sexta-feira, 24 de junho de 2011

Eu e o fogão: inimigos mortais



Se tem uma coisa que está ficando linda na nossa nova casa é a cozinha. Não é grande, nem tão pequena, e ficou modernosa, bem equipadinha. 

Aí o japa, outro dia, incomodado com meus cuidados extremos na decoração desse espaço, tripudiou:

- Não sei pra que tanta preocupação, você não cozinha mesmo!

Hum, me ferveu o sangue!... Calúnia! Injúria! Difamação!!! Uma vez por semana tô lá, firme (não?) e forte (não também?...) na beirada do fogão. E quem vê o rapaz há de concordar comigo: aquela barriguinha coberta por camisa no melhor estilo "o defunto era menor" comprova que ele está a anos-luz da inanição.

Mas quer saber de uma coisa? É isso aí mesmo, ODEIO COZINHAR!!! 

Às vezes até me empolgo e começo bem, mas antes mesmo de chegar à metade do preparado já me sinto bem arrependida. Começa pelos odores. Caramba, alho e cebola impregnam até na aura do meu ser! Gordura, então... Fico mais besuntada do que mulata de escola de samba (opa, nada de achar que tô dizendo que mulata de escola de samba é gordurenta, tá? É só por causa daquele óleo que usa pra ficar brilhosa e munita). 

Coisa horrível de fazer é saladinha de folhas, especialmente de agrião e rúcula. Meu Deus do céu, o que que é aquilo? Talo, talo e mais talo. Você lava um saco de 50 kg pra sobrar meia dúzia de folhinhas tenras na saladeira. Por isso é que sou a maior adepta da "feira limpa" (se bem que não confio muito nas verduras que já vêm lavadas e embaladas).  

E massa (de sovar), então? A gente enfia as mãos na molengueira toda e aquilo gruda num tanto, que a situação fica irremediável. Não dá pra pegar o saco de farinha, impossível abrir a torneira e limpar a porcalhada, a pessoa perde o rumo!... Tsc. Inviável. Muito inviável. 

Assado é sinônimo de escravidão. Você bota a coisa no forno e não pode nem piscar mais. Encontrar o ponto exato é problema de física quântica, tamanha a complexidade da ação. Diante dos seus olhos a coisa desanda, é um absurdo. Passa o maior tempão e o treco continua cru. Mas experimente virar as costas por um segundo e veja o que acontece. Não é possível, na minha cozinha tem um saci-pererê que se arrebenta de rir dos meus desastres culinários, só pode!

Isso tudo sem contar a trabalheira que dá deixar tudo em ordem, antes (sou daquelas que só cozinham se houver uma separação prévia de ingredientes), durante (também sou daquelas que vão lavando toda a louça enquanto cozinham) e depois (não suporto cozinha bagunçada).

E sabe o que é realmente muito estranho? É que mesmo fazendo com tanta má vontade, minha comida, por incrível que pareça, é boa. Faço um feijão sensacional, modéstia à parte. 

Não me orgulho de ser assim não. Penso que comida é algo que exige carinho e dedicação no preparo, afinal, essa é uma energia que a gente manda pra dentro, né? Isso me lembrou, inclusive, de um filme mexicano que adoro, "Como Água para Chocolate", onde a protagonista Tita transfere para os alimentos que prepara - e consequentemente para quem os come - todas as suas emoções. Filme lindíssimo, vale a pena ver. 

Mas o que se há de fazer? Como diz minha amiga Rose, do topo de sua sabedoria tibetana, "a pessoa é para o que nasce" (título de outro filme, brasileiro, bem bacana também). E definitivamente não nasci para ser sequer uma simples cozinheira, quanto menos uma chef lapidada no Le Cordon Bleu de Parri. Ulalaaaa!

Ilustração: Tiago Hoisel (espetacular!)


10 comentários:

  1. rssrsr

    Minha mãe também nunca foi "du fogão" e não tínhamos empregada. E eu sobrevivi.

    Penso como você: há vezes que é melhor não forçar a natureza!

    Bjs!

    ResponderExcluir
  2. Sou exatamente o contrário. Faço , e faço bem. Com maestria, pergunte a marida rsrsrsrs
    Bjux

    ResponderExcluir
  3. MENTIRA! Aposto que escreveu num daqueles dias de fazer o trivial por obrigação. Daí o drama queen todo...Já comi sua comida feita com vontade.Aquele inesquecível macarrão cheio de tranqueira deliciosa.Gente, vai bem uns 20 ingredientes naquele treco. WOW! E outra, tem a herança da finada Marlene! Você aprendeu que comida é cafuné, nêga! Então explica direito: "Odeio cozinhar todo dia, por obrigação e as mesmas coisas".

    ResponderExcluir
  4. Concordo com a Rose. Puro charme!kkk E tem a dona Marlene, quituteira de mão cheia, a vó Conceição (cozinheira do tempo em que a galinha chegava viva pra ser preparada)! Como negar uma herança dessas? Tá no sangue,fia!

    ResponderExcluir
  5. Vc escreve bem bagarai. Fico.

    ResponderExcluir
  6. Me vi nas suas palavras. Ri, li alto pro meu marido e filhos ouvirem.E até no fato de que a minha comida é boa, nos identificamos. Tem gente que fala que quem cozinha por gosto, cozinha bem, mas eu acho que não é bem assim. Se a pessoa reune o útil ao agradável sorte dela (e de quem come a comida dela), mas tem gente que adora e cozinha mal. Eu tinha uma empregada assim....sou mais da frase que li que se pode cozinhar por amor. Com essa me identifico, pois faço por amor ao meu estômago,rs e pela minha família (3 homens) que adoro!

    ResponderExcluir
  7. kkkk mas a explicação pra tudo isso já está no próprio título "Eu e o fogão: inimigos mortais" Grandes inimigos se respeitam e procuram tirar o melhor de si para que não se deixe vencer pelo outro kkkk
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Olha, cozinha bonita é um charme. Nem que seja só pra ver... depois vc aprende a sobreviver e será o suficiente... hehehe

    Um abraço
    Rafaela

    Neste final de semna
    Se você faz o que todo mundo...
    Muito prazer - campeões mundiais de vôlei de praia
    Super liga masculina - Brasil vence e perde dos EUA
    http://apenasumpontoesportivo.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  9. Bela postagem Tânia!! Nem sei se você cozinha bem ou não, mas, se for pra escolher continue escrevendo que seus textos são muito nutritivos. Bjs

    ResponderExcluir