sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sem tecnologia não dá!

Uma pane no serviço de transmissão de dados e acesso à Internet da Telefonica paralisou o estado de São Paulo nesta quinta-feira. Foram afetados os sistemas de grandes empresas, bancos, a maioria dos órgãos públicos e assinantes do Speedy.

Quase 24 horas sem Internet me transformaram praticamente numa eremita. De repente me senti como se estivesse numa ilha deserta, desabitada, esquecida. Nas primeiras horas, achei até um alívio. Finalmente colocaria em dia coisas que sempre ficam pra depois.

"Tudo seu lado bom e ruim. Não seria diferente em relação à tecnologia. Ao mesmo tempo em que ela facilita nossas vidas, nos torna escravos também. Mas não tem jeito, não dá pra fugir dela."

Embora tenha uma certa aversão pela cozinha, resolvi fazer um bolo. Ah, nada como um bolo bem quentinho nesse frio! Bolo de que? Queria de fubá, bem cremosinho. Cadê a receita? Está na Internet. Ok, desisto então. Não seria mesmo um passatempo divertido. Geralmente quando me atrevo a executar grandes performances culinárias me arrependo antes de chegar na metade do preparo.

Me ocorreu que uma ótima idéia seria ligar para um amigo, imaginei que assim como eu, ele também estivesse com tempo de sobra pra uma conversa. Animadamente pego o telefone, quando percebo que não anotei o número dele na agenda. Onde poderia encontrar? Num e-mail. Portanto, sem Internet, nada de papinho.

Que raiva! O tempo foi passando e a agonia aumentando. Será que nada mais funciona sem o uso da porcaria do computador?

Me dei conta que tudo seu lado bom e ruim. Não seria diferente em relação à tecnologia. Ao mesmo tempo em que ela facilita nossas vidas, nos torna escravos também. Mas não tem jeito, não dá pra fugir dela.

Até a vida doméstica se transformou com os avanços tecnológicos. Alguns refrigeradores, por exemplo, têm TVs acopladas, assim como acesso direto à Internet. Há multiprocessadores com função de liquidificador, batedeira e triturador de alimentos, tudo num único aparelho. No Japão é comum encontrar aspiradores de pó robôs que retiram a sujeira de determinado local, desviando de barreiras e dispensando o uso de sacos descartáveis. Minha máquina de lavar, além de oferecer diversos programas de lavagem, tem sensor para identificar a quantidade de água e processo de lavagem de acordo com a quantidade, tipo de tecido e sujeira da roupa. Mas ainda acho pouco... A danada não poderia bem pendurar, passar e guardar a roupa também?

A telefonia celular, então, é um capítulo à parte. Idéias geniais agregam aos aparelhos funções cada vez mais inusitadas. No Japão foi lançado um aparelho que repele mosquitos e pernilongos: os clientes baixam um arquivo sonoro com ondas inaudíveis ao ouvido humano para manter os insetos indesejáveis distantes num raio de um metro. O som é acionado ao simples toque de uma tecla. Nos Emirados Árabes uma companhia de telefonia móvel oferece um serviço que avisa a hora das orações diárias aos muçulmanos. O alerta funciona até mesmo se o usuário estiver em outro país. Haja!

Não são poucas as vezes em que me pego pensando sobre o que meu pai, um curioso e inovador contumaz, diria se visse tudo isso hoje. Ele nos deixou em 1972 e não chegou nem a ver a TV colorida. Se voltasse de repente, como iria entender que os telefones, cada vez mais minúsculos, sequer precisam de fios? E que você cozinha no microondas em recipientes de vidro ou plástico? Que há controle remoto pra todo tipo de aparelhos? Que você conversa com alguém e vê sua imagem on-line, estando a pessoa em qualquer lugar do planeta? Acho que o homem entraria em parafuso! Ou ficaria absurdamente encantado.

A verdade é que até podemos viver sem tecnologia, especialmente sem o computador. Mas sem isso somos excluídos de uma sociedade digital que se constitui e se consolida a cada dia, passando a ser, na grande maioria dos casos, uma necessidade e não um luxo. Um novo estilo de vida surgiu e isso exige comportamentos compatíveis.

Quem busca informações dinâmicas certamente é uma pessoa diferente daquela que não tem acesso a isso. Usada com equlíbrio e bom senso, a informática é atualmente a mais importante fonte de informação e desenvolvimento cognitivo. Quem não dispõe disso está em desvantagem ou, no mínimo, vive num regime de possibilidades muito limitadas.

4 comentários:

  1. Tânia.

    Que senso de oportunidade você tem!
    Alguns milhões de pessoas tiveram ontem, talvez pela primeira vez, a desagradável percepção da sua dependência da tecnologia. Impressiona como estamos nos cercando de bens e objetos tecnológicos, que nos levam a patamares de dependência crescentes e nos escravizam como eternos consumidores.
    A dependência que criamos da tecnologia já é tão grande que sua falta torna-se incômoda ou até mesmo insuportável. Não são poucos os que começam a se sentir desconfortáveis por estarem cercados de máquinas e tecnologias que invadem sua privacidade, além de alterarem sua percepção do espaço, do tempo e das pessoas mais próximas.
    Em 1957, quando ainda não existiam a televisão, as câmaras de vigilância, os portões automáticos, os sistemas de segurança, e, principalmente, sem computadores e sem internet, Isaac Asimov escreveu um conto (A sensação de poder, da obra Sonhos de Robô) onde antevia um mundo tão dependente dos computadores que as pessoas perderiam a habilidade de fazer cálculos simples, usando aritmética básica. A descoberta de um homem, que com um lápis e uma folha de papel era capaz de multiplicar números, coloca em risco a ordem estabelecida.
    A leitura dessas 10 páginas de Asimov é um banho de ar fresco em nossas mentes enferrujadas pelo comodismo tecnológico. A frase final do conto (Nove vezes sete, pensou Shuman com orgulho, sessenta e três. Não precisava mais que um computador lhe dissesse isso. Sua própria cabeça era um computador. E isso lhe dava uma fantástica sensação de poder.) nos leva a pensar sobre as sensações e o prazer que podemos desfrutar nas coisas mais simples e que estamos perdendo todos os dias com a invasão tecnológica.
    Obrigado por nos brindar com sua sensibilidade e nos levar a pensar em coisas tão importantes.
    Um abraço.

    Reinaldo

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  2. É mesmo impossível viver sem internet e outras facilidades nos dias de hoje. A vida já é muito corrida, trânsito ruim, gente para todo lado, vários fatores implicam na necessidade de soluções rápidas no cotidiano, seja em casa ou no trabalho. Bj!

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  3. Tania, soube do seu blog pelo Orkut de uma amiga, a Miriam. Adorei os textos e suas idéias. Nessa postagem ri muito com a tirinha, bem escolhida. Parabéns, você escreve muito bem. Um abraço!

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  4. Realmente tia, sem tecnologia não dá! A cada dia estamos mais dependentes da tecnologia, principalmente da Internet, e é por isso que vivem aprimorando os aparelhos e os métodos de usar. A internet é muito usada por mim, tanto pra manter contato com familiares e amigos, quanto pra psquisas, sem contar que, é super prático e fácil né!

    Beijão tia ;*

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