domingo, 13 de dezembro de 2009

Uma velhinha que não sossega!

Agora no final do ano, sem mais nem menos, me deu um estalo e resolvi que queria voltar aos bancos escolares. Fiquei a fim de me aventurar numa nova profissão. Sem titubear e também sem nenhum preparo, a velhota aqui se inscreveu pra dois vestibulares. O curso escolhido: Direito. De repente, me deu vontade de conhecer profundamente as leis e, muito especialmente, meus próprios direitos. Cansei de tomar chapéu como consumidora e de ser desrespeitada em situações corriqueiras, então achei que seria legal entender melhor desse babado.




É engraçado como o tempo vai trazendo tranquilidade pra gente... Há poucos anos atrás eu tremia só de me imaginar no meio da garotada, deslocada e, talvez, ridicularizada até. Me dava a maior aflição a certeza de ficar horas sentadinha ali, ouvindo professores e aquele blablablá todo, me programando pra fazer trabalhos, estudando pras provas. Mas agora, depois de um tempão sem contato com essas coisas, me senti bem demais fazendo os vestibulares. Foi como se eu nunca tivesse me afastado das aulas, tive a nítida sensação de que estava sim no lugar certo e que aquela era mesmo a hora exata.



Sem compromisso com nada, nem com ninguém, desencanei geral e resolvi que não ia estudar. Fiz um pacto comigo mesma e achei que o legal seria encarar o desafio de rever só na hora questões com as quais eu já não tinha contato há mais de 30 anos, quando terminei o ensino médio. Lógico que a possibilidade de não ser aprovada me deixou um tantinho apreensiva, afinal já conquistei o respeito que gostaria dentro da minha área, me sinto totalmente segura fazendo meu trabalho. Mas na minha cabeça só passava uma coisa: dane-se!



Caneta, lápis e borracha em mãos, lá fui eu fazer as provas. Dia de vestibular é uma loucura, a entrada das universidades se transforma numa confusão só, eu já nem me lembrava mais disso. A primeira coisa que precisa ser vencida é o povão entregando planfletos de toda espécie: propaganda de cursinhos, transportes, repúblicas, papelarias e sei lá mais o quê. Aí pensei: caramba, ninguém vai me entregar nada, vão achar que a véia gagá aqui é professora, funcionária da universidade, dona da cantina, inspetora, faxineira, enfim, qualquer coisa, menos vestibulanda, né?! Que nada! Na hora sobra pra todo mundo, então quando cheguei à sala que iria fazer a prova, tinha papelzinho atá na orelha!

Legal, fiquei aliviadíssima por ser reconhecida como vestibulanda. Na entrada da sala, então, rejuvenesci 20 anos quando o garotão que conferiu minha identificação indicou: "Tânia, VOCÊ vai se sentar na carteira 73, tá?". Puxa vida, ele não me chamou de senhora! Ahaaaá, não tô tão mal de "visu"!... O castelo de areia foi desfeito num instantinho, bastou apenas a gatinha aqui precisar colocar os óculos pra conseguir enxergar o número da carteira. Numa colaboração imediata e totalmente dispensável, o mesmo garotão da porta alertou, em milhões de decibéis: "Tânia, o 73 está na penúltima fileira!". Xiu! Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuu!!!!!!! Eu encontro, seu miserável!



Devidamente sentadinha, entrei no climão do pessoal. Maior tensão até que as provas fossem distribuídas. Finalmente lá vem a "marvada". Alívio, nos dois vestibulares tudo começou com o bom e velho português, que por força da profissão e também por gosto pessoal, domino com relativa tranquilidade. Nessa última prova, porém, balancei bastante. As questões de todas disciplinas tinham enunciados enormes e alternativas cheias de pegadinhas, fiquei bem confusa. Mas entrei em parafuso, mesmo, quando olhei as questões de física e da tenebrosa matemática. Aquilo, pra mim, era aramaico. Eu simplesmente não sabia nada. Nada, nada, NAAAAAADA!!! Mas era um nada tão coisa nenhuma, que eu não conseguia sequer chutar. Aí me lembrei da dica do meu filho: se eu não soubesse resolver, o melhor seria repetir sempre a mesma letra no gabarito, evitando, assim, errar todas. Mandei bala e coloquei tudo "c". Nem lia mais, era "c" e pronto. Mesmo desencanada com a coisa toda, saí das duas provas com a cabeça explodindo e ansiosa pelo resultado.



No primeiro vestibular tive um rendimento razoável, que já me deixou bastante satisfeita. No segundo, numa universidade mais concorrida e com uma prova mais complicada, me surpreendi bastante comigo mesma. Acertei todas as questões de português, literatura, geografia e história. TODAS! Na de física, foi por um triz. Biologia e química, idem. E a matemática, aquela maldita? Hum... Consegui errar tudinho, zerei total! Burra e azarada, ainda por cima. Também, nunca vi maior economia de "c"!



Muita gente há de discordar, mas cheguei à conclusão que saber a tabuada (com ajuda dos dedos da mão, claro) é suficiente pra uma pessoa sobreviver. Como é que um cérebro normal pode se lembrar (ou simplesmente ter compreendido algum dia) do Teorema de Banach-Schauder, por exemplo? Ou da demonstração de Furstenberg sobre a infinitude dos números primos? Ah, vai te catar!



Então, é isso. Encerro 2009 com essa experiência gostosa, revivendo um tempo que eu já dava por encerrado na minha vida. E o mais importante: começo 2010 como universitária de novo... Fui aprovada nos dois vestibulares! U-huuuu!... Peraí que já já vai ter velhinha na sala de aula!

5 comentários:

  1. Que legal! Parabéns minha linda, nunca é tarde para voltar a ser uma universitária novamente. Estou feliz por você, por que você é uma das poucas pessoas que tenho observado que tem uma inteligência ativa e é uma pessoa forte e determinada. beijos e muito sucesso na sua nova jornada.

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  2. Parabéns, Tânia! Como a Eudes falou, também acho que nunca é tarde para se conhecer mais coisas. Foi-se o tempo em que havia limites para estar numa sala de aula. Estou muito orgulhosa por você e também lhe desejo muito sucesso nessa nova empreitada. Bj!

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  3. Simplesmente ... fantasticamente inspirador!

    Estou muuuuuuuuuito feliz por ti.Parabéns mesmo!

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  4. Beleza. parabéns por nao ser uma velhinha brocha! Pela sua massa encefálica estar tinindo etc. etc.etc. Blá blá blá...mas...mas...mas...kcete! DIREITO???????Eu o-d-e-i-o advogados! É pós-conceito tá? E a essa altura da minha gagazice você me obriga a rever conceitos???? Só espero não descobrir que existe uma fascista carcamana dormitando no seu eu interior! Kkkkkkkkkkkk Faça um favor a
    `a humanidade: Sacode o cerebelo daquela molecada! Nao deixe pedra sobre pedra! Comemoremos.

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  5. EUDES: Obrigada pelo apoio. Sabe, também sempre acreditei que nunca é tarde pra se aprender qualquer coisa que seja. Mas daí a ter coragem e disposição de começar tudo outra vez numa universidade foi meio complicado. É por isso que digo que o tempo traz tranquilidade pra gente. Hoje me sinto muito bem fazendo essa escolha, sei que agora poderei aproveitar bastante essa nova etapa que eu mesma estou inventando pra minha vida. Recomendo!

    HELENA: Também agradeço pela força, viu? É verdade, também tenho a impressão de que o preconceito em relação à idade pra se fazer uma porção de coisas está ficando ultrapassado. Que bom, né?

    ERALDO: Que bom te ver por aqui de novo. E ainda mais feliz com a sua vibração, obrigada! Então, espero mesmo que minha iniciativa inspire muitas outras pessoas. Se a gente parar pra pensar em como a vida é curta e o tantão que há pra se conhecer, o melhor é não perder tempo, não é não?

    ROSE: Bom... Nem tããão velhinha... Talvez um pouco brocha... kkkkkkk!!!! Olha, preciso ser sincera em admitir que também tenho muitas restrições em relação a advogados. Muito especialmente por sentir no bolso o efeito de algumas decepções que essa turma já me causou. Acho que é por isso mesmo que me deu vontade de caminhar com minhas próprias pernas. Sei lá se na prática isso me fará alguma diferença depois, mas cismei que preciso ver de perto. E lá vou eu. É isso, comemoremos!

    BEIJOCAS PRA TODOS!

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