domingo, 6 de abril de 2008

Abusos na informação e na opinião

Já há um bom tempo tenho ficado perplexa diante da conduta de certos colegas jornalistas e, de quebra, com a avidez da massa por tragédias. Especialmente agora, com a chocante morte da menina Isabella Oliveira Nardoni, nos deparamos mais uma vez com a absoluta falta de ética dos profissionais da notícia e dos veículos de comunicação. Parece que o compromisso fundamental do jornalista em estabelecer imparcialmente a verdade dos fatos está completamente esquecido.

A corrida pelo "furo" tem levado os veículos de comunicação a atropelar o senso de moral e de justiça, submetendo sem dó nem piedade pessoas envolvidas em fatos que mudarão radicalmente suas histórias à implacável opinião pública. E o povo não deixa por menos: corresponde plenamente à confusão de informações e sem critério algum, se dá ao trabalho de sair de casa para execrar pessoas que sequer foram julgadas.

Justamente por se deixarem levar pela mídia sem nenhum interesse de análise, pessoas que fazem plantões em portas de delegacias para satisfazer sua mórbida curiosidade e humilhar suspeitos com berros de "assassino!" também estão cometendo um crime, caracterizado como calúnia no Código Penal (Art. 138). Não pretendo aqui defender nem acusar ninguém, isso cabe à justiça. Falo como jornalista e mãe. No exercício da minha profissão, sempre fiz questão de não atender a interesses escusos que geralmente caminham em sentido contrário ao Código de Ética que rege a conduta moral e legal do jornalista. A responsabilidade de formar opinião é imensa e muda de maneira irreversível o curso da história. Considero extremamente rídicula e inconseqüente a exploração das tragédias alheias por programinhas de TV que sobrevivem às custas de merchandising, por exemplo. Esses colegas que me perdoem, mas acho que lhes falta dignidade.

Penso que como eu, todo jornalista tem família e não gostaria de ver sua tragédia pessoal exposta de maneira tão lamentável, exagerada e muitas vezes enganosa. Noticiar sim, mas com a reserva necessária para se evitar ferimentos ainda maiores que a vida já impôs às pessoas envolvidas, sejam suspeitos de um crime ou seus familiares. Há que se preservar o direito que toda pessoa tem de chorar por seus mortos e assimilar suas perdas.

6 comentários:

  1. Concordo em gênero, número e grau. Na verdade não dará em nada. Como não deu a morte do menino japonês. Como não deu a morte da casalzinho do Champinha. A Imprensa é holofote. Apagada as luzes, nada resta. Beijão!

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  2. Concordo com sua opinião. Parece que quanto mais recursos se tem, menos fiel vai ficando a informação. E também concordo com o Sylvio Micelli, acho que esse negócio também não vai dar em nada. Estamos no Brasil! Tânia, parabéns pelo blog, muito sucesso.

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  3. Olá!!!

    Esse é o resultado de uma não-formação crítica da sociedade. Em muitas instituições de ensino existe uma falsa bandeira onde se lê "aqui se formam cidadãos críticos". Mas, onde estão esses cidadãos??? É claro que não podemos generalizar - nem as pessoas e nem as instituições.

    Se houvessem mais pessoas com criticidade aguçada e, principalmente, que não cultuassem a barbárie, talvez teríamos uma televisão diferente, um jornal diferente e, claro, uma web diferente.

    O que torna ainda mais patética toda essa divulgação e pré-julgamento, é quando um determinado veículo da mídia, tenta se mostrar parcial - depois que houve a execração. Ora, sabemos que, depois que se "darrama o leite", não há muito o que se fazer para reparar o erro - se for o caso.

    Prá finalizar, conheço algumas pessoas que são "preocupadas" em ter opinião formada e que dizem não se deixar influenciar pela mídia mor.
    Só que fazem da seguinte forma:
    Lêem a revista Veja - que eles consideram a revista mais parcial e "comprada" - e depois apenas aplicam o antônimo, codificando ao contrário, ao avesso, tudo o que foi lido.
    Será isso criticidade? Opinião desalienada?

    Não quero aqui fazer uma mea culpa, mas ainda bem que temos grandes jornalistas no Brasil - que muitas vezes não são reconhecidos (o que é lamentável). Mas eles estão lá, como correspondentes de guerra, no front, lutando duramente contra a banalização e a mercantilização da informação.

    Parabéns aos jornalistas que por aqui passaram. E, claro, parabéns à Tânia, da qual sou fã!!!

    Agora sim, uma mea culpa:
    peço desculpas pelo modesto comentário; não sou jornalista e nem tenho curso superior. Aliás, tenho um Ensino Médio bem vagabundo. Apenas me sinto atraído pela temática.

    Beijos

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  4. Legal essa interatividade, acho importante que outros pontos de vista sejam expostos aqui e agradeço pela participação.

    É, Sylvio, infelizmente concordo com você: não acredito que esse caso tenha uma conclusão satisfatória, assim como os demais que citou. Só o que deverá permanecer são as marcas na vida das pessoas envolvidas.

    Também concordo com o Fernando quando diz que apesar dos recursos tecnológicos atuais há uma banalização na informação. No mesmo dia, por exemplo, é comum ver a mesma notícia com dados tão diferentes, inclusive no mesmo veículo. De manhã a pessoa tem uma idade, à tarde tem outra e por aí vai. Lamentável isso.

    É isso mesmo, Roland, também acho que as pessoas estão abrindo mão de algo fundamental na vida de qualquer um, que é o poder de análise.

    Infelizmente a morbidez é uma característica apreciada pela imprensa, já que é garantia de audiência. De forma geral não critico essa postura, já que os veículos de comunicação e seus profissionais precisam sobreviver como todo mundo. Mas sou enfática em não concordar com a informação distorcida, exagerada e mentirosa. O compromisso com a ética e a verdade deveria ser elementar para qualquer profissional da área.

    Concluindo, visão crítica e poder de análise não são inerentes apenas às pessoas com boa formação acadêmica. Se como você outros também fizessem uso do bom senso e do direito que têm à informação honesta, teríamos uma sociedade menos alienada e acredito que poderíamos viver num país bem melhor.

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  5. Não flaou nada mais que o que deveria estar fixado na cara de cada um que assiste a esse "Show" q a midia promove as custas do sofrimento dos outros... Um dia desses uma menina me veio pedir pra colocar uma florzinha no nick do msn em nome da menina... fiquei muito bravo com a situação, eu acho q a mídia deveria parar de querer impor uma opnião e apenas divulgas as coisas como são!

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  6. Concordo com todos, tanto que abordei este tema no meu blog, a sociedade é injusta, e a mídia colabora.

    :*

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