domingo, 27 de maio de 2012

Amargurada por causa de um traste


"Vi o seu blog e lá encontrei seu e-mail, e por isso resolvi escrever por aqui, porque não tive coragem de escrever lá. Tenho câncer de mama e desde que fiquei doente meu marido me despreza, pois todas as vezes que ele quer carinho eu não tenho ânimo para namorar. Portanto sou desprezada e o desprezo dói mais que o câncer. Ele vive dizendo que está cansado disso e que vai acabar me largando. Me isolei do mundo, às vezes estava conversando com as pessoas e esquecia o que estava dizendo elas riam na minha cara e até meu marido ri de mim, fala que eu estou bichada. Eu me odeio, eu não sou gente, me sinto um monstro, feia, semblante caído, ridícula etc,etc…. Não sei mais o que fazer. Bjs."

Caramba... Por onde começar? Bom, começo dizendo que a publicação do e-mail acima acontece com a devida autorização de quem o enviou pra mim. 

Estou desde ontem tentando encontrar as palavras certas pra ajudar de alguma forma e não sei se vou conseguir, mas vamos lá. Temos aqui a delicada situação de uma pessoa extremamente fragilizada por uma doença naturalmente complicada, agravada pela clássica e cruel interferência de um traste. 

Parece inimaginável que alguém possa passar por isso, justamente num momento tão difícil. Mas, infelizmente, o resultado das péssimas escolhas que alguém faz no decorrer da vida não tem hora pra se manifestar. Ou melhor, tem sim. É bem no meio do perrengão que se descobre quem é quem de verdade e paga-se o preço por isso.

Legal é que no meio de um bom sufoco a gente se dá conta do tantão de coisas importantes que precisam ser definitivamente aprendidas. E que não importa se a escolha foi boa ou não, sempre é possível mudar tudo e recomeçar de outro jeito. O pulo do gato é transformar uma situação cascuda na melhor oportunidade que se tem pra evoluir.

Neste caso, particularmente, acho muito importante saber separar as coisas e estabelecer prioridades. Câncer exige dedicação e objetividade. Comece arregaçando as mangas e cuide de si mesma (se possível, cuide SÓ de você agora). Não há outra forma de enfrentar isso, se não for bem egoísta nessa fase de sua vida. Então, perceba: quem está doente é VOCÊ, não ele; por isso, faça valer seu direito de receber carinho e atenção agora. Se ele não consegue entender sua condição, se não sabe se doar nessa hora, problema dele. Comece a entoar um mantra poderosíssimo logo que abrir os olhos todas as manhãs: "fooooooda-se!". E mentalize o mesmo mantra sempre que precisar encarar qualquer pessoa que não consiga compreender sua situação atual. É feio, eu sei. Mas funciona que é uma beleza!

Com ou sem câncer, jamais admita falta de respeito. "Bichada" (ah, mas eu queria que alguém tivesse o topete de falar isso pra mim!...) é a índole de quem não consegue se colocar no lugar do outro, não ajuda em nada e, ainda por cima, faz questão de atrapalhar. Francamente, hein?! Mas, fique atenta: a gente sempre atrai pra nossa vida aquilo com o que nos sintonizamos. Enquanto você não estiver pronta pra se compreender e agir de forma totalmente honesta e corajosa, continuará atraindo só gente lamentável pras suas relações. 

Portanto, comece desde já. Onde é que já se viu tratar a si mesma com tamanha desvalorização? "Me odeio, não sou gente, me sinto um monstro...". Deus do céu! Olha só:

1. Ninguém escolhe ficar doente, você não tem culpa nenhuma por isso. Acontece com qualquer um, a qualquer hora;

2. O tratamento maltrata sim, mas há um montão de coisas fáceis e baratas que você pode fazer pra minimizar o estrago. Aqui e em muitos outros blogs e sites há dicas bem legais pra melhorar a estética nessa fase;

3. Faça um favorzão à sua mente e mantenha-se ativa, seja com exercícios físicos, trabalhos manuais, sei lá mais o quê. Assim terá menos tempo pra sentir pena de si mesma e, de quebra, favorecerá bastante sua recuperação física;

4. O emocional fica bem abalado, claro, especialmente num caso assim, onde além de lidar com a doença há também a convivência com um péssimo parceiro (que tal começar a pensar em se livrar dele? Vale o velho ditado: antes só do que mal acompanhada). Uma ótima ideia seria procurar um profissional sério - psiquiatra, psicoterapeuta etc - pra auxiliar na busca por novos caminhos. Caso não possa pagar, é possível encontrar atendimento gratuito nas grandes universidades, além dos grupos de apoio que se reúnem em diversos hospitais. Em São Paulo, por exemplo, tem o Grupo de Apoio Amor à Vida, do Hospital A.C. Camargo, que realiza um trabalho fantástico com pacientes de câncer e seus familiares (informações AQUI).

Bom, agora você já sabe o que pode fazer... SE SACUDA, MINHA FILHA!!!

Um comentário:

  1. Infelizmente, casos como estes são cada vez mais comuns. Sábias palavras as suas.

    ResponderExcluir