliar suas ações e tornar-se mais digno da consideração e do afeto que lhes foram dispensados inutilmente.

Não existe ditado mais otimista do que esse: "Até um pé na bunda te faz andar em frente". Dureza é se inserir nesse contexto entrando com a bunda. Alívio é saber que mesmo com a bunda (e a alma) dolorida, quem vai pra frente é você. Quem deu o pé, certamente vai ficar paradinho, sempre no mesmo lugar, só observando.

Minha acidez se explica: ultimamente tenho visto com freqüência estarrecedora muita gente decepcionada com relacionamentos de toda espécie. A mágoa, em geral, chega via Internet e deve-se ao sumiço repentino de supostos namorados ou amigos, bloqueios, exclusões, rejeições veladas...

A gente não se dá conta, mas a Internet inaugurou um sentido mais amplo para a vida e, por isso mesmo, mais complexo. Hoje vivemos o que é chamado de simultaneidade dinâmica no seu aspecto mais real. Só que pra entender esse processo e usufruir bem dele é necessário ter a mente aberta e estar convicto de que a vida virtual acontece no paralelo, mas em algumas ocasiões se conecta à vida real. Daí que sexo, namoro, amizade ou qualquer outra espécie de interação na virtualidade tem a mesma intensidade e gera iguais possibilidades que na vida real. E daí também é que o sofrimento com uma perda é verdadeiro, dói intensamente e deixa marcas, senão eternas, pelo menos durante um bom tempo.

A triste conseqüência disso é o surgimento de um ceticismo tamanho, que diante de novas possibilidades você já enxerga o pacote completo: brigas, desconfiança, ciúme, dificuldades de conciliar o relacionamento com a vida cotidiana, alterações de humor, dependência emocional e por aí afora. Um recolhimento começa a ser vislumbrado com prazer, afinal a vida é tão mais tranqüila sem tudo isso!

O mais engraçado é que todas as histórias que tenho ouvido são compostas pelos mesmos ingredientes. No início a empolgação não impõe limites pra nada. A disponibilidade do outro é total. Troca de olhares apaixonados, mil mensagens, telefonemas, encontros e promessas de um final feliz (que aliás nem passou pela sua cabeça e você recebe até com uma certa estranheza): casamento, filhos, casinha no campo e um monte de labradores... Depois de pouquíssimas noites de sono, a mudança é radical. O tempo torna-se escasso, milhões de impedimentos começam a surgir, a comunicação vai ficando rara. Isso, é óbvio, quando você está sendo cozido em fogo brando. Há casos, porém, em que a interrupção é brusca e o sumiço total acontece do nada.

O fato inequívoco, no entanto, é uma constatação cruel: em qualquer caso, o prazo de validade venceu. Nem tente entender porque. O problema necessariamente não é você. Isso fatalmente acontece porque o encantamento proporcionado pela conquista consumada simplesmente acabou. E não adianta tentar me convencer do contrário, porque quem se importa com a outra pessoa age com honestidade e correção, chova ou faça sol.

Se você parar por um instante e refletir bem, vai perceber que convenientemente desconsiderou sinais que indicavam a falta de futuro na relação e permitiu que o desgaste se instalasse à sua revelia. Isso, no entanto, jamais justifica a postura covarde de quem não assume o desinteresse. É tão mais simples dizer a verdade, afinal, ninguém é obrigado a conviver com quem não quer e de maneira que não lhe agrada. Pior ainda é quando esse comportamento lamentável parte de homens ou mulheres supostamente maduros, dos quais se espera naturalmente uma habilidade mínima em lidar com questões delicadas.

De fato, como Jean-Paul Sartre sabiamente predisse, o inferno são os outros. Quem sabe a fórmula de se relacionar de acordo com o que dá na veneta, conforme determinadas pessoas fazem, não seja a ideal? Seria interessante viver uma vida onde ninguém, absolutamente ninguém, poderia se relacionar comigo quando eu não quisesse. Seria impossível alguém infernizar minha vida, a não ser que lhe entregasse uma senha e, mais importante, pudesse desligá-lo da tela quando bem entendesse. É, seria legal... Mas não seria humano.

Diante disso, acredito que há apenas dois caminhos a serem seguidos, ambos, porém, igualmente sofridos:

. Continuar investindo na relação, que dependendo do esforço empregado por você, pode até ser restabelecida. Só que fatalmente não será mais a mesma em função da mágoa anteriormente vivida e você ficará na eterna e inevitável perspectiva de voltar a passar pela mesma decepção a qualquer instante. Em resumo, muito prazer (será?) e nenhum sossego (com certeza!);

. Contrariar temporariamente seus desejos e encerrar essa etapa, pensando em novas possibilidades, se relacionando com outras pessoas, levando a vida em frente. Vai doer, sem dúvida. Ninguém em sã consciência opta tranqüilamente por encerrar aquilo que ilusoriamente considerava tão bom. Mas o que faz a gente sofrer tanto, ainda que seja por um segundo, não é bom de verdade. No caso de optar por esquecer, uma coisa é líquida e certa: o sofrimento é grande, mas um dia passa.

Mas é claro que o mundo não é totalmente cinza. Há que se considerar que muitos relacionamentos, tanto reais quanto virtuais permanecem, porque há inúmeras afinidades e existe um bem-querer verdadeiro. Assim, mesmo com eventuais sumiços, podem ser reatados e até mesmo vividos mais satisfatoriamente depois de uma experiência amarga.

O importante, sempre, é dar tempo ao tempo e se ocupar de coisas que lhe proporcionem prazer. Ficar dia e noite remoendo uma tristeza não ajuda em nada, o mundo vai continuar girando do mesmo jeitinho, nada vai mudar por causa disso. Seja qual for o desfecho, o fundamental é buscar incansavelmente ser feliz, sempre!

5 comentários:

  1. Hahaha! O ditado "Até um pé na bunda te faz andar em frente" é ótimo. Isso é verdade, depois de passar pelo dissabor de uma perda, não há como não crescer com a experiência. De qualquer acontecimento a gente pode tirar lições que ajudam a viver melhor. Basta estar aberto para o aprendizado e não perder tempo se lamentando. Bj!

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  2. Tânia, que texto lúcido para um tema tão delicado. Quero deixar meu comentário na esperança de contribuir para melhorar o estado de ânimo daqueles que passam por isso:

    Quando você está num relacionamento em que a outra pessoa não quer, ou não pode corresponder aquilo que deseja, você passa a ter a responsabilidade de tomar uma atitude. Cabe a você decidir o que é bom para você e tomar as rédeas da sua vida nas suas mãos.

    Nós não podemos impedir as pessoas de terem suas experiências. Mas ninguém é obrigado a permanecer numa situação que não está funcionando para si. Por isso, às vezes, o melhor que temos a fazer numa situação é sair dela.

    Observe como pode mudar suas emoções e estados de espírito mudando seus pensamentos. Procure manter o foco no que deseja para a sua vida em vez de concentrar a mente naquilo que não deseja para si.

    Aceite as coisas exatamente como elas se passaram e confie que o universo é perfeito. Resistir só faz aumentar aquilo que não deseja em sua vida. Mas se confiar na vida, perceberá que ela sempre nos devolve aquilo em que acreditamos sobre nós mesmos.

    Um grande abraço!

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  3. Não se deve esquecer que a gente só perde aquilo que já era nosso. É impossível perder o que nunca se teve. Se o envolvimento acontece na mesma medida para ambas as partes, mesmo com obstáculos, sobrevive.

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  4. (É, a carapuça serviu perfeitamente, HAHA!)

    Pois é tia, eu concordo em tudo!
    Eu não tenho muito o que dizer a respeito, afinal, já conversamos sobre o assunto e você sabe mais ou menos a minha linha de pensamento sobre isso, né!?

    Mas eu acho que as pessoas estão se tornando muito frias, insensíveis, e anti-éticas. Tendo como intuito conquistar o que querem a qualquer custo, sem pensar no sentimento alheio, sem preocupar com o próximo, um egoísto absoluto, unido com mentira e falsidade!

    É como dizem "decepção não mata, mas ensina a viver", ensina mesmo, tô aprendendo, depois de tanta decepção, eu tô mais fechada, mais atenta, mais desconfiada (já que confiar não tem sido produtivo) e esse sorriso aqui não sai mais antes de um certo tempo de convivência, que dá um pouco de segurança, fazendo com que eu queira tentar conhecer alguém novo, me relacionar novamente!

    Beijão tia ;*

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  5. Que mais posso dizer? Você já escreveu tudo e com tanta clareza, tanta presença de espírito...Só vou fazer um breve comentariozinho quanto aos relacionamentos: Muitos homens se fazem passar por belos e galantes príncipes encantados...Quanta ilusão! Tudo o que a gente quer, na verdade, é o bom, gosmento, engraçado e verdadeiro sapo!kkk Se eles entendessem isso!!!

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