quarta-feira, 23 de abril de 2008

Certo ou errado?

Quando comecei minha terapia há alguns anos atrás por causa de uma depressão severa, logo de cara entendi algo que passou a ser uma nova maneira de pensar para mim e procuro aplicar no meu dia-a-dia. Tentando demonstrar minha boa vontade e disposição em absorver o máximo que o tratamento poderia me proporcionar, fui logo dizendo à psicóloga: "Não posso continuar assim, tenho que melhorar". Fui imediatamente interrompida: "Você tem ou quer?".

A diferença entre "ter que" alguma coisa e querer algo é gigantesca. No caso do meu tratamento, "ter que melhorar" significava fazer isso por obrigação, porque o "certo" seria não estar deprimida, era o que todos esperavam de mim. Mas querer melhorar significava fazer isso por mim mesma. Vi que até aquele momento eu estava apontando o dedo na minha própria direção, me cobrando um comportamento que estaria dentro do que se convencionou ser o mais certo.

Aprendi com isso que ninguém "tem que" coisa nenhuma. Afinal, quando se diz que alguém tem que fazer algo, é porque acreditamos estar indicando o caminho que consideramos o correto. Mas afinal, o que é certo e o que é errado? Parece óbvio e aceitável que aquilo que é certo para mim pode não ser para os outros. O que acredito ser o bem e a verdade, para outra pessoa pode significar exatamente o contrário, a negação de tudo, a antítese.

Insistir em estabelecer um conceito como absoluto é ser maniqueísta. O maniqueísmo é uma forma de pensar simplista em que o mundo é visto como que dividido em dois: o do bem e o do mal. A simplificação é uma forma primária do pensamento que reduz os fenômenos humanos a uma relação de causa e efeito, certo e errado, isso ou aquilo, é ou não é. A simplificação é entendida como forma deficiente de pensar, nasce da intolerância ou desconhecimento em relação a verdade do outro e da pressa de entender e reagir ao que lhe apresenta como complexo.

Conceitos de certo e errado são relativos e bem individuais. Numa aula de filosofia, por exemplo, o professor me surpreendeu com a pergunta: "Você mataria uma pessoa?". Ao que imediatamente respondi: "Claro que não!". Ele quis saber porquê e esclareci que isso não era certo. "Por que não é certo?", questionou o professor. Respondi o óbvio: "Oras, porque isso é um crime". A partir daí ele nos fez pensar que o assassinato, por exemplo, é considerado um crime porque assim determina a lei. E a lei foi formulada por alguém que considerou que essa é a verdade, determinando, portanto, o comportamento "certo". Leis, em geral, são formuladas com base em interesses específicos, que ditam formas de agir de acordo com as conveniências de quem as criou. Sem dúvida viver sem elas seria impossível, uma anarquia social insuportável. Tudo isto nos leva a considerar que há dois níveis de certo e errado e de bem e de mal: o nível dos costumes e das leis, ou seja o nível das convenções; e o nível da ética. Por isso acredito que a melhor resposta que eu poderia ter dado ao professor naquele dia é a mais simples e verdadeira para mim: não mataria outra pessoa porque reconheço que a vida dela é importante, tal como a minha.

Enfim, acho que acima de convenções e da moralidade, o limite entre o certo e do errado está no bom senso, em procurar dizer ou fazer coisas que mesmo absurdas aos olhos alheios nos satisfaçam plenamente, mas que, ao mesmo tempo, não causem prejuízo a ninguém.

2 comentários:

  1. É verdade, nem sempre o que nos parece certo é certo para o outro. É fácil apontar o dedo para alguém e condenar. Já condenei e fui condenada também, mas a vida foi me ensinando que precisava ser mais tolerante e aceitar outras maneiras de pensar e fazer as coisas. Bj!

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  2. Já dizia o ditado: "Não faça com os outros, o que não gostaria que fizessem com você" e isto implica o óbvio, qualquer coisa que você considera errado ao seu respeito, deve considerar errado se feito com os outros. Como você mesmo citou tia, a vida do outro é tão importante quanto a nossa, fato este, que logo de cara eu paro pra pensar sempre que estou numa situação que envolve outras pessoas, e com isso não tomo decisões precipitadas e maldosas, mesmo que em certas ocasiões a pessoa oposta mereça, mas como eu acho errado pra ser feito comigo, me coloco no lugar dos outros, e tomo a decisão mais sensata, que seria o "certo", já virou uma meta de vida, e creio que isso deveria ser idealizado por todos, não havendo assim tantos problemas sociais.

    Beijão tia :*

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